CONHECIMENTO

Colóquio internacional sobre crianças e territórios da infância reúne especialista na UnB. Evento traz a mostra Infância e ditadura: testemunhos e atores (1973-1990), em exibição na Biblioteca Central

 

Professor Stuart C. Aitken, da Universidade do Estado de San Diego, fala sobre infância e território. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Crianças são como canários das minas de carvão. A definição do geógrafo Bill Bunge faz alusão às aves usadas como sinalizadores de presença de gases tóxicos em minas: se morrem, há alta concentração de gás e o perigo é iminente aos mineradores. Da analogia, entende-se que, se as crianças estão mal, a sociedade vai mal. 

 

Foi com esta citação que o colega de profissão Stuart C. Aitken, da Universidade do Estado de San Diego (SDSU, da sigla em inglês), iniciou a palestra O direito da criança ao território, na abertura do Colóquio Internacional Crianças e Territórios de Infância no Brasil, nesta segunda-feira (26). O evento segue até o próximo dia 28, no auditório da Faculdade de Tecnologia, no campus Darcy Ribeiro.

 

A fala de Aitken tem perspectiva decolonial acerca da infância. Nessa abordagem, a relação entre adultos e crianças pode se assemelhar às relações de poder em um mundo colonial: o norte global corresponderia ao poder hegemônico dos adultos e o sul global corresponderia à realidade das crianças ainda em desenvolvimento.

 

Diante das assimetrias de poder, o pesquisador ressaltou a importância de crianças e jovens não serem somente objetos de direitos, como também sujeitos de direitos. O professor defendeu que pedagogia centrada na criança e ativismo jovem andam juntos.

 

Para Aitken, sociedade, educadores e pensadores devem permitir que crianças e jovens se desenvolvam e se expressem de acordo com suas próprias multiplicidades. Também sob essa perspectiva devem ser formuladas as políticas públicas. 

 

Ademais, o geógrafo afirma que a universalidade dos direitos das crianças enfrenta uma série de fatores complicadores e limitantes. Por isso, ele acredita que o ideal é a busca de direitos garantidos em contexto local. Em referência ao Brasil, Aitken citou estudo sobre os movimentos de jovens chamados rolezinhos.

 

“Articulados por meio das redes sociais, jovens – geralmente de baixa renda, negros e provenientes de favelas – ocupam os shoppings e espaços das cidades. É a ocupação de seus espaços. A prática levanta a pergunta de como lidar com o direito à circulação na rua, à cidade, quando há interseccionalidades de classe e raça”, disse o geógrafo.

 

Cartas, fotografias e desenhos de crianças compõem a exposição Infância e ditadura: testemunhos e atores (1973-1990), na BCE. Foto: Beto Monteiro/SECOM UnB

 

PRODUÇÃO E DIFUSÃO – Apesar das inscrições estarem encerradas, a professora Maria Lidia Bueno, da comissão organizadora do colóquio, convida os interessados a participar do evento, como ouvintes. “O encontro congrega multiplicidade de visões acerca da infância, desde a experiência de crianças indígenas mexicanas ao cenário do Reino Unido. É um contexto amplo de conhecimento”, descreve.

 

Junto à Maria Lidia, compuseram a mesa de abertura do evento a decana de pós-graduação (DPG), Helena Shimizu; a professora Katia Curado, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UnB); a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) Claudia Garcia e representantes da infância do Governo de Brasília (GDF).

 

A professora da Secretaria de Educação Nubia Cardoso participou da mesa como representante da diretoria de educação infantil do DF. Segundo ela, dados recentes apontam que o Brasil voltou à condição de pobreza e miséria, o que faz com que o colóquio seja ainda mais relevante. “Com isso, crianças voltam ao estado de não infância”, apontou.

 

DOR E AMOR – O colóquio dá início à exposição Infância e ditadura: testemunhos e atores (1973-1990), que segue em cartaz até 27 de abril, com visitação das 8h às 20h, no Salão de Exposições e Hall da Biblioteca Central da UnB. Curadora da mostra, a docente Patricia Castillo Gallardo, da Universidad Academia de Humanismo Cristiano, no Chile, palestrará sobre a exposição nesta terça-feira (27), às 9h. 

 

Por meio de desenhos, reproduções de cartas, diários, fotografias, vídeos, panfletos e mensagens, a mostra tem como base um projeto de investigação que engloba criações de meninos e meninas narrando suas experiências cotidianas durante a ditadura cívico-militar no Chile (1973/1990).

 

Para a professora Maria Lidia Bueno, a iniciativa é elaborada de acordo com ponto de vista da criança, em seguimento à abordagem que insere a infância como protagonista na interpretação da realidade. “A exposição traz ideia de amor, aconchego e suporte, que foram transmitidos pelos pais para as crianças. Mesmo vivendo em tempos sombrios, elas comunicam essas sensações”, afirma.

 

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