OPINIÃO

Michelle Fernandez é graduada em Ciência Política pela Universidade de Brasília, mestre em Direito na Universidade da Corunha, diplomada em Estudos Avançados em Ciência Política (equivalente ao mestrado em Ciência Política) e doutora em Processos Políticos Contemporâneos ambos pela Universidade de Salamanca. Pesquisadora e professora no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

Michelle Fernandez

 

Ao longo das últimas 3 décadas, o Brasil foi referência em vacinação para o mundo por meio da implementação do seu Plano Nacional de Imunização (PNI). O PNI foi criado em 1973 e foi fortalecido ao longo dos anos, graças a implantação do SUS nos anos 1990, conseguindo atingir coberturas superiores a 95% da população alvo, num país continental e extremamente desigual.

 

O PNI é coordenado nacionalmente pelo Ministério da Saúde, mas sua execução é descentralizada e depende da atuação das secretarias municipais de saúde, com o apoio das secretarias estaduais de saúde. Boa parte da implementação do PNI é coordenada por equipes de vigilância epidemiológica e é realizada no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). A coordenação do PNI pelo Ministério da Saúde, a atuação da gestão municipal, o dialogo entre gestão municipal e gestão estadual e a expansão do número de equipes de saúde da família, portanto, foram fatores centrais para a consolidação da alta efetividade do PNI e das campanhas nacionais de vacinação nos últimos anos.

 

À primeira vista, teríamos uma estrutura consolidada para a vacinação e, portanto, estaríamos diante de uma conjuntura favorável para a imunização contra covid-19 no Brasil. No entanto, depois de quase 3 semanas do inicio da campanha de vacinação, somente pouco mais de 1% da população foi vacinada. Mesmo se analisarmos apenas o primeiro grupo prioritário, menos da metade dos profissionais de saúde foram vacinados e cerca de 80% dos idosos ainda esperam por sua vez de receber a vacina. Por que estamos nessa situação, mesmo com toda expertise que temos em vacinação?

 

Em uma primeira aproximação ao problema, podemos afirmar que pelo menos três fatores dificultam a celeridade da vacinação no Brasil: pequeno número de doses disponíveis; deficiência na implementação da vacinação que gera lentidão na aplicação das doses que já estão acessíveis aos municípios e ao Distrito Federal; e excessivo controle gerado pelos episódios de "fura-fila" no início da vacinação.

 

O Brasil ficou para trás na corrida por doses de vacina contra covid-19. Diante de uma gestão errática por parte do Governo Federal, deixamos de negociar a compra da vacina ainda em 2020. Além disso, em função do discurso do presidente da República, vivemos disputas diplomáticas e colecionamos dúvidas sobre a aquisição das vacinas. Em 05 de fevereiro de 2021, o Brasil tinha a sua disposição apenas cerca de 11 milhões de doses. O número reduzido de doses inviabiliza a implementação adequada de um plano de vacinação em um país com cerca de 220 milhões de habitantes como o Brasil. Como a eficácia de um plano de vacinação depende da imunização coletiva, vacinar apenas uma parcela da população não controla a pandemia.

 

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* O texto faz parte do projeto Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil, em parceria com a ABCP, coordenado por Luciana Santana (UFAL).

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