CIÊNCIA

Professora do campus de Ceilândia integra rede de cientistas que avalia presença de contaminantes no ecossistema da área afetada por tragédia

Foto: Julio Minasi/Secom UnB

 

As incertezas que cercam os desdobramentos do rompimento da Barragem em Mariana (MG) provocam a comunidade científica de todo o país. A mais de 800 km do local do acidente, no campus da Universidade de Brasília em Ceilândia, a professora de Toxicologia Vivian Santos coordena equipe que iniciou a análise da água e de sedimentos das regiões afetadas.

 

“Neste momento, vamos avaliar a presença de metais, provavelmente surfactantes, e de outras substâncias tóxicas”, explica a docente, que prevê para o dia 15 de dezembro a divulgação dos primeiros resultados.

 

As amostras foram recebidas na última semana, após coletas realizadas por pesquisadores e moradores das áreas afetadas em Minas Gerais e no Espírito Santo. A análise do material conta com auxílio de equipamentos como o ICP-OES, capaz de detectar a existência e a concentração de metais nocivos. “O consumo de água com presença de manganês, por exemplo, pode desencadear doenças neurodegenerativas e depressão”, explica Vivian.

 

Membro da Sociedade Brasileira de Toxicologia, a professora disse ter se sensibilizado assim que soube da tragédia. “Sou mineira e sei como a população, principalmente das pequenas cidades, sofre com a falta de recursos e de informação”. A docente vai passar os próximos dias na região do Rio Doce, onde deve coletar novas amostras e compartilhar informações com pesquisadores.

Vivian Santos (C) e suas orientandas Renata Pascoal (E) e Natália Guimarães. Foto: Julio Minasi/Secom UnB

 

“Participar dessa pesquisa é superimportante pela relevância social e pelo caráter multidisciplinar do projeto”, afirma a doutoranda e técnica de laboratório Renata Pascoal. Ela, a estudante de mestrado Natália Guimarães e os professores Marcelo Henrique Sousa e Juliano Alexandre Chaker compõem o grupo local envolvido nas pesquisas.

 

A diretora da UnB Ceilândia, Diana Pinho, avalia a participação da comunidade científica local como um retorno da academia à população. “Ainda somos um campus jovem, mas que vem contribuindo de forma importante para a produção do conhecimento e para as questões práticas da sociedade”, diz.

Rompimento de barragem devastou áreas no curso do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo. Foto: Corpo de Bombeiros MG/ Divulgação

 

PESQUISA INDEPENDENTE – A atuação de Vivian Santos no caso Rio Doce se dá por meio do Grupo Independente de Avaliação do Impacto Ambiental (Giaia), criado via internet para colaborar com a análise dos danos causados pelos rejeitos despejados na água. A rede de pesquisadores não recebeu apoio governamental e conta com um fundo de doações para realizar os trabalhos. “Temos tirado dinheiro do próprio bolso para comprar reagentes”, conta a professora.

 

As ações do Giaia são divididas em subgrupos temáticos. Além da contaminação da água e do solo, os cientistas vão investigar os efeitos da devastação em pássaros, em animais invertebrados e na flora. Saiba como contribuir.

 

EXTENSÃO – O envolvimento da UnB Ceilândia determinou a criação de projeto de extensão para acompanhar a situação ambiental no sudeste brasileiro. “Fomos prontamente atendidos pelo Decanato de Extensão e conseguimos formalizar o projeto”, afirma Vivian. O objetivo da iniciativa é não se ater a análises emergenciais, mas prosseguir com o acompanhamento de médio e de longo prazo nos locais do curso do Rio Doce.

Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: Secom/UnB. Fotos: nome do autor - Secom/UnB