OPINIÃO

Bruno Lara é jornalista e pesquisador. É doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio Janeiro e tem pós-doutorado na mesma área pela UnB.

Bruno Lara

 

Recentemente, um amigo disse que a esposa dele estava grávida de dois meses. Ele estava feliz, mas confessou estar “apavorado” (entre aspas mesmo), com medo da responsabilidade de criar uma criança: escola, formação complementar, roupa, passeio, fraldas, comida, bonecos do Lucas Neto e da Lol Surprise (pais entendedores entenderão!) e tudo mais.

Eu já li alguns estudos que apontam que criar um filho custa cerca de R$ 2 milhões. Logicamente, eu não apresentei a ele essas cifras. Poupei-o de visitar uma unidade de saúde naquele momento, desafogando o SUS em tempo de pandemia (não precisam me agradecer).

Brincadeiras à parte, eu ouço com certa frequência o clichê “quero dar para a (o) minha (meu) filha (o) tudo o que eu não tive na infância”. Eu não sou muito fã de clichê. Desse, menos ainda. Independente do que o pai teve na infância e adolescência, penso que três conceitos são fundamentais para qualquer criança crescer bem, forte, feliz e saudável: amor, experiência e segurança.

O amor seria aquele sentimento de cuidado, dedicação, acolhimento, paciência. Muitas vezes a gente fica balançado com tanto choro, ainda mais quando estamos cansados, sem dormir direito, com prazos curtos de trabalho. Mas, o amor age quando a gente entende o quanto aquele serzinho depende da gente. O bebê tem muito poucos recursos de comunicação, não se expressa com a nossa facilidade e diversidade. É totalmente dependente de nós, o que aguça a nossa responsabilidade e sensibilidade.

O amor consegue dominar aquele caos momentâneo, devolvendo o choro com sorriso, paciência e com uma pergunta feita carinhosamente: “o que foi, filha (o)? Está tudo bem”. O serzinho não entende o idioma tão bem ainda, mas sente muito bem a nossa compreensão e acolhimento (o contrário também é verdade: sente a falta de compreensão e acolhimento). Funciona mesmo! Não sempre, é verdade, mas tudo é um processo.

Para quem é pai de primeira viagem, o caos passa. E mesmo que dure um pouco mais e a gente acredite que não está aguentando, a dificuldade, a nossa resiliência e, principalmente, o amor ajudam a nos tornar pais melhores, mais preparados. E eu sei que vai dar saudades quando a minha filha for mais autônoma e “dona do próprio nariz”.

Os bebês estão em um processo muito profundo de transformações e conhecimento do mundo. É tudo novidade, estranho para os serezinhos. E o amor é dar esse companheirismo a eles. Com certeza a gente tem mais orgulho de devolver o choro com sorriso do que com o mesmo grau de estresse.

O outro conceito é o da experiência. É algo como permitir aos filhos experimentar a vida em diversas e diferentes situações, tendo contatos com variados perfis de pessoas e grupos, conhecer ambientes culturais e geográficos distintos. Isso permite construir uma visão múltipla e enriquecida do que é a vida, o que tende a alimentar a empatia e a compreensão sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. Tende a tornar a pessoa mais humana, sensível e com o pé no chão. Claro, deve acontecer dentro do possível e de acordo com as idades adequadas. A ideia é que a criança viva, experiencie, passe por situações, relacione-se. Ela precisa ter como base mais a experiência e os relacionamentos, e menos as coisas, os bens, produtos – o que tem a sua relevância, mas não pode compor a essência.

Já a segurança está em nós como referência para os serezinhos. Nós, pais e mães, somos a interpretação deles em relação ao mundo. Às vezes acontece de a minha filha, por exemplo, assustar-se com o barulho de uma moto de algum “coleguinha” que alterou o escapamento do veículo. Ela olha para mim com aquele rostinho de dó para saber o quanto reagir àquele som, com mais, menos ou sem choro. Eu sorrio, faço uma expressão leve no rosto, digo que não é nada e continuo agindo normalmente. Quando dá, eu a levo até a janela para entender e saber de onde vem aquela turbina de avião gritando.
 
Entende? Nós somos a fortaleza desses serezinhos. É o que eu chamo de segurança. Vão precisar da nossa referência mesmo quando estiverem maiores, achando que já sabem tudo.

Um dia, os nossos bebês vão descobrir que a gente é frágil, que temos limitações e não somos super-heróis, que não sabemos tudo, que também nos perdemos no mundo e na vida (mas que se perder nem sempre é ruim). Vão saber que a gente está mais para “pai Chapolin” do que para Super-Homem. Mas aí já vai ser tarde, porque a nossa grandeza já vai ter sido construída no íntimo, no coração, na história e no olhar puro dos serezinhos.

Feliz Dia dos Pais a você, papai Chapolin!

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