OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman¹

 

Revisitando o Brasil dos últimos 519 anos, podemos nos orgulhar de ícones na nossa cultura e do nosso esporte. Na literatura, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Josué de Castro, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, entre outros. Na música, Heitor Villa Lobos, Claudio Santoro, Radamés Gnattali, Carlos Gomes, Noel Rosa, Caetano Veloso, Tom Jobim, Chiquinha Gonzaga, Vinício de Morais, Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), Chico Buarque, Gilberto Gil, Cartola (Angenor de Oliveira) e outros. Nos orgulhamos também de grandes esportistas, tais como o Rei Pelé (Edson Arantes do Nascimento), Guga (Gustavo Kuerten), Daiane dos Santos, Maria Ester Bueno, Garrincha (Manuel Francisco dos Santos), Marta (Marta Vieira da Silva), Torben Grael e Ana Moser. As nossas homenagens a todos e todas que construíram a tradição cultural e esportiva brasileira.

 

Por outro lado, se analisarmos a história social brasileira, não teremos o mesmo orgulho. Por séculos, a maioria do povo brasileiro viveu em condições precárias, como no período da escravidão. No período colonial, somente 5% da população era alfabetizada. Somente após a proclamação da República, em 1889, foi implantado um sistema de instrução pública e gratuita em que a alfabetização era obrigatória. Atualmente temos no Brasil cerca de 11 milhões de analfabetos. Uma vergonha nacional. O analfabetismo contemporaneamente vai além do letramento, passa pelo domínio de textos e informações e a necessidade de acessar as novas tecnologias.

 

Vivemos em um país com uma escandalosa injustiça social e com uma violência e criminalidade endêmica. A atenção à saúde e a educação da maioria das famílias é precária. A corrupção contaminou todos os setores da sociedade. O desemprego é uma fonte de sofrimento e angústia, principalmente entre nossos jovens. Estamos em uma encruzilhada. Se não fizermos uma grande transformação, uma verdadeira ruptura, vamos chegar no fundo do poço em um caminho sem volta.

 

O que fazer? Temos que mudar o modelo econômico que não deve se pautar com os ganhos econômico-financeiros e, sim, priorizar os objetivos sociais. O desmonte do sistema de Ciência e Tecnologia e das universidade públicas, em curso, deve ser revertido. Deve, sim, ser estimulado, interrompendo um modelo de exportação predatória de nossos recursos naturais, substituindo-o por exportações de inovações tecnológicas, produtos da ciência e inteligência brasileira. É uma questão de soberania. A educação de qualidade para todos as crianças e jovens brasileiros é o melhor investimento para construirmos um futuro virtuoso para o Brasil. Além de preparar nossos jovens para um mundo do trabalho do futuro, a educação deverá incorporar valores e virtudes visando um relacionamento virtuoso com os seus semelhantes e com a natureza.

 

Vamos despertar em cada um de nós os potenciais, a semelhança dos artistas e ícones dos esportes, citados anteriormente, e colocar o Brasil no seu devido lugar, onde cada brasileiro e brasileira possa conquistar seus sonhos e ser feliz.

 

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¹Professor emérito da Universidade de Brasília, doutor em Microbiologia, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (n.Futuros/CEAM/UnB), membro titular de Academia Brasileira de Ciências. Ex-decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, ex-diretor de Avaliação da CAPES, ex-coordenador do Grupo de Trabalho de Educação, da SBPC, ex-sub-secretário de Políticas para Crianças do GDF. Autor, em parceria com Mozart Neves Ramos, do livro A urgência da educação.

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