#INSPIRAUnB

Colaborada da Nasa, convidada inaugura o semestre para alunos dos cursos noturnos de graduação. Palestra acontece no dia 15 de agosto, às 19h30

Duilia de Mello quer deixar mensagem de determinação para os alunos. Arte: Igor Outeiral/Secom UnB

 

A partir do dia 12 de agosto, a Universidade de Brasília dá início às aulas do segundo semestre da graduação. A primeira semana é marcada pelos eventos do Boas-Vindas, como o #InspiraUnB, no qual dois convidados ministram a aula inaugural para os novos graduandos da UnB, dos cursos diurno e noturno.

 

O céu não é o limite é o tema da exposição da astrônoma Duilia de Mello, que receberá os estudantes no Centro Cultural da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), no dia 15 de agosto, às 19h30. Duilia é pesquisadora da Nasa e vice-reitora da Universidade Católica de Washington, nos Estados Unidos. Recentemente, ela publicou o artigo Mulher das estrelas: 25 anos desvendando o universo na edição nº 22 da revista Darcy.

 

“Não existe limite, nem mesmo o céu é o limite”. Essa é a principal mensagem que a cientista pretende compartilhar com os alunos. Para ela, precisamos ter determinação e seguir nossos talentos e nossas paixões para atingir os objetivos e ter um impacto no mundo. “Quando a gente segue os próprios sonhos a gente determina o próprio limite”, destaca.

 

O vasto currículo da pesquisadora conta com mais de cem artigos científicos publicados e mais de dez mil citações. Em 2016, fundou a Associação Mulher das Estrelas (AME) que desde então já impactou a vida de mais de 30 mil crianças e jovens. Em 2018, ela foi considerada pela revista Tecmundo como gênio número cinco do Brasil.

 

Com pós-doutorado no Observatório Cerro Tololo no Chile, no Observatório Nacional no Rio e no instituto do telescópio espacial Hubble nos Estados Unidos, Duilia conhece bem a realidade e o contexto de diferentes instituições de pesquisa do mundo.

 

A realidade norte-americana, por exemplo, é bem diferente do cenário brasileiro: “A maioria dos estudantes americanos pedem empréstimos para poder pagar a universidade, o que é ruim porque cria uma sociedade muito aflita, ansiosa e até temerosa em tomar certos riscos na carreira porque já estão endividados”. Na entrevista a seguir, a autora de Vivendo com as Estrelas fala sobre o papel dos educadores, a carreira e os desafios da Astronomia na atualidade. Confira:

 

Até que ponto os educadores influenciam na escolha profissional de crianças e jovens?

Eu tenho certeza que os educadores têm uma influência enorme na decisão do jovem quando ele quer seguir uma carreira. São os professores que apresentam as grandes descobertas, os grandes desafios em todas as áreas, e com isso motivam os estudantes a querer seguir aqueles espaços, desvendar mistérios e até contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Os meus professores também tiveram um papel muito importante na minha decisão. Tive excelentes professores nas áreas de ciências e matemática e foram eles que me aguçaram a curiosidade de um dia me tonar uma cientista. Eu me lembro muito bem de um experimento que fiz, ainda bem pequena, de criar borboletas e que deu errado. Fiquei extremamente frustrada, e o professor de ciências me aconselhou a tentar de novo e com isso eu criei várias depois. Essa atenção que o professor dá quando o estudante demonstra curiosidade é de grande impacto, transformadora.

 

Em sua opinião, quais são os dilemas e as potencialidades das universidades brasileiras?

No contexto do Brasil, eu vejo a universidade pública praticamente como uma dádiva, que tem dado muitos frutos, e eu sou fruto da educação pública brasileira. Se eu não tivesse tido a oportunidade de estudar numa universidade pública, eu não teria seguido a carreira que escolhi. O Brasil me deu essa oportunidade, porque eu vim de uma família que não poderia pagar por uma universidade como a que estudei, fiz Astronomia na UFRJ. Foi um excelente curso de graduação. Terminei em 1985 e até hoje acompanho o desenvolvimento do curso: vejo toda a modernização do ensino e também o avanço da instituição. A universidade brasileira tem se modificado bastante na última década, se tornou mais justa, com maior inclusão. Isso é excelente para o Brasil de hoje e sou muito a favor de que se invista cada vez mais na universidade brasileira.

 

Como divulgadora científica, qual é a importância de disseminar o conhecimento para o público leigo?

Eu venho fazendo isso há algum tempo e acho que é absolutamente importante que todo cientista saiba contar, explicar para a sociedade aquilo que faz em linguagem simples. Primeiro porque a ciência é feita praticamente toda com dinheiro público, que vem de impostos, e quem paga imposto deveria saber onde o dinheiro é investido. O cientista tende a esquecer isso e acaba se isolando do público. Além disso, o público deve saber do desenvolvimento científico, até para conhecer quais são as áreas de fronteira. Por exemplo, ainda não temos a cura do câncer, será que nós já estamos no caminho certo? O que está faltando para darmos o próximo passo? Em todas as áreas, é importante manter o público informado e também educado. A gente precisa mostrar melhor a importância do método científico, porque estamos passando por uma fase hoje muito obscura, das fake news e do compartilhamento de notícias com conceitos errados, como o movimento do terraplanismo. Em pleno século XXI, tem gente que acredita que a Terra é plana. Isso é uma falha total da educação no mundo, que criou uma sociedade que não consegue explicar que a Terra é redonda. Portanto, se nós não melhorarmos nesse aspecto de disseminação do conhecimento, vamos criar sociedades isoladas, que não conseguem se comunicar com cientistas e até não acreditam na ciência. Continuar disseminando conhecimento é vital para o avanço da sociedade.

 

Quais são os principais desafios da astronomia hoje?

Vou falar de dois principais desafios. Um deles é a gente conseguir entender o que é energia escura. Mais de 70% do universo é feito desse material que a gente não sabe o que é, e esse material foi descoberto porque vimos que o universo não está só se expandindo, mas também se acelerando e o que causa essa aceleração é algo que não conseguimos detectar com o conhecimento que se tem hoje. Outra área interessante que está crescendo muito é a astrobiologia, que trata da origem da vida e da busca por vida em outros planetas, um grande desafio da humanidade. Estamos tentando achar planetas semelhantes à Terra, já encontramos alguns candidatos. Eu, por exemplo, trabalho com a evolução das galáxias e a gente não consegue ver o universo quando ainda era jovem. Com o próximo telescópio que a Nasa vai lançar em 2021 – o James Webb –, nós vamos tentar ver essas primeiras galáxias. Isso é um assunto em que estou muito interessada e acredito que vai revolucionar o nosso conhecimento sobre o universo.

 

Que conselhos pode dar para quem quer seguir a carreira?

A astronomia é uma ciência fantástica, que te inspira todos os dias, mas é também muito difícil, requer muita dedicação, perseverança e resiliência. Demora muito até a gente virar cientista ou astrônomo profissional. O maior desafio é não desistir dentro da própria carreira, porque são muitos anos sendo bolsista, com pouco dinheiro e pouca perspectiva de trabalho. É preciso não desistir e continuar um dia atrás do outro que uma hora acontece, a estabilidade chega e cada vez mais a gente vai adicionamento conhecimento sobre o universo. A carreira é recompensadora.

 

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