MEIO AMBIENTE

Pela primeira vez, UnB Cerrado ofertou disciplinas de verão. Comitiva de gestores da Universidade foi até Alto Paraíso prestar apoio ao centro

Os estudantes Ana Dorneles, Ana Carla Pereira, Izabelle Sardinha e João Felipe Fonseca e a professora Clarisse Rocha participaram das atividades letivas. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Das salas de aula do campus Darcy Ribeiro às belezas naturais da Chapada dos Veadeiros. Esse foi o roteiro de quase 25 estudantes da Universidade de Brasília que passaram a última semana em Alto Paraíso de Goiás. Eles fazem parte das turmas que cursaram disciplinas de verão ofertadas pela primeira vez pelo Centro UnB Cerrado. “As expectativas que eu tinha para as disciplinas foram superadas. Aprendi muito sobre o dia a dia de um cientista no campo”, garante o estudante de Biotecnologia João Felipe Machado Fonseca.

 

Tópicos em Ecossistemas do Cerrado e Etnobotânica são disciplinas de quatro e dois créditos, respectivamente, que já integravam a lista de disciplinas ofertadas durante o verão no campus Darcy Ribeiro e que, nessa nova proposta, foram oferecidas pelo Centro UnB Cerrado. “As atividades foram condensadas em uma semana para possibilitar aos alunos uma imersão na experiência de campo. Ficamos juntos em tempo integral, dividindo o tempo entre aula teórica, prática no campo com projetos de fauna e flora, e produção de relatório das atividades”, conta Clarisse Rezende Rocha, professora da disciplina Tópicos em Ecossistemas do Cerrado.

 

Ir a campo em um das regiões de maior biodiversidade do mundo reafirmou para os estudantes a importância do estudo in loco. “Ter um centro da UnB no município é importante porque a região não é apenas um ponto turístico, mas tem muito a oferecer na questão socioambiental e cultural. Foi uma oportunidade única de conhecer um local muito próximo da gente e que, por sorte, ainda tem uma amostra de cerrado muito preservada”, afirma a aluna de Ciências Biológicas Izabelle Nunes Sardinha.

 

Empoderamento é a definição encontrada pela estudante de Ciências Biológicas Ana Carla Pereira Santos. "A gente chega no décimo semestre e, às vezes, tem a sensação de que não sabe nada. Aqui, eles nos deram liberdade para trabalhar no campo. Para isso foi preciso resgatar conhecimento de semestres anteriores. Ao final, percebemos que, de fato, somos capazes de fazer o trabalho", conta. Sobre a importância da região, ela afirma: "é o nosso quintal de casa tanto para conservação quanto para educação ambiental, precisamos aproveitar isso".

 

Renata Corrêa Martins, professora de Etnobotânica, explica que o objetivo da disciplina é tornar o conhecimento tradicional da comunidade acessível, de forma ética e sistemática, e proporcionar um contato de perto com o bioma local. "O cerrado é uma área prioritária para a conservação mundial, exatamente pelo grau de ameaça elevada que a paisagem vem sofrendo. Muitos destes alunos ainda não conheciam a região e trazê-los para conhecer de perto a enorme biodiversidade da flora e fauna que temos aqui, em um trabalho que alia conhecimento tradicional e pesquisa em um viés social, é uma experiência única", afirma a docente. 

A professora Renata Corrêa mostra o banco feito com buriti. Foto: Walace Cavalcante/UnB Cerrado

 

Uma das práticas que os universitários realizaram foi a confecção de três bancos a partir da folha de buriti. “Fizemos a coleta sustentável de um pecíolo de buriti, possibilitando aos estudantes conhecerem o estágio correto para coletar essa parte da folha. Então, em contato com um morador da região, eles aprenderam como confeccionar os bancos”, conta a professora Renata Martins.

 

Ana Braga Dorneles, estudante de Engenharia Florestal, compartilha as reflexões despertadas durante a semana em campo. “Será que o conhecimento está realmente na sala de aula? Não estamos na universidade para sentar em uma cadeira, fazer provas e tirar boas notas. Estamos aqui para nos formarmos como bons profissionais. Para isso, eu considero essa possibilidade de estar no campo uma experiência indispensável.”

 

Para ela, é importante que a Universidade ofereça ajuda de custo aos interessados em cursar a disciplina. “Tenho amigos que não se matricularam na disciplina porque não poderiam arcar com os gastos do transporte até Alto Paraíso, além das despesas com hospedagem e alimentação. Espero que isso seja estruturado para que outros universitários possam ter essa oportunidade também.” 

 

UnB CERRADO – Com sede em Alto Paraíso de Goiás, o Centro UnB Cerrado teve sua concepção iniciada em 2005 durante a Conferência Estadual do Meio Ambiente. O acordo entre UnB e a prefeitura local foi consolidado em 2008 e, já no ano seguinte, o Centro iniciou projetos de pesquisa e extensão que envolvem a comunidade local, acadêmica e científica. O objetivo principal é promover a sustentabilidade socioambiental da região da Chapada dos Veadeiros e implementar políticas educacionais e pesquisas para o conhecimento e a difusão do potencial da região.

 

Atualmente, a unidade funciona em uma casa alugada cujos cômodos foram adaptados em recepção, sala da diretoria, laboratório de informática, laboratório de biologia, biblioteca, banheiros e uma copa, que divide espaço com a sala que geralmente é usada para aulas. No local, porém, não há espaço suficiente para atividades com turmas maiores. Para viabilizar a oferta de verão, o UnB Cerrado contou com apoio do polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no município e do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Nesses locais aconteceram aulas e atividades das disciplinas. 

Parte das instalações já construídas no terreno doado ao UnB Cerrado. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

Mas a falta de espaço não será um problema caso o centro passe a funcionar no terreno de 47 mil metros quadrados doado pela prefeitura de Alto Paraíso. Desses, 1.200 metros quadrados são destinados à parte predial. Algumas edificações previstas para o centro já estão finalizadas, como consultório veterinário, laboratório de informática, laboratório de biologia, herbário, biblioteca, teatro e refeitório. Entretanto, a prefeitura não concluiu a totalidade das obras. Uma decisão do Tribunal de Contas da União apontou problemas na prestação de contas realizada pela prefeitura do município nessa empreitada.

 

Martinho Mendes da Silva, prefeito de Alto Paraíso eleito para o mandato 2017-2020, garante que a nova gestão está preocupada em solucionar o impasse. “Nós temos todo interesse no funcionamento do UnB Cerrado. Como meu mandato se iniciou em janeiro, estou tomando conhecimento desse processo, mas, da nossa parte, faremos o possível para resolver essa situação”, garantiu o prefeito.  

 

Nina Paula Laranjeira, diretora do Centro UnB Cerrado, se diz esperançosa de que o problema seja resolvido. “A universidade era algo distante da realidade da população local, mas, ao longo desses anos, construímos uma relação de confiança e aproximação. Esperamos que o UnB Cerrado se concretize efetivamente, não queremos ver esse patrimônio público desocupado e se deteriorando”, afirma.

 

COMITIVA DA UnB – Conhecer de perto o UnB Cerrado, identificando as potencialidades e necessidades do centro, foi o objetivo da comitiva que visitou a unidade na última sexta-feira (10). Formada por iniciativa do prefeito do campus, Valdeci Reis, o grupo teve representantes das diretorias da Prefeitura (PRC), do Decanato de Administração (DAF) e da Reitoria. O gestor explica que, desde que assumiu a prefeitura, tem visitado unidades e campi subordinados ao órgão, e que o UnB Cerrado está incluído nessa relação. 

 

Comitiva da Universidade posa junto ao prefeito de Alto Paraíso e à diretora do UnB Cerrado em frente ao espaço projetado para ser a biblioteca do centro. Foto: Júlio Minasi/Secom UnB

 

“Essa comitiva mostra o interesse da Universidade em apoiar o Centro UnB Cerrado. É um passo da administração superior para se aproximar dessa unidade", afirmou Alberto de Faria, representante do DAF. O prefeito do campus acrescentou que a comitiva contou com profissionais de diferentes áreas, como segurança, infraestrutura e manutenção, para avaliar as diferentes necessidades do centro. "Nosso propósito é discutir as demandas do UnB Cerrado e verificar como a prefeitura e a Universidade podem apoiar o centro. O que for possível ajudar, queremos fazer”, ressaltou Valdeci Reis. 

 

SERVIÇO – O centro está com inscrições abertas para o curso de Especialização em Sociobiodiversidade e Sustentabilidade no Cerrado. O período segue até o dia 3 de março. A especialização possui carga horária total de 360 horas e são ofertadas 30 vagas. O investimento mensal é de R$389,00 para cobrir despesas com transporte e atividades de campo. Interessados devem solicitar ficha de inscrição pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e na secretaria do UnB Cerrado, em Alto Paraíso.  Telefones: (61) 3107-6344 ou (62) 3446-1710

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