OPINIÃO

Eduardo Viola é professor do Instituto de Relações Internacionais, da UnB. Especialista em Relações Internacionais pela Fundacion Bariloche, Argentina, mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas, doutor em Ciência Política pela USP e pós-doutor em Economia Política Internacional pela University of Colorado/EUA. É membro do Comitê de Avaliação de Ciência Política e Relações Internacionais da Capes e do Comitê Dimensões Humanas de Mudança Ambiental Global da Academia Brasileira de Ciências. Atua nos temas política internacional, política comparada, economia política internacional da energia e da mudança climática, política ambiental internacional, relações Internacionais no Antropoceno, globalização e governabilidade, política externa do Brasil, regimes políticos, transições democráticas em Brasil e Argentina e segurança internacional.

Eduardo Viola

 

 

Os discursos de Temer e Obama na ONU foram bastante convergentes e isso mostra que o novo governo brasileiro está mais sintonizado com os valores da democracia representativa, da proteção dos direitos humanos e do desenvolvimento da economia, comparado com os governos Lula e Dilma.

Claro que o discurso de Temer é pobre comparado com o excelente diagnóstico de Obama sobre a difícil situação mundial.

Por outro lado, é interessante observar que seis países se retiraram em repúdio a Temer, sendo cinco deles regimes autoritários ou semiautoritários.
   
No fundamental, o discurso de Temer foi na direção correta: a favor da globalização e do livre comércio, mas alertando sobre seus impactos negativos em termos de assimetrias internacionais e intranacionais; a favor dos direitos humanos, das migrações internacionais e da proteção aos refugiados; e contra o nacionalismo xenófobo, o racismo, o terrorismo e a proliferação nuclear.

Houve duas deficiências principais no discurso de Temer. Ele fugiu de fazer referência à dramática crise venezuelana, com colapso econômico e social, violações de direitos humanos e criminalidade crescente.

O Brasil será profundamente afetado pela crise no vizinho e é ator de primeira grandeza no cenário venezuelano, inclusive porque tem responsabilidades na criação do problema, pelo apoio dado ao regime durante os governos Lula e Dilma.

Uma política hemisférica conjunta e incisiva coordenada por Brasil, Colômbia, México e EUA seria o único caminho para evitar que a Venezuela se transforme em algo parecido com a Síria.

Temer defendeu corretamente que o impeachment ocorreu dentro das normas da Constituição e do Estado de Direito, mas delirou quando falou que era um exemplo democrático para o mundo.

Dos quatro presidentes eleitos desde a Constituição de 1988, dois sofreram impeachment, numa demonstração da baixíssima qualidade da democracia brasileira.

Michel Temer deveria ter reconhecido diante do mundo a gravidade da crise econômica, política e moral que o Brasil atravessa e destacado que a principal força construtiva da sociedade brasileira é, hoje, a investigação anticorrupção com forte apoio da população.

 

Artigo publicado originalmente na Folha de São Paulo em 21/9/2016.

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