OPINIÃO

Germana Henriques Pereira é professora Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, da Universidade de Brasília. Doutora e mestre  em Literatura pela Universidade de Brasília. Graduada em Licence En Portugais, em Licence En Français Lettres Modernes, em Maitrise En Lettres Modernes pela Université de Rennes II, França. Atualmente é diretora da Editora UnB.

 Germana Pereira
 
Em mais uma edição, a revista Humanidades provoca o debate com a publicação do dossiê Vidas negras importam.
 
Publicada pela Editora UnB, a última edição da revista Humanidades traz a urgência de questões reflexivas para o cenário atual brasileiro em que não é incomum observar manifestações de ódio ao diferente, à cor preta dos corpos e aos indivíduos LGBTs. A publicação que traz em seu conteúdo o dossiê Vidas negras importam se completa agora e encontra ressonância neste momento em que manifestações eclodem por todo o mundo numa reação explosiva ao assassinato de um homem negro por um policial branco nos Estados Unidos. 
 
A revista Humanidades tem em seu projeto, desde sua origem, a inquietação por contribuir para a formação do pensamento social e político brasileiro. Assim é que esta edição consegue atingir um dos objetivos assumidos pela revista em suas importantes formulações teóricas e chega em hora propícia para uma interpretação histórica sobre a política brasileira e suas manifestações atuais. É o que revela os artigos que ilustram a edição de número 63. 
 
O dossiê Vidas negras importam examina sob várias vertentes interpretativas a questão da desigualdade e da identidade para a grande parcela negra da sociedade brasileira. A publicação procurou dar visibilidade e voz aos que estudam, pesquisam e lutam em várias frentes para desconstruir o mito da democracia racial. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos, Edileuza Penha, Maira Brito, Rodrigo Gomes, Felipe Freiras, Givânia Maria da Silva, Bárbara Oliveira Souza, Megg Rayara Gomes de Oliveira, Marivaldo Pereira e Vanessa Maria de Castro, os autores deste dossiê, procuraram analisar os processos de luta dos movimentos sociais e os desafios futuros para a superação das formas de opressão que insistem na realidade perversa das desigualdades e na negação da política e das identidades. 
 
Os textos provam que há hoje no Brasil um espaço em disputa em forte tensão com visões distintas sobre o papel dos instrumentos de poder nas políticas públicas e nas relações sociais. Mostram ainda como o racismo está presente em toda parte e por isso pensar formas de superá-lo é tarefa que ocupa lugar central na luta dos movimentos sociais, incluindo a universidade pública como palco do conhecimento que se faz necessário ao debate dos dilemas e desafios que se impõem.
 
Esta edição da Humanidades traz ainda artigos de um vasto território de reflexões que servem para a compreensão de nosso tempo, em que estão problematizadas questões às vezes assustadoras, como o advento das fakenews, mas também daquilo que é comum a todos, como o direito à educação. 
 
A revista contempla a poeta Cristiane Sobral, com poemas que instigam a renovar o pensamento acerca das forças de resistência, e o professor Nelson Inocêncio, do IdA/UnB, que gentilmente cedeu ilustrações também instigantes para o pensar novas formas de luta. Resenhas de livros publicados pela Editora UnB completam esta edição.

Palavras-chave

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.