Isabel Belloni Schmidt e Yuri Botelho Salmona
No domingo, 15 de setembro, enquanto comemorávamos o dia do Cerrado no Eixão, com a campanha Cerrado Coração das Águas, alguém achou por bem começar um incêndio, na hora mais quente e seca de um dos dias mais quentes do ano, mirando a nossa maior reserva de Cerrado: o Parque Nacional de Brasília.
O parque, conhecido pelas piscinas de Água Mineral, protege 44 mil hectares de ecossistemas nativos do Cerrado. É morada de tucanos e araras que tanto nos visitam no plano piloto e arredores. Territórios de antas, lobo-guarás e onças. Protege a barragem de Santa Maria e fornece água da melhor qualidade para 1/3 da população do DF.
Ameaçar o Parque Nacional de Brasília é uma afronta ao Cerrado e à população do DF e entorno. O Parque Nacional de Brasília melhora a qualidade de vida no DF oferecendo regulação climática, melhoria de qualidade do ar, abastecimento de água e a oportunidade única de se refrescar nas suas piscinas e trilhas.
A ação criminosa (intencional ou não, mas sempre criminosa) de poucas pessoas ameaçou o parque, e a saúde e o bem-estar de todos. A fumaça tomou conta da parte central do DF, fechou escolas, adoeceu pessoas, aumentou atendimentos hospitalares e gerou gastos de milhões de reais à sociedade brasileira usados no combate aos incêndios que envolveram aeronaves e centenas de pessoas.
Por que os incêndios foram tão dramáticos? O que fez o fogo se alastrar tão rápido?
Há mudanças climáticas em curso, consequência do mau uso de recursos naturais, pela emissão de toneladas diárias de gases de efeito estufa que já mudaram o clima do planeta e já alteraram as dinâmicas climáticas da Terra.
Há também mudanças regionais, que agravam nossa situação no DF. Nunca tivemos tão pouco Cerrado no Planalto Central e no mundo. Destruir o Cerrado é destruir o coração das águas brasileiras, de onde começam a pulsar oito das nossas 12 bacias hidrográficas. O uso desenfreado das águas do subsolo, em poços artesianos e pivôs centrais de agricultura tira dos rios e do solo a água que nos protegia de secas tão severas. Há indícios, também, de que provocar o caos a partir de incêndios seja objetivo de alguns nos tempos recentes.
O incêndio não atingiu estruturas do parque graças a ações de prevenção prévias. Outro incêndio, vindo das proximidades da Cidade do Automóvel apavorando motoristas na EPIA e se aproximando perigosamente de casas no Setor Militar Urbano, não adentrou o parque, graças ao combate direto e, novamente, a ações de prevenção feitos pelo parque.
Que ações podemos ter de prevenção? Como a sociedade pode contribuir para evitar novas catástrofes como esta, no DF, no Cerrado e no Brasil? São ações realizadas no contexto do Manejo Integrado do Fogo (MIF). O manejo no Parque Nacional de Brasília evitou uma tragédia ambiental ainda maior e foi feito com um efetivo de 11 brigadistas em 2024. As unidades de conservação federais têm, há anos, e em 2024, especialmente, evitado ocorrência de incêndios graças à implementação do MIF, incluindo a realização de queimas prescritas, em locais e épocas estratégicas, para evitar incêndios.
Manejar o fogo é muito mais barato e efetivo do que apenas tentar evitá-lo e combater os incêndios. O MIF precisa ser ampliado para todo o país, ir além das áreas protegidas federais. A Política Nacional de MIF (Lei nº 14.944/2024) precisa ser implementada de forma efetiva e urgente.
Nossos órgãos ambientais federais têm atuado corajosamente mesmo diante de restrições orçamentárias severas, impostas à área ambiental pelos diversos interesses econômicos e políticos, mas também pelo desinteresse da sociedade pelo tema. Imagine como seria se os órgãos ambientais brasileiros tivessem estrutura e recursos necessários para cuidar do nosso bem coletivo, a Natureza?
Assim como a Educação, o orçamento da área ambiental deveria ser encarado como investimento e não como gasto, isto reduziria novas tragédias.
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