OPINIÃO

Nagib Mohammed Abdalla Nassar é botânico, geneticista e professor emérito da Universidade de Brasília. Graduado pela Universidade do Cairo, mestre em Genética pela Universidade de Assiute e PhD em Genética (comajor em botânica) pela Universidade de Alexandria. Sua pesquisa concentra-se no melhoramento da mandioca.  É Fellow do Linnean Society-London (FLS). Recebeu em 2014 o prestigiado prêmio Kuwait International.

Nagib Nassar¹

 

Expulsos por Israel têm direito de retornar a sua terra

 

Em 15 de maio de 1948, o Estado de Israel surgiu. A criação dele foi um processo violento que implicou a expulsão forçada de centenas de milhares de palestinos de sua terra natal para estabelecer um Estado de maioria judaica.

 

Entre 1947 e 1949, ao menos 750.000 palestinos de uma população de 1,9 milhão de pessoas se tornaram refugiados além das fronteiras do Estado. Forças sionistas ocuparam mais de 78% da Palestina histórica, limparam etnicamente e destruíram cerca de 530 vilarejos e cidades e mataram cerca de 15.000 palestinos em uma série de atrocidades, incluindo mais de 70 massacres.

 

Apesar de 15 de maio de 1948 ter se tornado o dia oficial para lembrar o luto palestino, grupos sionistas armados haviam iniciado o processo de deslocamento de palestinos muito antes. De fato, em 15 de maio, metade do número total de refugiados palestinos já havia sido expulsa de seu país.

 

As raízes da tragédia palestina se devem ao sionismo, que surgiu em 1884 como uma ideologia política na Europa Oriental no século 19. A ideologia é baseada na crença de que os judeus são uma nação ou uma raça que merece seu próprio Estado.

 

Milhares de judeus europeus começaram a se fixar na Palestina, empurrados pela perseguição antissemita e o apelo do sionismo. Em 1917, antes do início do Mandato Britânico (1920-1947), os britânicos emitiram a Declaração Balfour, prometendo ajudar o "estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu". Assim, prometeram doar um país que não possuíam para outros que não nasceram naquela terra.

 

Desde o início do processo de paz entre israelenses e palestinos, nos anos 1990, a liderança palestina exigiu que Israel aceitasse a responsabilidade pela criação do problema  dos refugiados e aceitasse  o "direito de retorno" dos refugiados, conforme incorporado na  resolução 194 da Assembleia geral da ONU, de dezembro de 1948.

 

Mas o gabinete israelense  impediu  um retorno, argumentando ameaça ao Estado judeu. Israel hoje tem 5 milhões de judeus e mais de 1 milhão de árabes. Há 5 milhões de refugiados palestinos listados pelas Nações Unidas. Com a taxa de natalidade muito maior dos árabes, isso gradualmente levaria a um Estado unitário e binacional, uma solução ansiada por intelectuais ocidentais.

 

Para muitos no Ocidente, o direito dos refugiados de retornar aos seus lares não é somente uma questão humana, mas direito natural.

 

O Brasil votou pela criação de Israel. Quem o fez não imaginava que um dia este país se tornaria a pátria para cerca de meio milhão de filhos e netos dos refugiados palestinos que fugiram das atrocidades israelenses. Com princípios morais e humanos, o Brasil votou nos últimos 20 anos em favor da causa palestina.

 

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¹Nagib Mohammed Abdalla Nassar é botânico, geneticista e Professor Emérito da Universidade de Brasília. Graduado pela Cairo University, mestre em Genética pela Assiut University e PhD em Genética (co-major em botânica) pela Alexandria University. Sua pesquisa se concentra no melhoramento da mandioca. Tem experiência nos temas: botânica econômica, citogenética aplicada ao melhoramento de plantas, genética de plantas cultivadas. É Fellow do Linnean Society-London (FLS). Recebeu em 2014 o prestigiado prêmio Kuwait International.

Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo em 06/08/2018.

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