OPINIÃO

Helena Costa é professora associada 1 do Departamento de Administração da Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão Pública (Face/UnB) e líder do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS/CDS/UnB)

 

Fernanda Hummel é mestre em Turismo (CET/UnB) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS/CDS/UnB)

 

Elaine Borges é mestre em Turismo (CET/UnB) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS/CDS/UnB)

Helena Costa, Fernanda Hummel, Elaine Borges

 

O isolamento durante seis meses de pandemia mostra os nossos limites. Confinados, sobressaem necessidades de socialização, contemplação, fuga da rotina, descoberta, relaxamento e diversão. Essas são motivações há muito conhecidas pelos especialistas em turismo e indicam porque viajar é salutar, física e emocionalmente.

 

No Brasil, temos uma diversidade de destinos turísticos. São praias e ilhas deslumbrantes, cidades históricas maravilhosas, rios e cachoeiras refrescantes, ruas cheias de vida e de bossa. Jericoacoara, Pipa, Porto de Galinhas, Alto Paraíso, Pirenópolis, Cabo Frio, Ilhabela. Todos lugares que, sem dúvida, merecem ser visitados. Todos com seu pedaço incrível de brasilidade. Todos com atrativos lotados neste feriado.

 

Essa constatação seria banal, não fosse uma pandemia ainda descontrolada no Brasil. As cenas deste feriado nacional mostram o turismo como escape em volumes nada responsáveis. Houve ocupação maior que no último carnaval em alguns lugares, notícia que acompanhamos ontem com perplexidade. As viagens podem promover encontros, renda, empregos, valorização cultural, diversidade de olhares, entendimento de origens, entre outros impactos positivos. Como tantas outras pessoas do setor, gostaríamos de ver todo esse potencial realizado. Mas não se tratou disso.

 

Assistimos a um turismo com aglomerações que trazem riscos para a saúde de visitantes, trabalhadores e outras pessoas que vivem naqueles lugares. Muitos destes destinos, lamentavelmente, não dispõem de estrutura de assistência à saúde para conter os riscos que a disseminação da covid-19 traz. Faltam leitos preparados, profissionais, quiçá UTIS e respiradores.

 

Fluxos globais não foram restritos por acaso. Da mesma forma, os fluxos nacionais precisam ser gerenciados. Assim poderemos retomar o turismo com segurança e responsabilidade, garantindo que ele se fortaleça como uma força agregadora e dinamizadora dos territórios, em toda sua ampla cadeia produtiva. Essa responsabilidade no turismo é partilhada. É de quem presta o serviço, quem visita, quem promove, quem regula. Ninguém pode se isentar neste momento crítico.

 

Os cenários para a retomada, como mostra o professor Ian Yeoman, estudioso do futuro do turismo na Nova Zelândia, carregam diversas possibilidades. Em enquete realizada durante uma fala dele, em maio deste ano, com cerca de 800 profissionais do turismo brasileiros, o desejo expresso pela maioria é de que a atividade turística passe a ser mais responsável e sustentável no pós-pandemia. Todavia, as cenas recentes indicam atenção para que o caminho não se torne o menos desejável: um mundo em que não se pode viajar ou que apenas poucos possam. Cuidemos do presente, pois, como já dizia Krippendorf em 1987, é preciso moderação nas viagens. Não existe turismo saudável em uma sociedade adoecida.

 

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