SEMANA UNIVERSITÁRIA

Debate com Naomar de Almeida levanta questões acerca da missão das instituições e os desafios para uma educação gratuita e de qualidade

 

Naomar de Almeida (UFSB) e Márcio Florentino (DEX/UnB) na mesa O Futuro da Universidade Pública no Brasil, atração da Semana Universitária. Foto: Luís Gustavo Prado/Secom UnB

 

Nesta quinta-feira (26), o professor e ex-reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) Naomar de Almeida trouxe a estudantes, professores e técnicos administrativos reunidos no anfiteatro 10 do ICC dados que promovem reflexão sobre a mercantilização da educação superior e os impactos de modelos de austeridade fiscal em momentos de instabilidade social. Marianna Dias, representante da União Nacional dos Estudantes (UNE) também participou da mesa. A palestra fez parte da XVII SemUni.

 

Quando iniciou sua exposição, os que não conheciam Naomar por seu histórico de luta podiam não imaginar o contexto de seu discurso. Com voz suave, o professor fez comparações entre a situação em que se encontram as universidades públicas e particulares. Utilizando-se do conceito do Índice de Gini, que indica a proporção de concentração de renda de uma região, o palestrante teceu um paralelo entre a situação de desigualdade no país e a perpetuação das diferenças sociais por meio da universidade.

 

Na visão do docente, a política de gestão universitária acaba sendo responsável por dar continuidade às desigualdades, alimentando um sistema que privilegia os que possuem mais recursos, ainda que não haja cobrança direta de mensalidade dos estudantes. “Precisamos desconstruir a educação como fator de exclusão social. A universidade que temos hoje é de origem franco-lusófona e por isso carrega os fantasmas da burocratização e institucionalismo, além da inércia e conservadorismo”, defendeu.

 

Naomar de Almeida expôs que a universidade foi implantada tardiamente no Brasil e lembrou que, nos primórdios, aqueles que gostariam de seguir nos estudos precisavam ir até Coimbra em busca de graduação. “O Iluminismo trouxe o conceito de formação de intelectuais, em contraposição à promoção de culturas que havia no início, e ainda hoje carregamos essa visão.”

 

Complementando a ideia do ex-reitor da UFSB, a representante da UNE afirmou que é preciso romper o conceito de universidade como formadora do mercado de trabalho. “Essa noção é desafiada quando a instituição possibilita ao estudante que se desenvolva dentro da academia e, em momento oportuno, tenha certeza do que quer seguir”, ressaltou. 

Naomar de Almeida (UFSB), debateu o futuro da universidade pública no Brasil durante a XVII SemUni. Foto: Luís Gustavo Prado/Secom UnB

 

EXPERIÊNCIA – No último dia 2 de outubro, Naomar de Almeida divulgou uma carta em que comunicava sua exoneração do cargo de reitor da UFSB e se referia a tentativas de desmonte da universidade. A experiência vivida pelo docente o ajudou a construir a reflexão apresentada na UnB. “Agora tenho mais liberdade e os processos se tornaram mais claros em função da posição que ocupei”, afirmou.

 

Ele comparou a situação que se desenrolou na UFSB – que previa uma gestão participativa com comunidade acadêmica e sociedade – com a troca de presidentes pela qual o país passou. “É um golpe de princípios que convencionalmente se considera democrático e não pode ser ilegal porque tem respaldo democrático”, disse.

 

O ex-professor de Física da UnB João Salles foi o primeiro a comentar a apresentação trazida pelos participantes e concordou com a necessidade de mudança. “Só se aprende errando. Assim, precisamos nos perguntar o que já aprendemos com os erros da Universidade”, refletiu.

 

Também espectador do evento, o técnico de laboratório da Universidade Nélio Machado exaltou o conteúdo do debate, ressaltando o potencial de aplicação do que foi discutido para outras áreas. “O momento é propício para repensarmos também a educação básica, não apenas o ensino superior”, observou. “Acredito que as experiências trazidas certamente irão ajudar a rever essa lógica.”

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