artigos
OPINIÃO

Luiz Vicente Gentil é professor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, da Universidade de Brasília. Graduado em Egenharia Agronômica, pela Unversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Máquinas Agrícolas, pela Universidade de São Paulo (USP), doutor em Ciências Florestais, pela UnB e pós-doutor em Bioenergia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua nos seguintes temas: Administração Rural, Bioenergia e Biomassa, Combustiveis Alternativos.

Luiz Vicente Gentil

 

A matriz energética limpa do Brasil é a maior e a melhor do mundo, com 26,2% de biomassa, sendo 16,1% cana-de-açúcar, 8,3% lenha/carvão e 1,8% lixívia.

 

Entre 103 países, Rússia e Brasil têm 31% de toda a área florestal do planeta, enquanto a Europa ocidental já removeu 99,7% das nativas. Ainda nos acusam de desmatar. Essa área é de apenas 22 mil km², o que representa 0,3% do território nacional. Esse pequeno número é para alimentos, criação de cidades, estradas e indústrias. Desmatamentos programados são autorizados por lei.

 

A maioria não sabe que 55% do oxigênio do planeta é produzido por algas marinhas e não pelas árvores. A Amazônia Legal brasileira representa 6,8% da superfície do planeta e não é o pulmão do mundo, mas sim os oceanos.

 

Em nosso país, desperdiça-se biomassa energética. Se fossem aproveitados os resíduos da cana-de-açúcar por meio de uma lei que ainda não existe, geraria 20% de toda a demanda elétrica do Brasil. Isso foi descoberto em 2011, em pós-doutorado da Unicamp, e ainda não sabemos quem impede de se reduzir apagões evitando um anunciado racionamento de energia.

 

Estima-se um total anual de 21 milhões de toneladas de resíduos de serrarias, da indústria moveleira e madeireira, de acordo com outro doutorado, este da UnB. Esse potencial pouco aproveitado tem 4,1 Mega TEP (tonelada equivalente de petróleo) ou 1,4% de toda oferta interna de energia no Brasil em 2013.

 

Lenha é material lignocelulósico que, ao queimar, gera calor, vapor e potência nas indústrias, empresas de serviços e domicílios, entre elas madeira plantada ou nativa, cavaco, carvão, briquetes, poda urbana e resíduos florestais-agrícolas, além de entulho de madeira da construção civil. A novidade é o cavaco de eucalipto e o pinus, que, embora custe 33% mais que a lenha (US$ 80/ton - US$ 60/ton), reduz energia e custos da empresa. No entanto, o cavaco no Brasil é ruim, por ter serragem e casca.

 

A má gestão das lenhas vem causando sérios prejuízos. Estudos da disciplina de biocombustíveis da UnB revelam essas causas como lenha úmida, madeiras de baixo poder calorífico, descontrole da carga dos caminhões, compra errada por volume (metro estéreo) ou massa (kg ou ton.) e não pela energia da lenha. Além do frete, de até 120km entre o campo e a caldeira, que dobra o preço da lenha.

 

O usuário consome energia e paga por algo que não sabe, perdendo dinheiro. São perdas de 5% a 20% dos custos de geração de calor. Assim, a compra anual de 25 mil estéreos de eucalipto, ou US$ 625 mil, pode perder US$ 125 mil/ano. Não são mais de 10 as grandes indústrias que fazem cálculos termodinâmicos e financeiros da energia, entre elas agroindústrias que demandam vapor na cocção de alimentos, como carnes. A maioria não contabiliza prejuízos, alegando serem teorias acadêmicas e ser caro contratar um gerente. Eles não sabem que universidades geram esses relatórios com baixo preço, aliviando RH e infraestruturas da empresa. No caso da Universidade de Brasília, é o Laboratório de Tecnologia da Madeira, do Departamento de Engenharia Florestal.

 

Outro índice é a relação custo-benefício, ou seja, um mínimo de 2,2kg de vapor gerado para cada kg de madeira queimada; menos que isso, começam os prejuízos da empresa.

 

A razão do crescimento da biomassa é o alto preço do óleo combustível (BPF) usado nas indústrias. Assim, o preço do quilo de vapor gerado é de R$ 30 para cana; R$ 33 para eucalipto e R$ 77 para o BPF de petróleo, 2,3 vezes mais caro e em extinção.

 

Além da economia, a bioenergia alivia o desmatamento, uma vez que não é cortada lenha da mata nativa. No aspecto de área plantada, temos 7,2 milhões de ha com eucalipto e pinus, entre outros, sendo 16% para siderurgia/carvão vegetal e 4% de lenha sólida de madeira. A maior parte segue para fazer papel.

 

A Europa consome por ano 10 milhões de toneladas de pellets/briquetes. A exportação do Brasil para essa região para cada milhão de tonelada daria receita posto cliente de US$ 230 milhões, o que não é desprezível, pela matéria-prima quase grátis e por termos 60 fábricas semiociosas. Faltam desburocratizar o setor e empresários mais preparados.

 

Casas de alimentos, como padarias, pizzarias e restaurantes, exigem profissionalismo em bioenergia, o que enseja melhorias, como calor firme, ausência de fumaça, menor preço que eletricidade ou GLP, instalações ambientais e empregados fichados. Além de depósito e lenha em pedaços, onerando custos. No entanto, esse setor cresce, devido à competição por clientes.

 

Para finalizar, existe o desmanche da indústria do etanol no Brasil, pela política energética equivocada, ao não se pagar aos produtores um preço mínimo nas 400 agroindústrias da cana. Foram fechadas 50 delas nos últimos anos. Esse etanol nasceu em 1975 e atende hoje uma frota de 32 milhões de automóveis. Isso constitui grave erro de gestão pública, pois 1,5 milhão de empregos diretos e famílias dependem do setor. Em benefício da matriz energética e da sociedade, esse cenário ameaçador deve ser removido.

 

Publicado originalmente no Correio Braziliense em 09/10/2014

 

ATENÇÃO – As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seus conteúdos. Crédito para textos: nome do repórter/Secom UnB ou Secom UnB. Crédito para fotos: nome do fotógrafo/Secom UnB.