OPINIÃO

Virgílio Arraes, presidente da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB)

 

A tarefa coletiva de defesa do segmento científico, embora desfrute de apoio suprapartidário, não tem lamentavelmente sensibilizado os recentes governos federais, entre os quais o último em que a expectativa de popularidade, segundo institutos de pesquisa, quase converge com o índice de inflação oficial.

 

Se não bastasse a progressiva redução do orçamento para a área universitária e científica, postura negativa para auxiliar no curto prazo o encerramento da crise econômica do Brasil, o professorado, ou melhor, todas as carreiras do serviço público defrontam-se com a proposta excessivamente incisiva de reforma da previdência em meio a uma crise econômica do país em que as professoras e professores não têm responsabilidade política.

 

Ao contrário, poderia a categoria da educação, caso fosse valorizada em termos de condições de trabalho como as denominadas carreiras de Estado, contribuir ainda mais para elevar o desenvolvimento do Brasil.

 

Em vez de o governo buscar correções singulares em face de setores de maior remuneração salarial ou de menor contribuição previdenciária, a administração pública na prática propõe-se a dividir de maneira injusta o custo entre toda a população, sem considerar ações mais efetivas contra sonegações de maior porte ou revisão mais severa das isenções fiscais.

 

Nesse sentido, a ADUnB, ao longo de 2017, tem realizado inúmeras palestras com diferentes representantes da sociedade com o propósito de esclarecer suas associadas e associados sobre os problemas da proposta do governo, além de buscar dialogar com os parlamentares do Distrito Federal, independentemente da agremiação, sobre os efeitos negativos para o serviço público, em especial na educação.

 

No dia 10 de outubro, a ADUnB, ao lado da ADUFRJ, da APUBH, da APUB, da ADUFABC, da SBPC, da ABC e da ANPG, encabeçou manifestação de defesa em prol da ciência e tecnologia do Brasil perante o Congresso Nacional. As representações sindicais do início da campanha – RJ, MG e DF – localizam-se entre as principais universidades federais do Brasil.

 

Após a audiência pública lotada na Câmara dos Deputados, houve, no período da tarde, o encaminhamento do abaixo-assinado com mais de oitenta mil assinaturas coletadas em poucas semanas ao presidente em exercício do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB), e posteriormente ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).

 

Tanto na audiência pública como na entrega das assinaturas parlamentares de partidos de espectros distintos fizeram questão de participar e por vezes de declarar apoio à pioneira iniciativa como, por exemplo, Celso Pansera (PMDB), Cristovam Buarque (PPS), Chico Alencar (PSOL), Izalci Lucas (PSDB), Luíza Erundina (PSOL), Gleisi Hoffmann (PT), Inácio Arruda (PC do B), ex-senador e secretário de ciência e tecnologia do Ceará, entre outros políticos. Registre-se também a presença do presidente da ANDIFES, prof. Emmanuel Zagury Tourinho.

 

A atividade no parlamento foi o desdobramento da primeira fase da campanha Conhecimento sem Cortes, materializada em junho com o estabelecimento do Tesourômetro, painel eletrônico instalado em algumas capitais, entre as quais Brasília, por meio do qual se apresentou à sociedade civil o valor estimado dos cortes no segmento de ciência e tecnologia desde 2015 – até o dia 12 último, a quantia se aproximava infelizmente de doze bilhões e meio de reais!

 

Para 2018, a ADUnB espera que os presidenciáveis se comprometam com os segmentos da ciência e tecnologia além da mera retórica. Em tempos de crise, educação deve ser valorizada, não sacrificada.

 

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