OPINIÃO

José Flávio Sombra Saraiva é diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB e pesquisador 1 do CNPq, Ph.D pela Universidade de Birmingham, Inglaterra.

José Flávio Sombra Saraiva

 

Ficamos menores no mundo. Esse é o mote que expõe a diminuição da presença brasileira no mundo. Mas há saídas. A hora do Brasil deve ser o urgente movimento junto a outros atores da arena mundial. O pêndulo precisa se mover para outras geografias, mais além dos países do grupo Brics e da atávica paixão para com a América Latina. É o caso dos Estados Unidos da América. A decisão de voltar aos Estados Unidos, segundo parceiro das exportações do Brasil, exige aprofundamento das relações no mundo complexo que vivemos.

 

A retomada mais ativa da autonomia decisória na inserção complexa do Brasil exige mais esforço dos negociadores do Brasil. A diplomacia vem perdendo seu brio de antes. A saída por meio do conceito de autonomia decisória, tradição brasileira nas relações internacionais, deve representar hoje diversificação urgente de parceiros confiáveis. O Brasil precisa associar-se à competição global de produção de produtos agregados, serviços avançados e ampliar sua presença em outras geografias afastadas da América Latina.

 

O que há com a América Latina? O fracasso da integração regional na América Latina da segunda década do século 21 se fez padrão. Quais as razões desse desânimo? A história pesa nas relações regionais. Velhas narrativas das desconfianças voltaram firmes aos manuais escolares em países vizinhos do Brasil. E tais iniciativas nesse sentido foram engenhos das cabeças daqueles que se dizem líderes nacionais. Veja a situação da Venezuela. As empáfias nacionais impedem a articulação mais profunda entre os Estados da América Latina.

 

Mas há aspectos inéditos agregados às velhas histórias. Os novos modelos de inserção internacional de grandes e pequenos Estados, particularmente dedicados à tarefa da produção criativa de riqueza e do crescimento econômico mundial, particularmente na Ásia, tiraram a América Latina do seu percurso de modernização tardia. Perdemos a indústria e as commodities não valem o de ontem. Faltam educação e capacidades suficientes para dar o salto qualitativo no mundo novo que temos.

 

A recuperação necessária do prestígio do Brasil exigirá autonomia como meio para avançar a reaproximação com outros Estados, como indica a visita de Dilma aos Estados Unidos da América. Temos que conversar com a maior economia do mundo, país marcado por parceria histórica com o Brasil. Lá, estivemos ao lado deles nas duas grandes guerras mundiais. Há um esforço do lado norte-americano genuíno. Os norte-americanos admiram o Brasil, ao contrário dos nossos vizinhos.

 

Ir ao país de Jefferson e Adams talvez seja um passo autônomo que possa ajudar a diversificar os planos de ação do Brasil no mundo. Insumos e possibilidades, embora não tenham se exauridos na região latino-americana, sugere que o Brasil precisa ser mais universal, mais organizado e menos ideológico no caminho. O lugar do Brasil é o mundo.

 

Publicado originalmente no Jornal O Povo online em 1º/7/2015

Palavras-chave