OPINIÃO

Vladimir Carvalho é cineasta e professor emérito da Universidade de Brasília.

Vladimir Carvalho

 

Não foi uma insurreição de velhinhos, como se pode supor a partir do título acima, até porque os longevos daquela época não chegavam facilmente aos 90 anos de idade, como ocorre em muitos casos hoje graças aos progressos das ciências. Trata-se mesmo é do grande movimento revolucionário que mudou, de certa forma, a fisionomia política e social do país e que, em outubro próximo, completa nove décadas. Os anos de 1920 já prenunciavam, em muitos setores da comunidade brasileira, uma vontade insopitável de mudanças e foram marcados por uma inquietação e um alarido com o fim de despertar o Brasil, o gigante adormecido pela inépcia e incúria da Primeira República, precocemente velha.

 

Em cotejo com outros países, estávamos estagnados. Não avançávamos no terreno das ciências, a educação era uma quimera e o analfabetismo batia no teto. A economia marcava passo no sobe e desce dos preços do café, nosso principal produto de exportação no mercado internacional, obrigando-nos a constantes queimas de divisas que enfraqueciam o Tesouro Nacional. Nas artes, salvara-se, com ressalvas, o barulho feito pela Semana de Arte Moderna.

 

Seguíamos no ritmo lerdo, marcado desde muito pela oligarquia dos coronéis donos de terra, em prejuízo dos pobres e de uma classe média que, nos grandes centros urbanos, começara, porém, a dar sinais de inquietação. Os primeiros a se rebelarem contra esse estado de coisas foram os militares, que vinham em desacordo com o governo de Artur Bernardes. Em julho de 1922, um grupo de tenentes dominou o Forte de Copacabana e, depois de desigual, mas renhido combate, foi vencido no episódio que ficou conhecido como Os Dezoito do Forte.

 

Os tenentes se reagrupariam em 1924 em torno de Luís Carlos Prestes e Miguel Couto com o propósito de levantar o país, pregando a revolução, na tentativa de sublevar as populações marginalizadas pelas oligarquias e contra o governo. Encetaram heroica marcha que só terminaria em 1927, cobrindo 24 mil quilômetros de norte a sul do Brasil, e que ficou conhecida lendariamente pelo nome de Coluna Prestes, em homenagem ao capitão comandante.

 

Seu feito seria enaltecido pelo poeta Pablo Neruda, mas, na prática e em termos revolucionários, não obteve o êxito pretendido, embora tenha permanecido como marcante estímulo político no espírito da classe média urbana. Os militares, leia-se o tenentismo, seguiram conspirando juntamente com as lideranças de jovens políticos dos partidos burgueses em ascensão, com forte protagonismo dos gaúchos.

 

No início de 1929, o presidente Washington Luís lançou a candidatura do paulista Júlio Prestes, do PRP, desrespeitando o pacto tradicional da política conhecida popularmente como café com leite. Era a vez dos mineiros, que entraram em rebuliço. Do tremendo mal-estar resultou a criação da Aliança Liberal e o lançamento de Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda, para presidente, tendo como vice o presidente da Paraíba, João Pessoa.
 

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Publicado originalmente no Correio Braziliense em 4/8/2020.

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