DIVERSIDADE

Experiências pessoais e formas de enfrentar violência contra LGBTs foram compartilhadas durante o Dia Laranja

 

Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Desde os 15 anos, Luana Ferreira é engajada em questões relacionadas a direitos humanos. Aos 17, se envolveu em um grupo de ativismo lésbico e bissexual e passou a se incomodar com as opressões machistas. Hoje, é representante da Associação Lésbica Feminista de Brasileira – Coturno de Vênus e do Fórum de Mulheres do Distrito Federal, onde atua contra a discriminação sobretudo de gênero, de orientação sexual e de raça. “É muito incômodo ser tratada diferente, quando as referências dominantes são heterossexistas, de pessoas não negras e com padrões europeus”, relatou a ativista em mesa do Dia Laranja pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, realizado na última sexta-feira (24), no Anfiteatro 9 do ICC Sul.

 

Todo mês, a ação, promovida pela Diretoria de Diversidade do Decanato de Assuntos Comunitários da UnB, estimula discussões sobre temáticas diversas que envolvam a violência contra a mulher. Dessa vez, em função da realização da Semana da Diversidade LGBT, a atividade abordou a Violência Contra Mulheres Transexuais, Bissexuais e Lésbicas: Contextos e Enfrentamentos.

 

A feminista Luana Ferreira acredita que é possível desconstruir o machismo ao refletir sobre as frases ditas diariamente e se reposicionar quando reproduzir palavras opressoras. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Para Luana Ferreira, o aprendizado é uma das ferramentas mais eficientes para desvincular alguém dos rótulos e padrões impostos socialmente. “A gente tem desde a infância uma educação pautada para que homens gostem de mulheres e tenham desejo por elas, e que mulheres gostem de homens e tenham desejo por eles. Quem não se sente assim já está errado, fora do padrão, é um problema para uma sociedade que acredita ainda que o comportamento sexual das pessoas influencia diretamente em como elas podem ou não obedecer a regras”, criticou Ferreira. A ativista acredita que é necessário que as pessoas passem a reproduzir frases que desconstruam essa normatividade, em vez de somente reforçar a indignação com as opressões.

 

A estudante de Ciências Sociais da UnB Naomi Cary e a representante da Associação do Núcleo de Apoio e Valorização à Vida de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Distrito Federal e Entorno (ANAVTrans) Ludymilla Santiago também participaram da atividade. Além de experiências pessoais na busca pela afirmação de suas identidades e por respeito à diversidade, as convidadas refletiram sobre estigmas e caminhos para desconstruir a opressão.

 

Naomi Cary alertou que mulheres bissexuais também sofrem opressão tanto no relacionamento com homens, como em função do julgamento da sociedade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

Cary se reconhece como bissexual e negra. Ao dividir suas inquietações sobre sua identidade, a graduanda avaliou que ainda existe uma confusão sobre o que é ser bissexual, já que não se resume a ser um pouco homossexual e um pouco heterossexual, mas conviver dualmente com os desejos pelo feminino e o masculino. Cary considera que por ser bissexual “há estigmas que o monossexismo traz de que nós somos promíscuas, traidoras e de que a gente sempre vai estar pautando uma política de faltas”. Para ela, é necessário que haja liberdade para as pessoas agirem de acordo com o que sentem.

 

Ludymilla Santiago se inclui entre os transexuais, que são constantemente alvo de violências das mais diversas ordens. A cada 28 horas, uma morte por homofobia é registrada no Brasil. Grande parte envolve transexuais. O número, contabilizado em um relatório do Grupo Gay da Bahia de 2013, revela a situação de vulnerabilidade desse grupo no país. Situação reforçada ainda com os dados sobre expectativa de vida. “De um modo geral, a expectativa de vida dos brasileiros é de 73 anos. Eu, enquanto pessoa trans, tenho a expectativa de vida de 35 anos. O fato de eu ser negra piora muito mais. Então, já sou uma sobrevivente dentro desse processo”, alega a representante da ANAVTrans.

 

Ao mencionar os padrões reproduzidos na sociedade que excluem a população LGBT, ela considerou importante que a diversidade de orientações sexuais não seja simplificada em rótulos. “Lutar contra esses sistemas é um processo que é diário”, completou.

 

DEBATE – “Esse é um dia para lembrarmos que a luta pela erradicação da violência contra a mulher é diária. Principalmente, em face aos acontecimentos aqui na UnB e às ofensivas contra a população LGBT”, pontuou Sílvia Badim, coordenadora dos Direitos da Mulher da DIV, durante o evento. “Não é fácil pautar esse debate na universidade. Existe ainda uma resistência muito grande”, completou.

 

Sílvia Badim, Ludymilla Santiago, Naomi Cary, Luana Ferreira e a representante da ONU Mulheres Amanda Kamanchek participaram de um debate com o público após a mesa. Entre os assuntos discutidos estavam o projeto da Escola sem Partido – que exclui a temática de gênero dos currículos das escolas –, a conquista de espaços pela população LGBT e as dificuldades ainda enfrentadas por esses grupos.