OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman



O avanço científico e tecnológico, infelizmente, não tem sido acompanhado de avanços na consolidação de valores virtuosos e nas condutas éticas da nossa sociedade, que são promovidas principalmente através da educação. A ânsia de poder da maioria de nossos políticos, o individualismo e a intolerância envenenam o convívio saudável nas relações humanas.



O filósofo Immanuel Kant, ainda no século 18, já ensinava que o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele. Assim, ninguém pode imaginar uma sociedade justa e feliz sem uma educação de qualidade, que é o melhor caminho para alcançarmos uma sociedade plural onde todos terão as mesmas oportunidades e onde todos se respeitem.



As fórmulas para a obtenção de uma educação de qualidade são conhecidas, começando com a formação adequada e a valorização do professor. Outras dimensões são igualmente importantes, como a adequação de conteúdos e de pedagogias para se alcançar os objetivos de cada nível de ensino.



A infraestrutura e o ambiente escolar devem acompanhar os progressos das tecnologias de comunicação e informação, assim como a gestão deve ser eficiente. Os jovens que recebemos atualmente na escola demandam uma metodologia diferenciada e uma relação respeitosa entre o educador e o aluno. A educação, em todos os níveis, sempre esteve presa a parâmetros: salas de aula, calendário escolar, grade curricular e modelos pedagógicos centrados no professor.



Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador que estimule a criatividade, a crítica argumentada, a iniciativa e, sobretudo, a construção de valores da cidadania. Essa nova pedagogia deverá privilegiar algumas aptidões nos primeiros anos da educação escolar: saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar, pensar, relações respeitosas entre seres humanos e respeito pela natureza.



Sem a exclusão de atividades individuais, as atividades de interação e o trabalho em equipe deverão ser estimulados, através do desenvolvimento de projetos com objetivos claros. As atividades artísticas, culturais e esportivas deverão ser incentivadas respeitando-se as tendências e as sensações individuais dos alunos. Precisamos fazer uma reengenharia da escola e torná-la um lugar agradável, lúdico e encantado.



Experiências exitosas na educação brasileira devem ser divulgadas e expandidas como instrumento importante na revolução da educação brasileira. Temos que decidir agora qual país legaremos aos nossos descendentes. Se nada fizermos, continuaremos a ser um país explorado pelos predadores do mundo financeiro e continuaremos a ter uma sociedade com graves injustiças sociais, com índices assustadores de violência, com total desrespeito ao próximo e com outras mazelas que temos no presente amplificadas.



O futuro da educação está em nossas mãos. Precisamos colocar a educação de uma vez por todas como a prioridade das prioridades. A hora é agora. A conquista de termos uma educação pública de qualidade –desde a educação infantil até a pós-graduação– e acessível a todos é a melhor forma de consolidarmos a nossa democracia. É pertinente lembrarmos o pensamento do mestre Anísio Teixeira: "só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública".



É também pertinente lembrar as palavras de Fernando Pessoa: "há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia. E, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".

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