BOAS-VINDAS

Bióloga e fundadora de iniciativas de divulgação científica, Natalia Pasternak provocou o público na abertura do semestre letivo da graduação

 


Compartilhando sua trajetória pessoal, Natalia Pasternak encorajou estudantes abraçarem o saber científico. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

"Para combater o obscurantismo, é preciso uma boa dose de luz." A afirmação é da bióloga e cientista Natalia Pasternak, palestrante do #InspiraUnB que abriu o semestre letivo da graduação, nesta quarta-feira (13), convidando os universitários a se engajarem em prol do conhecimento científico e contra a pseudociência.

 

“Vivemos em uma sociedade extremamente dependente da ciência e da tecnologia, mas quase ninguém sabe nada sobre isso. Essa é a receita para o desastre. Gastamos com medicina alternativa ao mesmo tempo que faltam insulina para diabéticos, anticoncepcionais para mulheres e médicos para as famílias no Sistema Único de Saúde”, disse a bióloga, inicialmente citando frase do astrônomo e divulgador científico Carl Sagan.

 

“Qual o papel da universidade e de seus acadêmicos perante isso?”, indagou a palestrante. “É nossa responsabilidade, como cidadãos, garantir que somente o conhecimento embasado em evidência científica saia de dentro da universidade e se propague para o mundo”, defendeu. “Vocês têm um papel social para cumprir, porque essa universidade pública vocês recebem da sociedade”, acrescentou, dirigindo-se aos estudantes.

 

Pasternak convidou os alunos a se engajarem para que a universidade seja o “espaço de acesso ao conhecimento sólido, e não de ideologias ou achismos”. Ela lembrou que a pseudociência existe em todas as áreas, a exemplo do movimento antivacina, nas ciências da saúde, e de iniciativas negacionistas do Holocausto, nas humanidades.

 

Ela reforçou que os avanços científicos resultam em novas tecnologias e melhor qualidade de vida. “Pelo menos 20% de vocês não estariam aqui hoje se não fosse por vacinas e antibióticos, porque, antes desses avanços, uma a cada cinco crianças morria por doenças infecciosas antes dos cinco anos de idade.”

 

Decidida a contagiar os estudantes com o apreço pelo saber científico, a palestrante alertou que é preciso fazer "essa bolha de conhecimento crescer até estourar e se espalhar por toda a sociedade. Chegar às esferas de tomada de decisão do governo".

 

A pesquisadora estimulou os calouros a aproveitarem o espaço da universidade para conhecer novas pessoas. "Agradeçam por existirem pessoas que pensam diferente e que podem ajudá-los a mudar de opinião ou resistir com sua ideia. Levem a universidade como estilo de vida por onde forem. Propaguem esse pensamento crítico e racional."

 

>> Valorização da Universidade no #InspiraUnB

 

TROCA DE EXPERIÊNCIA – Ciente de que a escolha profissional não é uma tarefa fácil para muitos jovens, Pasternak incentivou os estudantes a não terem medo das mudanças ao longo do caminho. "Escolhas dificilmente são irreversíveis. Hoje trabalho defendendo ciência e políticas públicas, mas já fui bailarina e atriz amadora", dividiu, buscando tranquilizar a plateia. 

Estudantes dos quatro campi da UnB comparecem à aula magna #InspiraUnB, no Centro Comunitário. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

A palestrante contou ter cursado três anos de Direito antes de ingressar em Biociências. "Será que existem escolham que não dão certo ou elas apenas nos levam por caminhos com diferentes aprendizados?", indagou a bióloga, que possui dois pós-doutorados em Microbiologia pela Universidade de São Paulo.

 

Pasternak também disse que a maternidade foi uma experiência transformadora em sua jornada. “Quando minha filha nasceu, saí dessa bolha chamada universidade para me dedicar em tempo integral à maternidade. Participando de um grupo de mães, tive conhecimento do movimento antivacina e percebi que não podia ficar calada. Era uma questão de saúde pública”, contou.

 

Foi então que se intensificou seu engajamento em prol da divulgação científica. “Expliquei que vacinas eram seguras e comprovei que o trabalho que apontava as vacinas como causa de autismo era uma fraude, um crime. Para minha surpresa, descobri que essas pessoas leigas queriam saber mais sobre ciência”, relembrou a cientista, que é coordenadora no Brasil do Festival Internacional Pint Of Science. Hoje ela também atua como diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência, que visa fomentar políticas públicas apoiadas em evidência científica.

 

Por sua própria trajetória, Pasternak afirmou aos jovens calouros que estar na universidade é “provavelmente a escolha mais importante que eles já fizeram". "Mais do que escolher uma profissão, significa estar em um local de difusão do conhecimento e debate", frisou.

 

Sócia-fundadora do blog de divulgação científica Café na Bancada, a palestrante mencionou o avanço da ciência com a Revolução Científica e com o Iluminismo, relacionado ao movimento das sociedades científicas e literárias em espaços como cafés na Europa dos séculos XVII e XVIII. Pasternak lembrou que, muito antes disso, as pessoas se reuniam para debater ideias em volta do fogo, em templos e memoriais.

Calouro de Medicina, Bruno aprovou a Aula Magna. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB
Calouro de Medicina, Bruno Brandão disse que a aula magna superou suas expectativas. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

Após resgate histórico, Pasternak convocou os acadêmicos a garantir luz em tempos de obscurantismo: “A universidade é nossa fogueira. UnB, sua linda! Vamos fazer fogo e, em cima desse fogo, colocar um bule de café!”, conclamou.

 

DEPOIMENTOS – Ao fim da palestra, o público teve oportunidade de dialogar com a convidada. Calouro de Medicina, o jovem Bruno Carvalho Brandão, 17 anos, mudou-se de São Paulo para Brasília após ser aprovado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele disse ter se identificado com a história de Pasternak, pois estava muito indeciso sobre cursar Matemática ou Medicina, escolha realizada duas semanas antes do prazo final para marcar o curso no processo seletivo.

 

Por ter sido tocado pelas palavras da bióloga, o calouro usou a oportunidade para homenageá-la com uma poesia de sua autoria. “Encerra-se um ciclo. Fecha-se uma porta. Depois do quinto ano veio o sexto. Depois do segundo veio o terceiro. Mas... e agora? Faculdade? Cursinho? Trabalho? Descanso? Qual é o melhor caminho? Seria muito arrogância afirmar que existe uma resposta. Provar-lhe-ei que não existe. Agora, verá muitas portas. E sinto muito em lhe dizer: algumas se fecharão... Talvez bem na sua cara. Talvez caia. Saiba, porém, que a grandeza não está em ficar de pé o tempo todo; mas em saber levantar. Erguer-se. Reerguer-se. E erguer-se de novo.”, recitou o jovem, no encerramento do evento.

 

A aula magna reuniu cerca de 1.200 pessoas no Centro Comunitário Athos Bulcão, no campus Darcy Ribeiro. O evento foi transmitido ao vivo no Facebook da UnBTV.

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