PLURALIDADE

Seminário busca contribuir para a formação de novos projetos político-sociais. Atividades vão até sexta-feira (7)

 

 

Palestras com renomados pesquisadores discutem, até sexta-feira (7), temáticas relacionadas à Decolonialidade e Perspectiva Negra. O evento no auditório do Instituto de Ciências Sociais (ICS) propõe a reflexão sobre as consequências deixadas pela colonização e o local de transformação do negro na sociedade.

 

Nesta quarta-feira (5), estiveram presentes na mesa de abertura do seminário a vice-diretora do ICS, Christiane Girard, a chefe do Departamento de Sociologia (SOL), Lourdes Bandeira, o coordenador do Programa de Pós-graduação em Sociologia, Fabrício Neves, e o professor Joaze Bernardino-Costa, organizador do evento.

 

Os docentes lembraram o pioneirismo da Universidade de Brasília na implantação do sistema de cotas e legitimação das ações afirmativas, além de questionarem o status dado às produções intelectuais negras. “O Brasil é um grande centro de recepção da diáspora negra, muitos dos que embarcaram em navios negreiros vieram parar aqui. E hoje? Onde estão esses intelectuais?”, explicou o professor.

 

A primeira conferência, ministrada pelo organizador do evento e professor da Rutgers University, Nelson Maldonado-Torres, tinha como tema Fanon e Foucalt sobre Modernidade, Poder, Conhecimento, e a Zona do Não Ser.

 

Professores Joaze Bernardino-Costa e Nelson Maldonado-Torres
Professores Joaze Bernardino-Costa e Nelson Maldonado Torres. Foto: Beatriz Ferraz/Secom UnB

 

A zona do não ser, de acordo com o pesquisador, seria um local que se remete à zona de morte, tortura e estupro relacionada à guerra, tida aqui como a guerra travada contra os negros, que tem como consequência a negação de sua identidade, costumes e condição. Isso é usado para reforçar a dominância colonial sobre os colonizados.

 

O professor buscou mostrar a estrutura da opressão colonial e propôs formas de começar a combatê-la. “A decolonialidade vai além da localização geopolítica. Ela passa, necessariamente, por projetos”, diz.

 

Segundo a ideia defendida por Nelson, nós somos um corpo, existimos no tempo e espaço. “O que é esse corpo sem questionamento? A atitude é ainda mais fundamental que o método”, explica.

 

A estudante Joyce Neves da Silva conta que veio porque seu contato com o movimento negro na Universidade fez com que ela se sentisse parte da comunidade acadêmica. “Eu, mulher e negra, estar em uma sala de aula, é importante para a diversidade”. Ela considera que a partir das discussões do evento haverá mais demandas por parte dos alunos. “Com esses debates, as pessoas passarão a se posicionar mais e a questionar o porquê de não lermos autores negros ou de não haver representatividade feminina na academia”, pondera.

 

Professores Valter Silvério, Edileuza Souza e Wilson Matos
Professores Valter Silvério, Edileuza Souza e Wilson Matos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

Durante a tarde, o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Valter Silvério discorreu sobre as políticas de ações afirmativas e o papel dos movimentos sociais na construção de uma identidade negra.

 

Já o docente da Uneb Wilson Matos expôs o princípio filosófico Ubuntu, “eu sou o que nós somos”, para falar sobre solidariedade e reconstrução das sociedades por meio da partilha sentimento de comunidade. Ele citou o bispo sul-africano Desmond Tutu, ativista de direitos humanos que recebeu o prêmio Nobel da paz em 1984. “Ubuntu é a essência do ser humano. Existo porque pertenço, preciso de outros seres humanos para ser humano, somos feitos para a condição de estarmos juntos, para a complementariedade de uma rede delicada de relacionamentos e interdependência”.

 

O seminário segue até 7 de outubro, no auditório do Instituto de Ciências Sociais. Haverá emissão de certificado digital de participação mediante presença mínima de 75%.

 

Confira a programação completa aqui.