DEBATE

Encontro reuniu pesquisadores e gestores em busca de identificar os caminhos possíveis para o planejamento e a gestão da atividade turística no Brasil e em sua relação com a América Latina

Foto: Ana Ferreira/CET-UnB

 

Durante três dias, pesquisadores, estudantes e gestores, reunidos em torno do debate “Os desafios da gestão das políticas publicas de turismo após crise de 2008”, incluído como tema central do II Seminário Latino-Americano de Políticas Públicas e Turismo, tiveram a atenção voltada para a complexidade do turismo, como atividade econômica organizada, e de suas relações com o Estado e governos para a formulação de políticas públicas dentro de um conjunto de decisões e ações, que envolvem diferentes atores.

 

O diretor do Centro de Excelência em Turismo da UnB (CET), professor Neio Campos, ressaltou a importância da realização desse evento na capital do País, que, em sua segunda edição, tem o propósito de fazer com que Brasília possa, não só planejar políticas públicas, mas fazer com que as instâncias acadêmicas possam refletir sobre a qualidade dessas políticas.

 

Campos destacou a importância de um protagonismo que se contraponha ao caráter neoliberal que tem colocado os países em crise. É importante entender as razões dessa crise, em que imperam os movimentos especulativos, por isso, segundo Campos, o seminário se propôs a reunir especialistas de diversos países da América Latina e Portugal, para traçar em linhas gerais e analisar tanto a história das políticas públicas de turismo no Brasil e na América Latina, como o papel fundamental da universidade na formulação de políticas públicas.

 

Para tanto, distinguiu a parceria que a Universidade de Brasília, por intermédio do CET, estabeleceu com a Secretaria de Turismo do Distrito Federal na formulação do Observatório do Turismo do DF, que, segundo ele, representou um grande desafio na construção de políticas públicas para o setor e, hoje, com sua efetivação, representa uma importante ferramenta para a promoção do turismo como atividade estratégica de desenvolvimento econômico.

 

A coordenadora do evento, professora Marutschka Moesch, explicou que a escolha do tema desta edição do evento se deu pelo motivo de que os efeitos da crise do capitalismo ainda se fazem sentir de forma sistêmica na sociedade mundial “como espelhos que constroem reproduções das imagens dos países de economias dominantes sobre os demais como as únicas possíveis, como se a história fosse única para todos”. Segundo ela, “a irracionalidade capitalista de crescimento eterno e aumento permanente de produção e de consumo dá jeito de disfarçar suas responsabilidades, quando se apropria e fórmula discursos farsescos de sustentabilidade sem que, de fato, altere qualquer coisa nas estruturas capitalistas que construíram a crise de 2008 e seus reflexos, como o aumento da concentração do poder no mundo, o acirramento da competitividade entre blocos regionais, a diminuição de atores econômicos mundiais e regionais, ou seja, o medo do próprio sistema”.

 

Acrescentemos a isso que políticas públicas, no entendimento da coordenadora do evento, não devem se restringir ao imediatismo, ao localismo das reivindicações e demandas do mercador, “mas se transformar em instrumento de planificação e apropriação dos variados problemas de gestão urbana, ambiental, social, econômica e cultural das comunidades”.

 

As exigências que se impõem, então, em um cenário em que o capitalismo determina mudanças decisivas, principalmente, com a revolução das tecnologias de informação, é que, de acordo com Moesch, “as políticas de turismo devem reconhecer a complexidade do fenômeno de sua ação para promover mudanças que alavanquem o desenvolvimento desejado e ampliem a participação das pessoas que moram em locais turísticos ou daqueles que trabalham diretamente com o turismo, o lazer e a cultura”. Mas é diante de uma mercantilização cada vez mais cruel, impulsionada por grandes corporações, é que o turismo adquire o seu caráter predador, sobretudo pela obsessão do lucro e a rejeição à regulação do setor.

 

Quais, então – pergunta Moesch –, os valores e práticas capitalistas que devemos criticar na busca de um turismo mais humano, inclusivo, responsável e sustentável, de fato? Para ela, “não há emancipação em si, mas ações/relações emancipatórias que ocorrem no interior das relações de poder, que vão destruindo esse próprio poder, ou seja, transformando as capacidades que reproduzem o poder em capacidades que o destroem”. E a resposta, de acordo com seu pensamento, pode estar na busca de conhecimentos, entendendo o turismo como um fenômeno humano, transdisciplinar. E a realização do II Seminário de Políticas Públicas para o Turismo vai justamente nesta direção, ou seja, “estreitar os laços entre os envolvidos nas políticas de turismo, hospitalidade, cultura e lazer com gestores de programas, projetos e ações governamentais e não governamentais e pesquisadores”.

 

No entendimento de Marutschka Moesch, é aguardado que a iniciativa do encontro amplie o diálogo já iniciado no seminário anterior, realizado em 2013, “para além das fronteiras, entre o acadêmico, o setor público e a comunidade, fortalecendo, assim, o turismo local e regional, de modo inclusivo e responsável no cenário latino-americano”.

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