INTERNACIONALIZAÇÃO

Projeto inovador acontece em parceria com universidades de Aveiro, em Portugal, e de Nantes, na França

 

Carla Campos entre as orientadoras Dora François, da Universidade de Nantes, e Glória Magalhaẽs, da UnB. Foto: Arquivo pessoal

 

O Programa de Pós-Graduação em Literatura (Póslit/IL) da UnB está implantado um curso de diplomação tripla entre as universidades de Nantes (França), de Aveiro (Portugal) e de Brasília. No momento, está em curso um piloto da iniciativa, com estudantes participando de intercâmbio. Um novo edital está previsto ainda para o primeiro semestre de 2019.

Na experiência-piloto do projeto pioneiro, foi aberto um edital interno para o curso de mestrado internacional em Engenharia de Formação e Contextos Internacionais (EFCI), voltado para estudantes já inseridos no Póslit. As vagas eram para projeto voltado ao eixo de práticas didáticas, educativas, linguísticas e culturais. Agora, o plano é lançar editais abertos para mestrado e doutorado.

A estudante de pós-graduação Carla Campos está passando um semestre na Escola Superior de Ensino e Educação (Espe) da Universidade de Nantes. Desde janeiro na França, ela tem estagiado em uma escola local e conta que tem achando a experiência bastante enriquecedora. A mestranda confere destaque especial à oportunidade de troca de experiências entre as práticas desenvolvidas no Brasil e em Nantes.

O foco do programa está em uma questão social que envolve cerca de 260 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da ONU: a migração internacional. Em especial a que envolve deslocamentos involuntários, em razão de crises ambientais, políticas ou até de perseguições a grupos étnicos, por exemplo.

Professor do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da UnB, Rogério Lima coordena o braço brasileiro do Projeto Internacional de Investigação Científica (Picnab), de caráter interdisciplinar, que envolve docentes-pesquisadores das universidades de Nantes, Aveiro e Brasília. Para ele, a situação é crítica.

“Os imigrantes involuntários não têm liberdade de mobilidade. Imigram por uma imposição que foge ao controle deles, algum tipo de ameaça faz com que tenham de sair de seus países e parte deles estão sujeitos a condições bastante precárias por todo o mundo”, avalia. Foi por meio do Picnab, contemplado com recursos no projeto institucional Capes-PrInt, que se deu o acordo entre as três universidades para a oferta dos cursos de pós-graduação.

O objetivo do projeto é trabalhar com aspectos de organização pedagógica dos três países (Brasil, França e Portugal) com relação à inclusão de estudantes imigrantes. Além disso, há interesse em estudar como esses alunos impactam o processo de ensino a aprendizagem nas escolas. "Outra característica da proposta é a capacitação de formadores para atender esses aspectos nos sistemas de educação dos três países”, explica Rogério Lima.

O estudo de Carla Campos está dedicado a crianças cuja língua materna é diferente daquela que aprendem nas escolas e que precisam se apropriar dessa nova língua em contexto de migração. “Observo também como as relações familiares são postas, uma vez que muitas vezes os pais não conhecem nem querem conhecer a língua do país em que estão e as crianças estão entre os dois sistemas”, comenta.

COMO FUNCIONA – O acordo de tripla titulação propõe a vinculação entre as instituições para a orientação no formato de cotutela. Além disso, o curso prevê obrigatoriedade da mobilidade internacional discente, sendo de um semestre para o mestrado e dois semestres para o doutorado. Cumprindo os requisitos, ao final do curso os estudantes obtêm a tripla diplomação.

Os estudantes participantes do programa de pós-graduação fazem estágios nas escolas das cidades em que estiverem realizando a mobilidade acadêmica. “O estudante precisa conhecer a realidade e entender como se constrói a relação de acolhimento com estudantes e professores”, explica Lima. Assim, o docente destaca que o público-alvo do programa são professores, para que tenham instrumental técnico e teórico para os desafios do dia a dia escolar.

Diretora do Instituto de Letras (IL), Rozana Naves destaca que o acordo, até então inédito na UnB, está em processo de aprimoramento. Ainda assim, outros departamentos da Universidade já demonstraram interesse no modelo de parceria, como é o caso da Física. Ela destaca alguns dos desafios que a iniciativa enfrenta: suporte financeiro à mobilidade discente; ajuste dos sistemas de créditos e das horas de estudo entre as instituições e ajuste do calendário acadêmico.

Para equalizar parte desses impasses, foi desenvolvido um currículo acadêmico comum entre os programas de pós-graduação já existentes nas três universidades. A partir disso, os estudantes das instituições acompanham as disciplinas de modo presencial (para os que se encontram no país em que se dá a disciplina) ou a distância, para os que estão nos outros países. Assim aconteceu com Carla Campos.

A estudante conta que assistir às aulas de Aveiro e de Nantes a distância apresentou desafios, em especial pela parte técnica. Ainda assim, a oportunidade lhe permitiu, por exemplo, já conhecer alguns dos colegas com quem agora convive em Nantes, o que tem ajudado na adaptação à universidade.

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