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Dados levantados pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher foram apresentados a público universitário. Versão final está em consolidação

 

Pesquisa Percepção da violência contra as mulheres no campus Darcy Ribeiro foi apresentada durante lançamento do CDHUnB, em 8 de março. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A Universidade de Brasília adotou o 8 de março deste ano como marco para dar um basta à violência contra a mulher. Os passos que a instituição planeja dar nesta direção serão apoiados nos resultados da pesquisa Percepção da violência contra as mulheres no campus Darcy Ribeiro, cujos dados preliminares foram apresentados durante o lançamento do Conselho de Direitos Humanos da UnB (CDHUnB), na última quinta-feira.

"Precisamos identificar, com clareza, qual é a violência que hoje existe na UnB e mapear as situações vivenciadas pelas estudantes que frequentam a Universidade", frisou a docente Lourdes Maria Bandeira, do Departamento de Sociologia (SOL). Ela orientou o trabalho, realizado no âmbito do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher (Nepem/Ceam). O estudo traçou o perfil socioeconômico das universitárias, com parâmetros como renda familiar, local de residência, idade, estado civil e orientação sexual.

Os dados foram levantados entre setembro de 2017 e janeiro de 2018. Ao todo, foram aplicados 827 questionários, em uma amostra que representa 5% das estudantes de 53 graduações do Darcy Ribeiro. De acordo com os números apresentados, 86% das alunas têm até 23 anos; 49% se declararam de cor preta ou parda, e 48%, brancas. As demais marcaram as opções amarela, indígena, ou não responderam ao item. O mapeamento foi realizado com apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic/CNPq). O estudo será concluído ainda no primeiro semestre deste ano.

Dados: Percepção da violência contra as mulheres no campus Darcy Ribeiro (Nepem/Ceam/UnB) | Arte: Secom UnB

 

Entre as estatísticas expostas, 34% das entrevistadas informaram já ter sofrido algum tipo de violência no campus. Para a pesquisa, são entendidas como violência desde situações que envolvam a desqualificação intelectual, até ofensas, assédios e tentativas de estupro, entre outras. Além disso, 26% das estudantes ouvidas disseram já ter sofrido violência no trajeto de ida ou volta ou nas imediações do Darcy Ribeiro.

A pesquisa também separou índices de violência de acordo com a orientação sexual da mulher, 50% das entrevistadas bissexuais e 44% das homossexuais afirmaram terem sofrido violência, contra 31% das heterossexuais.

O perfil do agressor é predominantemente de estudante (49%). Em 44% dos casos o agressor é total ou parcialmente desconhecido. Além disso, 95% é homem e 15% mulher. Neste item a aluna podia marcar as duas opções. Assim, se somados, os percentuais resultam em mais do que 100%. Isso porque a vítima pode ter sofrido mais de um episódio de violência ou ter mais de um agressor envolvido no caso.

"Os dados refletem que a UnB não está isolada da realidade, mas faz parte de um contexto social em que a violência está muito presente”, analisa Lourdes Bandeira. Ela destaca que o DF é uma das unidades da federação com maior índice de violência contra mulheres. A docente acredita que o perfil do agressor aponta para uma socialização dos jovens “que ainda é muito violenta, com práticas machistas e sexistas".

A decana de Extensão da UnB, Olgamir Amancia, lembra que tanto instituições de ensino superior quanto escolas de educação básica conformam as desigualdades de gênero, raça e classe. “O machismo é uma construção sócio-histórica, por isso compreende-se que perpassa toda a sociedade, envolve as suas instituições, até mesmo aquelas cujo fazer se sustenta na análise crítica da realidade, como é o caso das universidades”, diz.

CAMINHO – A pesquisadora Lourdes Maria Bandeira chama atenção para as estatísticas relacionadas ao trajeto até a instituição. "72% das entrevistadas não moram no Plano Piloto. A maioria chega até a Universidade de transporte público. Sem dúvidas, garantir segurança nesse trajeto deve ser uma preocupação para o Estado." De acordo com a amostragem, 61% das entrevistadas chegam ao campus Darcy Ribeiro de ônibus, 36% de carro próprio e as restantes por outros meios.

Dados: Percepção da violência contra as mulheres no campus Darcy Ribeiro (Nepem/Ceam/UnB) | Arte: Secom UnB

 

Ciente dos desafios, o Comitê de Segurança da Universidade de Brasília está elaborando um plano estratégico de ações para os campi. A implementação de corredores de segurança no campus Darcy Ribeiro, com rotas mais iluminadas e intensificação do patrulhamento em horários críticos, é uma das propostas do grupo e deve ser divulgada nas próximas semanas.

DETALHAMENTO Sobre os tipos de violência sofridas, a psicológica teve maior incidência (72%), seguida de violência sexual (55%), e de outras agressões, como coercitiva, física e racial. Para esse item, a entrevistada poderia marcar mais de uma opção, por isso, se somados, os percentuais resultam em mais do que 100%.

Autora da pesquisa e bolsista do Pibic, a estudante Fernanda Mendes Dias informa que os dados seguem o padrão dos estudos sobre a temática. "A violência psicológica precede a outros tipos de violência. É a agressão mais permeada nas entrelinhas da convivência social", detalha a aluna do nono semestre de Sociologia. Segundo ela, no questionário, esse tipo de violação englobou violência psicológica, moral e emocional e incluiu situações de desqualificação intelectual, ofensa, humilhação e uso indevido de imagem. A violência física, por sua vez, englobou assédio, tentativa de estupro e estupro.

A reitora Márcia Abrahão enfatizou a importância da pesquisa, que ajudará a embasar, daqui para frente, as políticas institucionais para o enfrentamento à violência contra a mulher. "É fundamental termos dados científicos concretos, que trazem à tona a percepção das nossas estudantes sobre o assunto. Queremos que essa pesquisa seja repetida anualmente e que seja levada para os outros campi", disse. Para ela, os números são “graves e preocupantes e indicam o tamanho dos desafios que temos à frente.”

“Nós, mulheres, sabemos os obstáculos que enfrentamos no dia a dia da Universidade, mas essas informações não estavam sistematizadas. Agora teremos um panorama mais concreto com o perfil das estudantes, dos tipos de violência cotidianas e dos contextos em que acontecem essas ações”, reforça Ana Paula Martins, doutoranda em Sociologia e coorientadora da pesquisa.

A caloura Raquel Sousa (esq.) compareceu ao lançamento do CDHUnB acompanhada das novas colegas de Universidade. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

IMPRESSÕES Estudante do nono semestre de Ciências Sociais, Maria Clara Araújo conta que ingressou na UnB à época do feminicídio de Louise Ribeiro, em março de 2016. “Quando entrei na UnB, o clima era de medo. A sensação era de que qualquer uma de nós poderia ser a próxima vítima”, compartilha. Ela diz que não foi fácil ouvir os resultados da pesquisa. “É dolorido. São dados relevantes para a gente pensar como é ser mulher e viver no ambiente acadêmico. Mas esse tipo de pesquisa é importante se queremos modificar a realidade social”, opina a jovem.

Caloura de Ciências Sociais, Raquel Sousa compareceu ao evento acompanhada de colegas do curso e aprovou a iniciativa. “Eu gostei muito dos dados que foram expostos. Tenho interesse nas temáticas de feminicídio e questões de gênero e saio daqui com muitas reflexões importantes.” A estudante conta que já presenciou muitas situações de assédio e que já teve amigas que a procuraram para contar relatos de abuso sexual. “Infelizmente esse tipo de violência é mais comum do que se imagina.”

APOIO INSTITUCIONAL – Para o enfrentamento das situações de violência e garantia de equidade de gênero, a Universidade de Brasília trabalha na construção de uma política institucional de mulheres. A Coordenação dos Direitos da Mulher (Codim), vinculada à Diretoria da Diversidade do Decanato de Assuntos Comunitários (DIV/DAC), mapeou práticas existentes em outros órgãos públicos para elaborar uma proposta formal, que será apresentada ao Conselho de Direitos Humanos da UnB e à comunidade. A ideia é que as diretrizes sejam construídas coletivamente, com participação de diversos segmentos.

Outra frente de atuação é o fortalecimento da rede de apoio e proteção às mulheres. Nesse sentido, a DIV trabalha em parceria com coletivos estudantis, unidades e setores da UnB, projetos de pesquisa e extensão e outras instituições externas à Universidade.

A DIV também oferece acolhimento para mulheres da comunidade universitária que sofreram algum tipo de violência ou que precisem de orientações. Os casos são ouvidos, registrados e encaminhados para apoio acadêmico, jurídico e psicológico. No âmbito administrativo, a Ouvidoria da UnB também acolhe denúncias, reclamações e sugestões.

Alunas, servidoras e funcionárias ainda podem compartilhar experiências e buscar apoio em iniciativas coletivas feministas, como o Centro de Convivência de Mulheres. Apesar de não serem institucionais, os coletivos dialogam com a Universidade.

>> Saiba mais sobre as ações e sobre a rede de apoio às mulheres

SERVIÇO DE ACOLHIMENTO E DENÚNCIAS
Diretoria da Diversidade –Sala AT 199/7, ICC Sul, campus Darcy Ribeiro – Telefone: 31072645
Ouvidoria da UnB - Biblioteca Central – 2º andar Denúncias online: sistema.ouvidorias.gov.br 

Rede parceira:
Serviço de Orientação Universitária (SOU/DEG) - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS/DAC)
Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep)
Projeto Escuta Diversa
Rede de Proteção de Mulheres do Distrito Federal

 

 

*com colaboração de Gisele Pimenta/Secom UnB.

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.

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