CIÊNCIA

Pesquisadores baseiam-se nas descobertas de Aaron Ciechanover para desenvolver suas próprias investigações. Palestra do laureado acontece em 10 de agosto na Universidade

Aaron Ciechanover, vencedor do Nobel, vem à UnB na segunda quinzena de agosto. Foto: Reprodução Vimeo

 

No próximo dia 10, a Universidade de Brasília recebe o cientista Aaron Ciechanover, ganhador do prêmio Nobel de Química em 2004. O israelense e sua equipe alcançaram o feito com um estudo que tem contribuído muito, desde então, para o tratamento individualizado contra o câncer e para a produção de medicamentos para controle e tratamento de outras doenças.

Para entender a razão dessas aplicações, é necessário um pouco de aprofundamento. A pesquisa de Ciechanover gira em torno de um sistema denominado ubiquitina-proteassoma. Apesar do nome complicado, é possível explicá-lo de forma simples. Trata-se de um processo orgânico que tem como uma de suas maiores funções o descarte de proteínas danificadas e inúteis das células do corpo.

A ubiquitina, que é uma biomolécula, identifica e marca as proteínas que potencialmente poderiam causar danos ao sistema. Proteassoma, por sua vez, é o processo de degradação das proteínas marcadas pela ubiquitina, com consequente eliminação seletiva das partes ruins e manutenção dos componentes saudáveis. A descoberta está diretamente ligada ao tratamento do câncer, pois, quando há algo errado com o sistema, essas proteínas não são descartadas e acabam se acumulando, resultando em uma possível célula cancerígena.

O professor Tatsuya Nagata desenvolve pesquisa que utiliza estudos desenvolvidos pelo cientista Aaron Ciechanover. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

LEGADO – Na Universidade de Brasília, pesquisadores desenvolvem trabalhos científicos a respeito desse sistema a partir da descoberta realizada por Aaron Ciechanover e sua equipe. O virologista e professor Tatsuya Nagata é coordenador do curso de pós-graduação em Biologia Microbiana, no Instituto de Ciências Biológicas (IB). Juntamente com outros pesquisadores, ele trabalha para reproduzir proteínas da zika e da dengue utilizando um sistema celular externo que não seja o do hospedeiro natural.

Em outras palavras, o objetivo é produzir o antígeno do vírus utilizando biotecnologia. A busca tem como fim a capacidade de desenvolver kits diagnósticos e sorológicos para as doenças estudadas. “Estamos tentando fazer isso e, quando nós queremos reproduzir uma proteína, ela apresenta resistência ao processo”, explica. Daí surge a necessidade de utilizar as descobertas do laureado para induzir a degradação interna da célula na hora de replicar a proteína.

“A investigação de Ciechanover seguiu na contramão dos estudos sobre células. É comum ver pesquisadores estudando como a proteína é gerada dentro da célula ou como ela é processada lá dentro, mas a pesquisa do ganhador do Nobel é sobre como a proteína é degradada dentro da célula”, diferencia Nagata.

Para ele, a vinda do israelense à Universidade é um estímulo não apenas para os alunos, mas também para os mestres, que podem ser inspirados a chegar mais longe com seus trabalhos científicos. “Para o Brasil, sonhar com o prêmio Nobel é algo muito difícil. Mas quando se está familiarizado com a pesquisa, é possível dar passos adiante”, considera.

Azadeh Mehdad, Sônia de Freitas e Luisa Meneghetti participam do grupo de pesquisa em Biofísica Molecular do IB. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB

 

O trabalho que levou Aaron Ciechanover a receber a honraria serviu ainda de base para o grupo de pesquisa em Biofísica Molecular liderado pela professora Sônia de Freitas, também do Instituto de Ciências Biológicas da UnB.

Em 2011, a pesquisa desenvolvida pela equipe ganhou notoriedade, quando foi anunciada a descoberta de alternativa para o tratamento do câncer de mama a partir de uma molécula encontrada no feijão-de-corda, chamada BTCI. De acordo com o estudo, essa molécula mata células cancerígenas sem agredir células sadias – ou seja, está na mesma linha de ação do sistema ubiquitina-proteassoma.

A pesquisadora iraniana Azadeh Mehdad, pós-doutoranda no Programa de Biologia Molecular, é membro do grupo de pesquisa e acredita que a visita de Aaron Ciechanover possa ser um incentivo para estudantes, professores e pesquisadores. “Certamente a experiência trazida pelo professor Aaron poderá nos inspirar a persistir no fazer científico. A presença dele vai ser bastante motivadora”, acredita.

AGENDA – A palestra do vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2004 será na segunda quinta-feira de agosto, às 11 horas, no auditório da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), no campus Darcy Ribeiro. Na ocasião, ele vai compartilhar experiências e inquietações vividas em mais de quatro décadas dedicadas à carreira científica. O evento é gratuito e aberto ao público.

 

 

*estagiária de jornalismo na Secom/UnB

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