Dois calouros, dois veteranos, um centro acadêmico, uma partida de sinuca nada convencional e uma aposta contra os recém-chegados: se perderem, são expulsos do espaço. A descrição, que poderia compor o dia a dia de qualquer acadêmico na Universidade, é o roteiro de uma ficção que estará em breve nas telonas do Cine Brasília. Sinucada é título de uma das produções da UnB que estarão na 51ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com início nesta sexta (14).
O mais tradicional evento de cinema da capital federal conta com vasta programação, em 13 regiões administrativas do Distrito Federal, até 23 de setembro. Neste ano, além de estar representada com produções na Mostra Brasília e no Festival Universitário de Cinema de Brasília (FestUni), a Universidade organiza e sedia parte das atividades em dois de seus campi.
Diretor do curta-metragem Sinucada, o estudante de Audiovisual Rafael Stadniki busca, pela segunda vez, angariar prêmios no festival. A primeira foi no ano passado, com o filme Habilitado para Morrer, realizado com a empresa júnior da Faculdade de Comunicação (FAC) Pupila Audiovisual.
Desta vez, o graduando concorre ao Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal na Mostra Brasília, com uma comédia em referência às experiências vividas no Centro Acadêmico de Comunicação (Cacom), onde o filme se ambienta. “É uma fábula sobre o contentamento inicial de quando você chega à Universidade. Parece tudo lindo e maravilhoso, mas você fica com medo de desapontar os seus veteranos”, explica.
A ideia do curta surgiu em 2016, durante as aulas da disciplina Linguagem Cinematográfica Audiovisual. Para a realização, a equipe, formada exclusivamente por universitários, contou com o apoio da faculdade, além de orçamento restrito de R$ 350.
O mesmo grupo foi responsável por outros projetos de destaque no campo do audiovisual. É o caso da websérie Arena, selecionada neste ano para participar do Melbourne WebFest, evento internacional, na Austrália, dedicado à categoria. Experiências da vida acadêmica também são o pano de fundo da produção, que já tem segunda temporada prevista.
Surpreso com a seleção no Festival de Brasília, Stadniki acredita que o evento estimula a projeção de jovens cineastas. “Às vezes, temos a noção de que a produção audiovisual universitária está aquém da produção do mercado de Brasília. Mas vendo o que conseguimos e os prêmios que amigos de outros semestres vêm galgando, acredito que a nossa produção tem qualidade”, aposta. Sinucada será exibido na sexta-feira (21), às 18h, no Cine Brasília.
MAIS UnB – Outro dos indicados à Mostra Brasília, Noroeste, filme de Lucas Ferreira Gesser, traz ao espectador uma abordagem sensorial de experiências rotineiras vivenciadas por quem circula ou vive no homônimo bairro brasiliense. Nas palavras de Lucas, egresso da graduação em Audiovisual e estreante como diretor, a proposta do curta-metragem é justamente “dar visibilidade ao cotidiano das ‘pessoas invisíveis’ do bairro: os indígenas e os operários”.
Resultado de seu trabalho de conclusão de curso, apresentado em 2016, o filme surgiu da colaboração com o roteirista Vinícius Januzzi, à época mestrando em Antropologia na UnB, além das orientações da professora da FAC Dácia Ibiapina.
Em suas pesquisas sobre os primeiros habitantes do Noroeste, Vinícius se deparou com um campo onde indígenas da comunidade do Santuário dos Pajés, localizada nas proximidades do bairro, jogavam futebol. Esse foi o ponto de partida para a concepção do filme, rodado em apenas cinco dias. Noroeste também estará em cartaz na sexta-feira (21), às 18h, no Cine Brasília.
Mais duas produções da UnB estão no páreo e terão sessões no Cine Brasília, no mesmo horário. Entre Parentes, documentário sobre mobilizações indígenas dirigido pelo doutorando em Antropologia Tiago de Aragão, estará na Mostra Brasília na terça-feira (18), às 18h.
O falecimento de um amigo em comum leva dois desconhecidos a se lançarem em uma jornada para tentar reconstruir a memória afetiva em torno do companheiro. Esse é o mote do curta-metragem In Memoriam, dirigido pelos ex-alunos de Audiovisual Thiago Campelo e Gustavo Dourado, que concorre ao troféu Candango. Inspirada no conto O Imortal, do escritor Jorge Luís Borges, a ficção pode ser conferida na quinta-feira (20).
Com curso recém-concluído, Thiago enxerga as influências de sua trajetória acadêmica no projeto. "Para além dos estudos formais, a UnB é um espaço de aprendizado constante e isso enriquece muito o desenvolvimento de quem vive ali", afirma. Todos os filmes da Mostra Brasília também serão exibidos em Taguatinga, Sobradinho, São Sebastião e Riacho Fundo.
NOVAS GERAÇÕES – Em paralelo à programação, será realizado o 2º Festival Universitário de Cinema de Brasília (FestUni), espaço criado para divulgação, experimentação e discussão sobre as produções universitárias brasileiras. A atividade é organizada por alunos da UnB, sob orientação das cineastas e professoras Érika Bauer e Dácia Ibiapina.
O FestUni reúne experiências das gerações que estão iniciando a trajetória no cinema. A coordenadora Dácia Ibiapina avalia como positiva a repercussão inicial da mostra, o que aumenta a expectativa quanto aos filmes recebidos neste ano. “Acreditamos que esta edição será ainda mais interessante. Os universitários da área são o futuro do audiovisual brasileiro, por isso é importante dar-lhes visibilidade, instigá-los a produzir e criar esse espaço de debate”, ressalta.
Vinte curtas-metragens de estudantes de cinema e de audiovisual de universidades em 11 estados brasileiros estão entre os escolhidos desta edição. As produções concorrem a troféu nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção e Escolha do Público. A mostra terá sessões nos dias 15 e 16 de setembro, das 9h às 12h, no Cine Brasília, seguidas de debate com os realizadores.
Colorirá, filme dos egressos da UnB Anderson Lopes e Gabriele Fernanda, será representante da instituição no FestUni. O racismo na infância é tema central do curta-metragem, que retrata a história de Bia, uma garota de dez anos discriminada na escola. Após a situação, ela passa por um processo de autorrejeição e decide alisar seus cabelos.
A diretora Gabriele Fernanda explica a intenção do filme: “Muito se fala sobre o racismo na vida adulta, mas também importante falar do tema na infância, já que ainda é considerado tabu. Isso para que quando nossas mulheres negras cresçam não sofram com seus traumas da infância, que afetam a vida emocional”.
FAZENDO EM CASA – A FAC acolhe outras atividades do FestUni. Rodas de conversa, debate e masterclass sobre temáticas relacionadas à produção universitária ocorrem na unidade acadêmica, no campus Darcy Ribeiro, entre 17 e 20 de setembro, das 15 às 17h.
Atividades formativas do Festival de Brasília também se estendem aos espaços da Universidade. Hsu Chien, profissional de audiovisual, estará à frente da oficina de Assistência de Direção, que acontece na FAC, dos dias 14 a 18 de setembro, das 14h às 18h.
Já na Faculdade de Planaltina (FUP), integrantes da produtora independente Dona Filmes, gerida por mulheres, ministram a Oficina de Criação e Edição de Vídeos por Celular, entre os dias 19 e 23 de setembro, das 14h às 18h.