GRADUAÇÃO

Com apelo à valorização da formação humanística, escritor Milton Hatoum compartilhou vivências na abertura do semestre

 

O escritor manauara Milton Hatoum inspirou estudantes e servidores da Universidade neste início de semestre. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Ao som dos violões de Luciana Lins e Léo Brito, do Duo Fuá do Cerrado, a noite desta quinta-feira (14) marcou a abertura do semestre letivo para quem frequenta os cursos noturnos de graduação da Universidade de Brasília. Calouros, veteranos e docentes lotaram o auditório do Memorial Darcy Ribeiro, o Beijódromo, ansiosos para ouvir o convidado do #InspiraUnB, escritor Milton Hatoum.

“Sinto enorme prazer intelectual nesse auditório memorial a Darcy Ribeiro, um humanista de primeira grandeza, a quem devemos a criação dessa Universidade, entre tantos feitos importantes no país”, iniciou o convidado, em seu discurso em defesa do humanismo enquanto arma contra a barbárie.

Arquiteto pela Universidade de São Paulo, o escritor convidou a plateia a pensar a temática a partir das curvas de Brasília. “Niemeyer projetou invertida uma das cúpulas do Congresso Nacional. Foi uma discussão internacional, com um grande calculista italiano afirmando que não daria certo. A conclusão é que tanto deu certo que está lá até hoje, sendo de uma beleza estonteante”, observou.

Hatoum defendeu a formação de cidadãos críticos no ambiente da Universidade. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Em valorização às humanidades como saber imprescindível às demais áreas, o escritor evocou a figura do engenheiro Joaquim Cardoso. “Foi ele quem fez o cálculo da cúpula. Um pernambucano que foi um grande poeta, ilustrador, desenhista, tradutor. Um engenheiro totalmente entregue àquilo que o arquiteto queria fazer: a ousadia das formas. Um calculista de primeira mão, que conseguia entender poética e simbolicamente o projeto de Niemeyer”, contextualizou.

Por trás da ousadia técnica que sustenta as formas da capital, o escritor ressalta um projeto civilizador e humanístico que pode servir de inspiração a educadores, estudantes e todos brasileiros. “Não há formação científica plena sem o mínimo de formação humanística e artística”, enfatizou Hatoum.

“Há várias razões para banir as humanidades na universidade, e eu discordo de todas elas”, disse, em referência a movimentos de desvalorização das ciências humanas em escolas e universidades. Hatoum defendeu o “papel essencial e único” deste saber para formar cidadãos com capacidades crítica e reflexiva.

O literato defendeu que deixar de lado as humanidades e artes é “uma premissa da barbárie e aponta para o colapso do humanismo”. Hatoum foi ovacionado pelo público e abriu a fala aos interessados em tirar dúvidas sobre a temática e sobre suas obras. Ao final do encontro, o escritor recebeu o público em uma sessão de autógrafos.

Calouros de Letras-Português, Marcos Vitor Aires, Gabriela Capuano e Robert Denniel tiveram oportunidade de conhecer de perto o literato Milton Hatoum. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

RELATOS – Calouros de Letras-Português, Gabriela Capuano, Robert Denniel e Marcos Vitor vieram juntos ao #InspiraUnB e aprovaram a iniciativa.

“Pude ouvir sobre as muitas possibilidades de vivência que a Universidade proporciona. Também foi inspirador conhecer o Milton Hatoum, um escritor com uma abordagem multidisciplinar, rico conhecimento sobre o Brasil, e que emprega isso em sua literatura”, contou Robert Denniel, de 17 anos, que aspira uma carreira como escritor.

A caloura Gabriela Capuano, de 18 anos, descreveu a noite como “incrível”. “Não esperava tudo isso. Amei a experiência de ter ouvido e conhecido esse autor. Isso gerou uma expectativa ainda maior quanto ao curso e à Universidade”, garantiu.

Docentes de vários cursos compareceram ao #InspiraUnB, como a professora Ana Paula Bastos, de Gestão de Políticas Públicas. “Liberei meus alunos para vir por entender a importância dessa recepção. Nos últimos anos lidamos com situações preocupantes, como o suicídio. Essa iniciativa reforça que a Universidade deve ser um local de felicidade e acolhimento, e não de competição”, destaca.

A docente ressaltou que as iniciativas acolhedoras mudam uma cultura negativa de recepção ao estudante. “Lembro

Universidade para a família: a professora Ana Paula Bastos veio acompanhada das filhas de 12 anos, as gêmeas Catarina e Marta. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

do meu primeiro dia como aluna universitária, havia aqueles trotes violentos e que desvalorizavam o calouro. Hoje, incentivamos um ambiente diferente. Chegar aqui não é fácil, por isso é preciso acolher.”

BOAS-VINDAS – A alegria da UnB em receber calouros e demais acadêmicos para o novo semestre foi registrada nas palavras dos decanos Olgamir Amancia, de Extensão, e Sérgio de Freitas, de Ensino de Graduação.

“Aproveitem a UnB. Usufruam desse espaço de instigação, criticidade, cultura. Aqui vocês podem fazer o exercício das múltiplas possibilidades a partir do ensino, pesquisa e extensão”, aconselhou Olgamir. “Nós estamos no espaço de Darcy, uma pessoa que não só pensou essa Universidade, mas nos instigou à ousadia e a pensar o Brasil”, completou a decana.

O decano Sérgio de Freitas compartilhou orientações para que os jovens tracem com sucesso a jornada acadêmica. “Estudem muito; participem dos eventos acadêmicos e culturais; mantenham contato com o coordenador do curso; busquem informações nos canais oficiais, redes sociais e espaços de atendimento da Universidade.”

Após as orientações, o decano enfatizou: “o principal é que vocês estão aqui para serem felizes vivenciando a trajetória estudantil, contem conosco no que for preciso”.

Para a caloura de Saúde Coletiva Vanusa Barreira, de 18 anos, a recepção fez diferença. “A gente chega aqui sem conhecer nada. Eu ouvia falar coisas ruins sobre a UnB, mas já pude ter uma experiência diferente do que me falaram. Me impressionei com a formação dos professores e estou achando tudo muito bom”, compartilhou.

Vanusa Barreira, Beatriz Monteiro e Renatha Mota são calouras de Saúde Coletiva, curso da Faculdade UnB Ceilândia. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A jovem veio acompanhada das calouras e novas colegas de curso Beatriz Monteiro e Renatha Mota. “Ouvia falar que a UnB é um lugar acolhedor para as minorias. Pude ver isso tanto no discurso de Milton Hatoum como na escolha da mestre de cerimônia. Me senti muito representada”, contou Renatha Mota, em menção a Maria Eduarda Krasny, acadêmica de Letras-Português, mulher negra e travesti, que conduziu a cerimônia.

Cerca de 500 pessoas participaram da aula magna, lotando o auditório do Beijódromo e preenchendo o espaço externo, onde houve transmissão simultânea do evento.

 

Saiba como foi a abertura do semestre para os cursos diurnos:

>> Um convite à ciência contra o desastre e o obscurantismo

>> Valorização da Universidade no #InspiraUnB

 

Vem aí, a aula inaugural da pós-graduação:

>> Pesquisas em torno da água são tema do #InspiraUnB da pós-graduação

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.