OPINIÃO

Virgílio Caixeta Arraes, presidente da ADUnB

 

 

No transcorrer da grave e inédita crise econômica por que passa o Brasil, a atenção para a educação superior federal se volta por parte da elite política e dos meios de comunicação não em virtude do que ela pode contribuir para o encerramento de tal situação – formação de mão de obra sofisticada e pesquisa e inovação - porém em decorrência de cortes orçamentários no seu funcionamento como forma de mitigar os efeitos mais deletérios da difícil fase do país.

 

Próxima a sociedade brasileira de assistir ao primeiro centenário de uma universidade federal, a do Rio de Janeiro, dentro de poucos anos (setembro de 2020) em condições de desalento, chama a atenção o porquê de o país valorizar tão pouco suas  instituições federais, fundamentais para a sustentação do desenvolvimento de todas as grandes potências há pelo menos várias gerações – observe-se nos Estados Unidos, por exemplo, a parceria até hoje existente entre o setor universitário e o governo e seu resultado.

 

Essa desatenção com o ensino superior e com a possibilidade de uma repercussão positiva do setor de pesquisa não procede do momento atual de incerteza política e de desencaminho econômico, mas desde os primeiros passos do Brasil no século dezesseis na linha traçada por Portugal.

 

Relatos históricos variam sobre o número de formados junto à Universidade de Coimbra nascidos em território brasileiro ao longo de quase trezentos anos como colônia explorada: de pouco menos de três mil até próximo de cinco mil. De toda maneira, não obstante a elevação social que um título de doutor ou de licenciado conferia durante aquele período, não há como negar que a cifra é bastante baixa quando cotejada à dos países hispano-americanos e norte-americanos.

 

A transformação do status administrativo do Brasil com a vinda da família real providenciou faculdades, como a de direito e a de medicina, mas não uma universidade, falta grave que nem sequer um reinado de quase meio século, como o de dom Pedro II, foi capaz de superar.

 

A República também não se entusiasmou com sua implementação, a não ser quando estimulada externamente em face da necessidade de uma retribuição diplomática: a conferência do grau de doutor honoris causa ao soberano da Bélgica, Alberto I, quando viesse visitar o país por conta das celebrações do centenário da independência. A partir disso, reuniram-se faculdades e escolas e instituir-se-ia a Universidade do Rio de Janeiro.  De maneira surpreendente, o rei declinaria a honra de ser o primeiro galardoado e optaria por receber o título de marechal do Exército.

 

Décadas depois, no momento do deslocamento da capital do litoral para o interior, o país teve a oportunidade de fixar a primeira universidade de facto, no caso a de Brasília (abril de 1962), fruto da persistência de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, bastante lembrados, e Heron de Alencar, primeiro decano de pós-graduação da instituição, injustamente esquecido – quem tiver maior curiosidade, consultar O irmão Heron de Oscar Niemeyer, publicado no Jornal do Brasil em 27 de janeiro de 1972. Com o golpe militar de 1º de abril de 1964, a UnB seria sem dúvida prejudicada.

 

Depois de meio século, apesar da expansão física, haja vista os três campi, e do saudável aumento do número de alunos e de professores, a UnB encara problemas comuns a outras federais: insuficiência orçamentária, baixa remuneração de seus profissionais, não obstante a qualificação do quadro ser uma das mais elevadas no Executivo, insegurança entre outras questões, porém isso tudo, embora prejudique as atividades no cotidiano, realça ainda mais o valor de seus professores, técnicos e estudantes aos quais, no registro do 54o aniversário da UnB, a ADUnB parabeniza. 

 

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