BOTÂNICA
Estudos sobre vegetação do Instituto de Ciências Biológicas recebem apoio operacional da Marinha do Brasil. Pesquisadores investigam origem de musgos e liquens na região e na Ilha de Trindade

 

Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Representantes da Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar da Marinha do Brasil visitaram, na manhã desta quarta-feira (27), o Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília. Durante o encontro, o contra-almirante Marcos Borges Sertã e o comandante Paulo César Galdino conheceram os projetos científicos do departamento realizados na Antártica, pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar), e na Ilha de Trindade.

 

Entre as instituições que integram o Proantar, a UnB é a única do Centro-Oeste que coordena atividades científicas na região da Antártica. Coordenador do Laboratório de Criptógamas do Departamento de Botânica, o professor Paulo Câmara está à frente dos projetos da Universidade, cujos principais interesses são conhecer melhor a vegetação dessas duas áreas e maneiras de preservar as espécies locais. Ele acompanhou a visita e apresentou os laboratórios onde são realizadas as análises das amostras coletadas.

Almirantes conheceram os laboratórios onde são analisadas e armazenadas espécies coletadas nas pesquisas. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

Para a realização das pesquisas, além do financiamento via CNPq, os cientistas contam com o apoio operacional e logístico da Marinha do Brasil, e também da Força Área Brasileira, na condução das expedições. Para o contra-almirante Marcos Borges Sertã, saber mais sobre esses projetos realizados pela UnB significa criar um vínculo mais próximo entre Marinha e pesquisadores. “É importante que possamos conhecer os projetos que apoiamos. O Proantar é feito para os pesquisadores e nós estamos aqui para apoiá-los”, declara.

 

PESQUISAS - Há cinco anos, equipes de pesquisadores da Universidade são enviadas para a Ilha de Trindade, área isolada em meio ao oceano Atlântico pertencente ao Brasil, com o intuito de investigar de que maneira espécies vegetais, como os musgos, passaram a povoar a região. “Usando o DNA, podemos saber exatamente de onde essas plantas saem para chegar à Ilha, que espécies são as primeiras colonizadoras e de que maneira essa vegetação começa a se recuperar. As pesquisas ajudam-nos a entender melhor que áreas preservar nos continentes próximos para conservar o fluxo gênico da Ilha”, explica Paulo Câmara.

 

Foto: Secom UnB/ Júlio Mansini
Paulo Câmara coordena pesquisas na Antártica há três anos. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

O grupo de cientistas, composto por dois professores do IB, alunos da iniciação científica e do Programa de Pós-graduação em Botânica tentam ainda desvendar a relação entre algumas espécies de musgos e liquens da região da Antártica semelhantes às encontradas no Ártico. A partir de características em comum verificadas, o foco das descobertas é confirmar se realmente há a ocorrência das mesmas plantas nos dois polos, investigar a origem e como chegaram à Antártica. Para solucionar a questão, nos últimos três anos materiais têm sido coletados no Polo Sul e encaminhados para análise morfológica e do DNA nos laboratórios do Departamento de Botânica. Uma das hipóteses levantadas é de que essas espécies tenham sido transportadas de uma região para outra por meio de correntes de ar ou pela migração de aves que carregam o material. “Algumas espécies podem estar lá antes da deriva continental e podem ter sobrevivido à última Glaciação Antártica”, supõe Câmara.

 

Dentre as 11 espécies investigadas no projeto, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Botânica, Amanda dos Santos Lima Marinho, estuda o musgo denominado Polytrichum piliferum. Na pesquisa, confirmou que a ocorrência da espécie na Antártica e no Ártico. A próxima etapa é compreender a distribuição nos ecossistemas. Amanda reconhece a importância do projeto para o maior conhecimento do planeta e as formas de preservação de sua biodiversidade. “Conhecer essas espécies e descobrir como chegam lá ajuda a contar a história do continente antártico e a descobrir quais os impactos o aquecimento global terá na região”, afirma. A previsão é que o projeto prossiga até o ano que vem.

 

PROANTAR– Em 1982, o Brasil deu início às atividades do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), iniciativa pela qual o país pôde dar o ponta pé na participação das explorações científicas no continente, após a adesão ao Tratado da Antártica. Por meio do programa, o país tem a oportunidade de se evidenciar diante da comunidade científica internacional nas pesquisas na região, além de monitorar e investigar os fenômenos climáticos e ambientais responsáveis por impactos no continente. Com suporte da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) da Marinha para a execução dos estudos, expedições sazonais são realizadas por pesquisadores brasileiros, que são abrigados na Estação Antártica Comandante Ferraz. Atualmente, a estação está sendo reconstruída devido a um incêndio ocorrido em 2012.