OPINIÃO

Ricardo Caldas é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Graduado em Economia e mestre em Ciência Política pela UnB. Obteve Ph.D em Relações Internacionais pela University of Kent at Canterbury. Desenvolveu pesquisas de pós-doutorado na Columbia University, no Rockfeller Center of Latin Americam Studies e na Universidade de São Paulo.

Eduardo Prieto é cientista político formado pela Universidade de Brasília, pós-graduando em Relações Institucionais pelo Ibmec. Também foi coautor do livro 100 dias de governo temer e de diversas apostilas sobre políticas públicas.

Ricardo Caldas¹ e Eduardo Prieto²

 

No dia 28 de outubro foi a reta final não apenas das eleições mais paradigmáticas que o Brasil já vivenciou, mas também permitiu o surgimento de um novo ator inesperado: as redes sociais como um novo parlamento. Esse novo parlamento não solicita crachá nem identificação. Não pede senha, login, RG ou CPF. Não importa o gênero, a idade ou a raça do interlocutor, mas tão somente o desejo de participar e de expor suas ideias.

 

O Twitter, o Facebook e o Instagram, ou seja, as redes sociais como um todo, se transformaram no novo parlamento popular nacional, acessível a todos.

 

O novo quadro que surge a partir desse novo paradigma gera novas formas de articulação, liderança e de campanha política. Em função do papel das redes sociais, partidos e personalidades tradicionais na política deram lugar a uma das maiores renovações parlamentares desde o período da redemocratização. Por outro lado, houve aumento da fragmentação tanto da sociedade como dos partidos políticos.

 

Dificilmente o novo presidente contará com maioria suficiente para fazer todas as reformas que prometeu em campanha.

 

Fica então a pergunta: e a governabilidade como fica? Como obtê-la?

 

O quadro político que emerge dessas eleições é desafiador. Novos partidos políticos ganham força no Congresso. O caso de maior destaque é a eleição da bancada do PSL, com 52 deputados. Partidos de grande presença e tradição no Congresso, como PSDB e MDB, viram suas bancadas diminuírem significativamente. Em números de parlamentares, a bancada do PSDB na Câmara perdeu 20 cadeiras, enquanto a do MDB diminuiu sua bancada em 17 parlamentares. Consequentemente, PSDB e MDB sofrerão grandes perdas em termos de importância, fundo e tempo de TV.

 

Figuras públicas conhecidas saíram do cenário legislativo, como, por exemplo, Eunício Oliveira, Romero Jucá, Eduardo Suplicy, entre outros. Essa derrota de grandes líderes regionais e partidários deu margem a novas articulações e espaço para surgimento de novas lideranças. O mesmo raciocínio vale para a oposição. Novos líderes devem emergir principalmente na oposição que surge ao presidente eleito depois do pleito. A troca de elites já pode ser percebida. Os novos eleitos têm se posicionado de maneira diferente de líderes tradicionais. Exemplo disso é o governador eleito de São Paulo, João Dória. Na oposição, partidos como PT, PSB, PDT e PCdoB devem disputar a luta pela liderança em uma esquerda fragmentada e desunida.

 

O fato é que as antigas lideranças perderam parte de sua importância nas urnas neste ano.

 

Essas eleições também trouxeram ainda outras duas novidades para o jogo democrático. A primeira novidade é a forma pouco ortodoxa de propaganda política que surge com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. Principal foco de comunicação deixa de ser a mídia televisiva para ser o contato direto e interativo, por meio das mídias sociais. Por ser um ativo produtor de conteúdo nas redes, Bolsonaro ganhou inúmeros seguidores que, no período eleitoral, fizeram propaganda para o candidato. Esse tipo de comunicação já pode ser verificado também na oposição, pelo aumento de postagens e interações de candidatos derrotados das eleições como Ciro Gomes e Marina Silva com novos eleitores. A segunda novidade é uma maior importância da participação maciça da população no debate político e um ativismo social sem precedentes, por meio das redes sociais.

 

Os desafios que se impõem ao Brasil nos próximos quatro anos, portanto, serão de caráter político, ou melhor, de embates políticos, mas não necessariamente de natureza institucional. O novo governo certamente enfrentará uma oposição mais aguerrida; uma população mais informada e mais politizada, além de dois Poderes Legislativos: um formal e institucional em Brasília, e outro espalhado por todo o país, nas redes sociais.

______________________________________

¹ Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Graduado em Economia e mestre em Ciência Política pela UnB. Obteve Ph.D em Relações Internacionais pela University of Kent at Canterbury. Desenvolveu pesquisas de pós-doutorado na Columbia University, no Rockfeller Center of Latin Americam Studies e na Universidade de São Paulo.

²Cientista Político formado pela Universidade de Brasília, pós-graduando em Relações Institucionais pelo Ibmec. Também foi coautor do livro 100 dias de governo temer e de diversas apostilas sobre políticas públicas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

²Cientista Político formado pela Universidade de Brasília, pós-graduando em Relações Institucionais pelo Ibmec. Também foi coautor do livro 100 dias de governo temer e de diversas apostilas sobre políticas públicas.

Palavras-chave