DIVERSIDADE

Especialistas e militantes reúnem-se nesta quarta (20) para discutir os 30 anos do movimento de mulheres negras e propor avanços na promoção dos direitos humanos. Inscrições abertas

 

Ativistas avaliam atuação contra o racismo durante Fórum Permanente de Mulheres Negras no Fórum Social Mundial 2018. Foto: Isabel Clavelin/ONU Mulheres

 

Racismo, falta de representatividade, desigualdade social, violências, limitações ao acesso de políticas públicas, exploração, incompatibilidade salarial, menores oportunidades de trabalho, baixa escolaridade. Apesar de as mulheres negras totalizarem 55,6 milhões de brasileiras – ou seja, praticamente um quarto da população nacional –, esses são apenas alguns dos estigmas que denunciam a realidade e a vulnerabilidade social a que estão submetidas. Acima de tudo, o panorama evidencia os inúmeros desafios para garantir melhorias na qualidade de vida dessas populações.

 

Discutir estratégias para enfrentamento ao racismo e às desigualdades de gênero é uma das prioridades do encontro Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o racismo e a violência e pelo bem viver. A Universidade de Brasília recebe a atividade nesta quarta-feira (20), das 14h às 19h, no auditório da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), no campus Darcy Ribeiro. A UnBTV fará a transmissão ao vivo via Facebook.

 

Promovido pela ONU Mulheres e pelo Comitê de Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030, em parceria com a Reitoria da UnB, o Decanato de Extensão (DEX), a Diretoria de Diversidade (DIV/DAC) e a Embaixada do Reino dos Países Baixos, o evento também discute o Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos: contra o racismo e a violência e pelo bem viver – mulheres negras movem o Brasil pelas vozes das ativistas, que ocorrerá em Goiânia, no final deste ano. A deputada federal Benedita da Silva, a representante da ONU Mulheres Negras, Nadine Gasman, e a integrante do Cone Sul da Rede de Mulheres Negras Afro-latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora, Rosario de los Santos, estão entre as convidadas do encontro na UnB. A atriz, escritora e defensora dos Direitos das Mulheres Negras da ONU Mulheres, Kenia Maria, também estará presente.

 

Celebrados ao longo de 2018, os 30 anos da articulação política do movimento de mulheres negras é o assunto que norteará os painéis e debates previstos na programação. Ativistas, autoridades e especialistas negras também abordarão os resultados de ações políticas para combate ao racismo e machismo no Brasil e suas influências na América Latina, além das oportunidades e desafios às mulheres negras para a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), traçados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para orientar as políticas de países cooperados.

 

“Revisitar essa trajetória de 30 anos é reconhecer o percurso político do movimento de mulheres negras e ver como o racismo, o sexismo e outras formas de opressão têm impedido que as mulheres negras possam exercer sua cidadania e seus direitos em totalidade”, afirma a representante da ONU Mulheres, Nadine Gasman.

 

Para a reitora da UnB, Márcia Abrahão, o fortalecimento da parceria entre UnB e ONU Mulheres contribui para consolidar uma pauta de grande importância para a comunidade acadêmica e para a sociedade. “Dar visibilidade às mulheres negras – que são estudantes, docentes, pesquisadoras, mas também trabalhadoras, chefes de família – é essencial para que possamos enfrentar o racismo e a desigualdade de gênero”, considera.

 

As inscrições para o encontro estão abertas até 19 de junho e serão realizadas pelo Sistema de Extensão (Siex). Os interessados devem acessar a página, fazer o login e digitar no campo Título Ação o nome do evento ou a palavra-chave mulheres negras. Ao aparecer o evento, basta clicar em inscrição e confirmar a participação. A atividade tem vagas limitadas.

 

MAIS HUMANA – Reduzir as desigualdades raciais e de gênero no ambiente acadêmico e, consequentemente, na sociedade, além de promover o respeito e a cidadania, com inclusão e diversidade, são alguns dos princípios defendidos pela campanha institucional UnB Mais Humana.

 

Pautada sobre o marco dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a iniciativa prevê uma série de agendas de debates, além da formulação de políticas e ações para fortalecimento da dimensão humana da Universidade. Os Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 estão inseridos nesta programação. “Trazer essas discussões para dentro da Universidade demonstra o nosso compromisso com a promoção dos direitos humanos e das mudanças que ainda precisam ser alcançadas”, reforça a reitora Márcia Abrahão.

 

>> Veja a programação do Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50

 

MAZELAS – Indicadores sociais evidenciam como o abismo racial no Brasil traz consequências, em especial para as mulheres negras. O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2017, mostra que, entre mulheres de 15 e 29 anos, as negras têm mais que o dobro de chances de serem assassinadas do que as brancas. Outro dado, desta vez do Disque 180, aponta que 58,8% das vítimas de violência doméstica são mulheres negras. O grupo também é maioria quando se trata de casos de violência obstétrica (65,9%), segundo a Fundação Oswaldo Cruz.

 

As dificuldades de ascensão social são outro obstáculo enfrentado pela população negra feminina, também reflexo, entre outros fatores, das diferenças salariais. A renda média delas corresponde a 40,9% da remuneração de homens brancos. A existência de disparidades é ainda sintomática no que tange o nível de escolarização: apenas 10,4% das negras entre 25 e 44 anos concluíram o ensino superior, número duas vezes menor quando comparado ao quantitativo de mulheres brancas graduadas (23,5%), de acordo com estatísticas do IBGE.

 

Nesse sentido, a ONU Mulheres tem se articulado a outras instituições, como a UnB, na construção de estratégias para a promoção dos direitos humanos para a população negra feminina. A atividade do dia 20 está alinhada às políticas da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) e da iniciativa global Por um Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero, todas propostas pela ONU. 

 

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