A obra Uma história da desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil (1926 – 2013) foi escolhida como o Livro do Ano de 2019 pelo tradicional Prêmio Jabuti. A publicação é fruto da tese de doutorado de Pedro Herculano de Souza, defendida em 2016 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília. O livro foi publicado em 2018 pela editora Hucitec.
O trabalho foi reconhecido, em 2017, com o Prêmio ANPOCS de melhor Tese de Doutorado em Ciências Sociais e com o Prêmio Capes de Tese em Sociologia. Agora recebe o prestigiado prêmio de literatura do país, além do primeiro lugar na categoria Humanidades.
“Ganhar o Jabuti é uma honra gigantesca. É um grande reconhecimento da qualidade da nossa produção acadêmica, especialmente em ciências sociais. Nossas universidades estão repletas de pesquisadores brilhantes, que produzem trabalhos rigorosos e de alto nível”, compartilha Pedro de Souza.
Orientador de Pedro de Souza no doutorado e docente do Departamento de Sociologia, Marcelo Medeiros comenta a importância da obra.“Nunca uma série tão longa e tão completa de desigualdade havia sido construída no Brasil. O livro rapidamente tornou-se referência no campo e já foi considerado o livro mais importante da história econômica e das ciências sociais do país da última década”.
A 61ª cerimônia do Prêmio Jabuti foi na quinta-feira (28) e reconheceu ganhadores de outras 19 categorias. O evento é organizado pela Câmara Brasileira do Livro.
A TESE – Em entrevista à UnBTV, o pesquisador falou sobre os achados de sua pesquisa. À época do estudo, 1% da população brasileira concentrava 23% da renda do país. “Quase todos os países do mundo para os quais temos dados estão abaixo de 15%, sendo a média em torno de 12%. Apenas cinco países estão acima desse índice, o Brasil é um deles”, aponta Pedro de Souza, que é técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Segundo o pesquisador, a concentração de renda gera assimetria de poder em quase todas as relações sociais. “Isso implica desde desigualdade de oportunidades até prejuízos no próprio funcionamento da democracia, com a captura de órgãos do Estado e de setores da política por grupos mais ricos.”
O trabalho inovou ao analisar uma série histórica de nove décadas (1926-2013), utilizando dados publicamente disponíveis do Imposto de Renda de Pessoas Físicas (IRPF). Até então a literatura sobre o assunto baseava-se em dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD).
“A PNAD é uma excelente pesquisa, reconhecida internacionalmente. Mas esse tipo de pesquisa [entrevista domiciliar] tem limitações: tende a subestimar muito o rendimento dos mais ricos, porque acaba entrando pouco nos rendimentos de capital e rendimentos financeiros”, esclareceu durante o programa Explique Sua Tese, em 2017.
Pedro de Souza conta que o doutorado “proporcionou o tempo e o foco necessários para conduzir uma pesquisa de maior fôlego e ambição” e que “sem o doutorado não existiria o livro”. Em gratidão ao apoio do professor Marcelo Medeiros, o estudioso afirma: “nada disso seria possível sem a generosidade intelectual do meu orientador, que me apoiou e me ajudou incansavelmente”.
Leia também:
>> Professora da UnB conquista Prêmio Jabuti 2017
>> Professora da UnB conquista Prêmio Jabuti 2015