RODA DE CONVERSA

Ciclo de debates "Precisamos falar sobre" reúne academia e participação popular na discussão de questões sociais

Evento na BCE trouxe reflexões sobre mulheres. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Há um ano, os pais e as irmãs de Louise não podem abraçá-la no café da manhã. Há um ano, colegas de curso também não compartilham livros e sorrisos com Louise. Há um ano, a jovem de 20 anos perdia a vida para a brutalidade de um homem. “Eles dizem matar ‘por amor’, elas morrem de feminicídio.” Essa foi uma das mensagens da primeira edição do projeto Precisamos falar sobre, promovido pela Biblioteca Central da UnB (BCE), com a temática corpo, violência e feminicídio. O evento que aconteceu na manhã desta sexta-feira (10) integra a programação da semana da mulher na UnB e marca a data do crime contra a estudante de Biologia.

 

A pesquisadora Sinara Gumieri, a ativista transexual Melissa Massayuri e a cantora Ellen Oléria foram as convidadas desta roda de conversa. A reitora Márcia Abrahão abriu a atividade reafirmando que o dever da Universidade é buscar soluções para desafios sociais e sinalizou a estruturação de um conselho consultivo para integrar políticas de direitos humanos, raça e gênero na UnB. Enquanto isso, um recorte de nomes, formas de violência, datas e cidades em que 100 brasileiras foram mortas entre 2016 e 2017 era exibido indicando a abrangência nacional de feminicídios.

 

Segundo Gumieri, pesquisa realizada no Distrito Federal pelo Instituto de Bioética – Anis, com dados de 2006 a 2011, indica que 80% das mulheres assassinadas naquele período eram negras e que 44% das vítimas tinham filhos em comum com o matador. “No DF e no Brasil, a mulher não morre só por ação de terceiros, mas também pela omissão do Estado. Esse tema precisa ser conhecido por todos e pensado conjuntamente. Por isso é fundamental que essas questões estejam inseridas, desde cedo, na pauta das instituições de ensino”, afirmou.

 

Melissa Massayuri reforçou que a violência contra mulheres trans também é caracterizada pela invisibilidade social da classe e pela desatenção estatal. “Há falhas desde o registro de boletins de ocorrência. Só queremos que as leis nos cubram com o manto da Justiça.” Ao se posicionar como mulher, negra, lésbica, gorda e da periferia, a ex-aluna de Artes Cênicas da UnB e cantora Ellen Oléria diz buscar correntes de afeto e questiona: “Que vida vale mais?”.

 

“A biblioteca é espaço para construção e compartilhamento de conhecimentos. Por isso, deve se associar a essas discussões coletivas sobre temas de relevância social”, afirma Fernando Leite, diretor da BCE. A atividade deve se repetir semestralmente, com temas diversificados.

Sophia Costa, idealizadora da exposição Raízes. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

EXPOSIÇÃO RAÍZES – De hoje até dia 18 de março, a exposição fotográfica Raízes estará aberta a visitações no hall da BCE. Produzida pela publicitária Sophia Costa, como projeto de conclusão de curso, a mostra representa 12 mulheres negras como deusas, rainhas e guerreiras. “Este é um projeto-manifesto sobre o papel do cabelo na construção da identidade da mulher negra. O cabelo sempre foi algo conflituoso na minha vida e na de muitas outras mulheres. Mas, na verdade, deve ser tratado como ferramenta de empoderamento feminino.”

Raízes pode ser visitada das 7h às 23h45, de segunda a sexta-feira, e de 8h às 17h45, nos finais de semana. Entrada franca.

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.