RELAÇÕES INSTITUCIONAIS

Em encontro inédito, parlamentares de diversos partidos e gestoras de universidades federais discutiram os desafios das instituições e estabeleceram prioridades para ação conjunta

 

Reitoras e vice-reitoras de universidades federais se reuniram com deputadas da bancada feminina, nesta terça (23). Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

Não existe assunto que não seja de mulher. Foi com esse espírito que a bancada feminina da Câmara Federal recebeu, na tarde desta terça-feira (23), reitoras e vice-reitoras de universidades federais para uma reunião ampliada sobre os desafios das instituições públicas de ensino superior. Inédito, o encontro foi idealizado pela deputada Aline Gurgel e pela reitora Márcia Abrahão.

A reitora falou sobre as reduções orçamentárias sofridas pelas universidades federais e sobre a mudança no perfil dos estudantes nos últimos anos. “É muito importante que tenhamos uma legislação capaz de tornar o Pnaes [Programa Nacional de Assistência Estudantil] uma política permanente. Hoje, ele existe apenas por decreto e, se perdemos esses recursos, não teremos condições de manter milhares de estudantes na graduação”, explicou.

“Vocês, reitoras, administram verdadeiras cidades, com problemas complexos. Se não tiverem uma voz aqui dentro, principalmente na construção do orçamento público, o cenário vai piorar para as universidades”, defendeu Aline, que ocupa o cargo de primeira procuradora adjunta da Secretaria da Mulher da Câmara Federal. “Nossa luta de mulheres é suprapartidária e importantíssima para que a gente se fortaleça cada vez mais”, acrescentou a deputada Tereza Nelma, coordenadora adjunta da Secretaria.

As reitoras também manifestaram preocupação com os cortes na área de ciência. “A gente costuma ouvir que as universidades são caras e que não produzem ciência, mas isso não é verdade. Mais de 90% da produção científica nacional é feita por instituições públicas, a grande maioria universidades”, lembrou a reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Smaili.

“Temos também 45 hospitais universitários, que são modelos de ensino e atendimento em todo o país”, frisou a reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Ufcspa), Lúcia Pellanda. Atualmente, das 65 universidades federais já consolidadas, 19 são geridas por mulheres.

 

 

DESINFORMAÇÃO – A iniciativa do encontro entre reitoras e deputadas foi saudada por todas as presentes, que lembraram a importância de dar mais visibilidade ao que as instituições de ensino realizam. “Percebemos que há uma grande desinformação a respeito das universidades e sobre como elas mudaram ao longo do tempo. Sem universidade e investimento contínuo em ciência, educação e tecnologia, não há como ter futuro para o país”, destacou a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Goulart Almeida.

A deputada Margarida Salomão, que foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), classificou a visita das gestoras universitárias à Câmara como uma “militância iluminista”. “Soube recentemente da suspensão das bolsas de pesquisa do edital universal do CNPq, que é o principal recurso para pesquisadores em início de carreira. Isso é lamentável. Quem mata as divisões de base não consegue formar equipes de sucesso”, comparou.

PROFESSORES – A deputada Luiza Erundina lembrou da importância da extensão universitária e da troca de saberes com as comunidades locais. “Nenhum desses governos todos deu conta de tratar a educação como uma política duradoura, para a sociedade. Quem faz isso não são os governantes, são os educadores, a base da mudança social”, afirmou.

Plenário 5 da Câmara dos Deputados dedicou-se a temas caros às universidades. Foto: Raquel Aviani/Secom UnB

 

A reitora Márcia Abrahão chamou a atenção para os riscos de um projeto de lei que pretende extinguir das universidades públicas cursos com grande evasão. “Grande parte da evasão está nas licenciaturas, que formam os professores do futuro. Mas, quando pensamos em políticas públicas, precisamos nos perguntar por que temos essa evasão. Certamente, é porque a sociedade não prestigia a carreira de professor, um profissional que recebe baixos salários”, disse.

A deputada Ângela Amin resgatou sua experiência como ex-aluna de mestrado e doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Fui relatora da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e hoje sou membro da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Estou disposta a levar a pauta das universidades para a comissão”, anunciou.

ENCAMINHAMENTOS – A partir do encontro desta terça-feira, foram elaboradas sugestões de ações conjuntas entre as reitoras e as deputadas. Uma das propostas é a criação de uma rede de pesquisa sobre diversidade, para que o resultado possa ser incorporado em atividades parlamentares. Outra sugestão é a mobilização em bloco nas discussões sobre o orçamento, de forma a garantir a continuidade das atividades universitárias em sua plenitude.

Nesta quarta-feira (24), também houve o lançamento da Frente Parlamentar Mista pela Valorização das Universidades Federais. O grupo, que une deputados e senadores, vai realizar debates e propor projetos de interesse das instituições federais de ensino superior.

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