OPINIÃO

Rozana Reigota Naves é professora e pesquisadora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP), com ênfase na área de teoria e análise linguística, aquisição de línguas e educação linguística. Tem doutorado em Linguística pela Universidade de Brasília.

Rozana Reigota Naves

 

A temática da igualdade de gênero no mundo do trabalho e no contexto da gestão organizacional pode ser abordada de várias perspectivas. Simone de Beauvoir afirmava, em frase que se popularizou em cartazes e camisetas: “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”.


No campo da ciência e tecnologia, as mulheres vêm ganhando espaço e o seu trabalho de gestão nessas instituições vem consolidando uma dinâmica de crescimento que adquire importância singular para a educação superior. Além de corrigir a distorção histórica que leva predominantemente os homens aos cargos administrativos, essa dinâmica produz uma mudança de cultura que implica reconhecer o valor social da mulher, em seus diversos papéis, e sua competência para a gestão, seja no contexto acadêmico, pela coordenação de projetos de ensino, pesquisa, inovação e extensão, seja no âmbito da administração.


Nesse sentido, nas instituições educativas e educacionais, a participação das mulheres na gestão adquire forte valor pedagógico. Por seu caráter multigeracional, essas instituições têm o poder de transformar a sociedade no que se refere à temática de gênero, na medida em que cada uma de nós, gestoras, nos tornamos exemplo, para estudantes, técnicas e docentes, de que podemos – e devemos – ocupar os espaços administrativos.

 

Estando nesses espaços, é fundamental desenvolver uma gestão que efetivamente rompa com os modelos patriarcais e com a pauta moral conservadora, que distingue meninos de meninas e lhes define estética, comportamental e profissionalmente. Constituir um novo paradigma na relação do feminino com o masculino, integrador e livre de todas as formas de assédio, de maneira a inspirar práticas civilizatórias e humanizadoras, deve estar entre as nossas prioridades.


Internamente à UnB, essa mudança de cultura tem tomado contornos estratégicos, tanto na composição da equipe de gestão quanto pela atuação da Coordenação dos Direitos da Mulher, ligada à Diretoria da Diversidade do Decanato de Assuntos Comunitários. E, em ambos os aspectos, distingue-se fortemente do que temos acompanhado na nossa vizinha Esplanada.


Cabe, também, registrar que as desigualdades sociais tendem a se agregar. Se é fato que as mulheres têm alcançado cada vez mais lugares na gestão das instituições, as mulheres negras que encontramos nesses lugares ainda são poucas. E outros desafios devem ser enfrentados: a separação entre carreiras predominantemente femininas ou masculinas , os efeitos dos vários papéis femininos na vida acadêmica e profissional das mulheres e a equiparação da remuneração pelo trabalho.


O caminho a percorrer é longo e exigente com instituições como a nossa. Mas a força do nosso trabalho, que têm nos proporcionado importantes conquistas, deve seguir nos guiando na luta por políticas consistentes de igualdade de gênero, dentro e fora da Universidade, pois esse é um valor fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana, justa, igualitária e democrática.

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