HOMENAGEM

Membros da comunidade e personalidades que tiveram suas trajetórias de vida marcadas pela instituição deixam depoimentos em homenagem ao aniversário da Universidade

 

Em cada parede, uma história. Em cada corredor, sala de aula, laboratório, pulsa a vivacidade de uma instituição que, aos seus 56 anos, ainda se alça sob os pilares de seus idealizadores Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Concebida para ser aquela que reinventaria a educação superior no país, a serviço do desenvolvimento nacional, a Universidade de Brasília foi fundada em 21 de abril de 1962 como um dos marcos da modernização do planalto central, onde à época havia se instalado a nova capital federal.

A ousadia e o espírito vanguardista de seus fundadores deram impulso à importante missão assumida pela instituição em convergir os mais diversos saberes, se aproximar das questões que permeiam a sociedade e formar profissionais de excelência, com humanidade e cidadania.

"A Universidade foi criada para ser exemplar, em nível mundial. Anísio Teixeira fez da UnB a realização de um ideal coletivo de ensino superior. Ele era um gênio da educação, que encontrou em Darcy Ribeiro um parceiro ideal, pois este era um homem dinâmico, que sabia reunir idealistas ao seu redor", expõe o emérito José Carlos Coutinho, grande conhecedor da história da instituição, da qual faz parte desde 1968.

Nestas mais de cinco décadas de história, o protagonismo é palavra-chave das conquistas promovidas pela instituição rumo a uma sociedade mais justa, equânime, diversa e humana, valores também defendidos na campanha institucional deste ano. "A UnB já nasceu grande, com visão ampliada do mundo e, por isso, ousa com suas práticas sociais arrojadas e com seus projetos pioneiros. Temos o PAS, que é um sistema fantástico e inovador de ingresso à Universidade, e fomos a primeira federal a adotar o sistema de cotas para negros e indígenas", lembra a professora Lúcia Maria de Assunção Barbosa.

Hoje, a Universidade é parte do dia a dia da capital federal. Quantos amigos, negócios e famílias não se formaram aqui? Neste 21 de abril, a Secretaria de Comunicação traz, em homenagem aos 56 anos da Universidade de Brasília, depoimentos de quem também fez, viveu e é a história da instituição. Confira:

 

Foto: Amália Gonçalves - Arte: Secom/UnB

 

Ludmilla Aguiar, professora no Departamento de Zoologia e ganhadora do Prêmio Spallanzani 2017, referência por estudo sobre morcegos.

Se pensarmos em universidades ao redor do mundo, vamos perceber que a nossa ainda é uma criança. Porém, precoce, responsável por inúmeras conquistas. Como estudei a vida inteira em escola pública, tenho muito orgulho de trabalhar na UnB e poder retribuir, com meu trabalho e dedicação, à comunidade que financiou meus estudos. Trabalho para que outras gerações possam ter acesso gratuito a um ensino de qualidade, melhor ainda do que o que eu tive. É nesse ponto que a UnB é precoce, pois, mesmo tão nova, já presta bem essa contribuição. Espero que a UnB cresça e que continue a abraçar toda a comunidade de Brasília, do Brasil e do mundo, sem distinção de gênero, cor, religião, e continue a formar não apenas excelentes profissionais, mas principalmente excelentes cidadãos.

 

Foto: Beto Monteiro - Arte: Secom/UnB

 

Álvaro Bragança, estudante de Contabilidade e primeiro colocado na Olimpíada Brasileira de Contabilidade, em 2017.

Por meio de pensadores como Anísio Teixeira, as universidades públicas no Brasil ganharam a incumbência de ser transformadoras, objetivando a melhoria da sociedade. No bojo dessa luta pela educação, Anísio auxilia Darcy Ribeiro na criação da UnB. Diante deste histórico, estudar na UnB, além de nos proporcionar obter conhecimento numa instituição de excelência, nos ensina que o mais importante é saber usá-lo para o bem comum.

 

Foto: Reprodução UnBTV - Arte: Secom/UnB

 

Susana Xavier, servidora técnico-administrativa e diretora de Diversidade (DIV).

Em 1982, ouvi falar da UnB pela primeira vez. Meu professor de geografia me disse que eu tinha o perfil do estudante da Universidade. Eu tinha 13 anos e fazia a sétima série no Centro Educacional 03 da Ceilândia. O professor dizia que os estudantes da UnB eram críticos, questionadores e "abusados", como eu. Ele tinha razão. Quando tive contato com a UnB, anos depois, primeiro como trabalhadora e depois como estudante, pude ver e sentir toda a energia e força que ela emana e como consegue transmutar tudo e fazer com que o indivíduo questione sua própria existência dentro da sociedade. A universidade é capaz de mudar a realidade de vida de um único jovem da periferia e por meio dele transformar todo o contexto de uma cidade. E nós precisamos muito disso, para não sermos indivíduos inanimados, robóticos e repetidores dos mesmos erros.

 

Foto: Beatriz Ferraz - Arte: Secom/UnB

 

Othon Leonardos, professor emérito da UnB, foi designado pesquisador emérito do CNPq em 2017.

Testemunhei o nascimento da UnB em 1962, pelo reitor Darcy Ribeiro. Era a Universidade dos Sonhos, de quem amava o país e a humanidade da Pátria Grande. Aqui, fui professor e cientista "exato" e humano por mais de 20 mil dias e noites, nem sempre estreladas. Vivi e sobrevivi dentro e fora dos laboratórios, bibliotecas e em trabalhos de campo no interior de Goiás e Mato Grosso. Darcy não mais está entre nós. Deixa seu legado para a primeira reitora da UnB, Márcia Abrahão. Que ele, lá do céu, proteja sua sucessora para que possamos comemorar mais um aniversário da UnB que todos nós somos.

 

Foto: Daniele Souza - Arte: Secom/UnB

 

Marcelo Café, estudante de Letras/Francês e artista vencedor do Finca 2017.

Sou negro e, como quase tudo mundo da periferia de Brasília, acreditava que a UnB não era pra mim. Isso reverberou em minha cabeça por anos. Até mudar de atitude, não por um passe de mágica, mas por conta de políticas públicas que me fizeram pensar de forma diferente. Enxerguei que ali também era meu lugar e que as cotas eram, sim, um divisor de águas para pretos e pretas da cidade. O ambiente universitário tem me dado a oportunidade de convivência com ideias e pessoas diferentes, de acesso ao conhecimento e a mais senso crítico. Esse lugar mudou, inclusive, minha carreira artística, dando-me a consciência da importância de posicionamentos.

 

Foto: Paulo Castro - Arte: Secom/UnB

 

Volnei Garrafa, professor da UnB há 45 anos, leciona no Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde (FS).

Quando cheguei à UnB, em 1973, encontrei-a ainda jovem, com apenas 11 anos de vida. Hoje é uma senhora respeitável, com seus 56 outonos. Nestes meus 45 anos de casa, jamais presenciei situação dramática como a que estamos enfrentando. Diferentemente das truculentas invasões militares do outros tempos, agora temos que lidar com inimigos invisíveis, entre eles os cortes de verbas indispensáveis ao andamento das atividades mais básicas da instituição. Com o recente estímulo à expansão, a UnB quase triplicou sua população acadêmica, seus cursos, sua produção científica. E nada disso é considerado. Mais do que nunca, são tempos de resistência.

 

 

Foto: Rayssa Coe - Arte: Secom/UnB

 

Bruna Martini, estudante de Artes Cênicas e vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Teatro Universitário (Festu) de 2016.

Enquanto aluna da UnB, me senti empoderada artisticamente pelo curso de Artes Cênicas, tanto que até venho questionando estruturas e métodos da própria Universidade. Não vejo como uma coisa ruim, mas como uma construção de consciência, de pensamento próprio, um salto do senso comum. Sinto-me tão artista e tão possível, tanto aqui no Brasil como em qualquer lugar no mundo, não pela possibilidade de portar um diploma, mas, sim, pelos caminhos que aprendi a trilhar na troca com os mestres do curso, com os outros alunos e com o universo que se abre na Universidade. Tenho plena consciência de que a UnB é famosa por gerar criadores, e não apenas executores.

 

Foto: Amália Gonçalves - Arte: Secom/UnB

 

Camila Louise de Carvalho, servidora técnico-administrativa e coordenadora de Arte e Cultura da Diretoria de Organizações Comunitárias, Cultura e Arte (Docca).

Toda a minha formação profissional se confunde com esta Universidade. Como inúmeros alunos, saí da minha cidade para vir cursar aqui minha graduação. Fiz amigos, expandi meus horizontes, consumi e produzi conhecimento e cultura. E agora, como servidora, tenho a oportunidade de retribuir com meu trabalho um pouco do que recebi. Acredito que o vínculo pretérito com a UnB produz em mim uma vontade de contribuir ainda mais, como se reconhecesse ter com ela uma espécie de dívida social. Essa fidelidade vem muito do fato de se tratar de uma universidade pública. A produtividade científica da instituição é a comprovação de que o investimento nela se paga com a formação de bons profissionais, muitos dos quais conscientes de suas responsabilidades sociais.

 

Foto: Luis Gustavo Prado - Arte: Secom/UnB

 

José Carlos Coutinho, professor emérito da UnB, é um dos principais pesquisadores da obra de Oscar Niemeyer e já recebeu título de Cidadão Honorário de Brasília.

Vivia em Porto Alegre na época em que a UnB foi fundada. Em 1968, deixei a minha cidade para colaborar, por seis meses, para levantar o ensino de artes e arquitetura da instituição. E esses seis meses se transformaram em 50 anos. Alguns deles, dramáticos, e só a lembrança já causa emoção. Era idealista, tinha a convicção de que um dia as coisas seriam diferentes e que valia a pena investir em ideais futuros, coisa que não percebo hoje, com exceções. E por elas, vale a pena continuar lutando por um país e por uma universidade melhores.

 

Foto: Gustavo Pastorino - Arte: Secom/UnB

 

Izabella Rocha, ex-vocalista do Natiruts, atualmente com o projeto Gaia, que busca a conexão com o feminino e a natureza. Mãe de três filhos: Gabriela (14), Rafael (9) e Elis (1 ano e 10 meses).

Sou UnB desde criança. Minha mãe se formou aqui e eu era a mascote da turma, porque ela não tinha com quem me deixar. Estou na foto de formatura com todos vestidos de beca. Prestei o vestibular da UnB, mas não passei. Ainda assim, fiz os amigos que me acompanham até hoje, mais de 20 anos depois da nossa apresentação [do Natiruts] no Anfiteatro 9. Conheci meu marido, Bruno Dourado – que também foi da banda – na Universidade. É muito importante manter essa conquista da universidade pública, apesar dos cortes de orçamento e do avanço a duras penas. Levo essa cultura da UnB para a minha vida e da minha família: meus filhos participaram do projeto Música para Crianças, que é importante para o desenvolvimento infantil e faz a diferença.

 

Foto: Amália Gonçalves - Arte: Secom/UnB

 

Renísia Cristina Garcia, professora e pesquisadora da Faculdade de Educação, atuou como conselheira no Conselho Nacional para a Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Cnpir) do governo federal entre 2015 e 2016.

A universidade pública, gratuita e de qualidade é o lugar de produção do conhecimento, da pesquisa e no qual avançamos na avaliação dos próprios problemas sociais. Nos últimos anos, ela tem recebido um número muito grande de pessoas de diferentes segmentos. Vejo isso numa perspectiva de mudança das visões de mundo e de reconhecimento da diversidade do Brasil. Sou mulher negra, sempre estudei em escola pública e hoje atuo em uma universidade pública. Estar na UnB e poder atuar para minimizar a desigualdade da sociedade é, para mim, de extrema importância. É fantástico, porque posso pensar no lugar de fala dessas pessoas e na implementação de políticas públicas, com muito mais concretude e para uma igualdade substancial.

 

Foto: Daniela Franca - Arte: Secom/UnB

 

José Nunes de Cerqueira Neto, doutorando em Direito e autor do blog Como eu escrevo, que reúne mais de cem entrevistas de pesquisadores e escritores de todo o país.

A Universidade de Brasília é um espaço de diversidade e resistência, que me apresentou uma pluralidade de origens, cores e pensamentos. Foi então que reconheci meus privilégios e aprendi a estar em movimento. Se a universidade te promete formação, o que ela entrega é transformação. A UnB me ensinou a fazer as perguntas que importam, trilhar os caminhos possíveis e a ter esperança.

 

Foto: Beto Monteiro - Arte: Secom/UnB

 

Mauricio Gomes Pereira, professor emérito da UnB e membro titular da Academia Nacional de Medicina.

Sou profundamente grato à UnB, que me acolheu nas últimas décadas e me proporcionou a infraestrutura e as oportunidades, essenciais para que eu fizesse aquilo que julgava ter potencial para fazer. A UnB está completando 56 anos e eu estive presente em 50 deles. Admitido em 1968, encontrei na instituição o espaço que desejava na medicina: de professor e pesquisador. Aposentado, continuo como pesquisador voluntário, orientando alunos de mestrado e doutorado. A UnB proporcionou a minha estada na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, para fazer doutorado. A partir de então, passei a me dedicar inteiramente à epidemiologia. Escrevi vários livros e mais de 150 artigos científicos. Se estivesse em outro local de trabalho não teria esta oportunidade.

 

Foto: Thaíse Torres - Arte: Secom/UnB

 

Rodrigo Vegetal, guitarrista da banda Trampa e do Horta Project, graduado e mestrando em música na UnB.

Minha relação com a UnB é para a vida. Foi aqui que decidi seguir a carreira em que me realizo, como músico. No início, ia fazer graduação e encerrar aí, mas o contato que mantive com os professores depois de me formar me fez sincronizar minha carreira com o mestrado. Provavelmente, o que farei dos meus próximos 40, 50 anos é trazer minha trajetória como músico, o rala e o desespero da vida da estrada para cá. Uma universidade pública como a UnB é muito real, porque reflete na sociedade. Pensamos primeiro em cursos que formam professores ou profissionais da saúde, mas a área artística também repercute na vida de todos.

 

Foto: André Gomes - Arte: Secom/UnB

 

Luiz Eduardo Abreu, ex-aluno e professor do Departamento de Antropologia, lecionou por 17 anos em universidades privadas.

A universidade pública não está submetida à lógica da busca pelo lucro, ela visa construir conhecimento. Aqui, somos movidos pela curiosidade, nossa relação com o conhecimento é única. Na UnB podemos exercitar a liberdade. Não me disseram o que tinha de fazer ou como pensar. Se não for a universidade pública, quem vai produzir conhecimento no nosso país? A universidade pública é para a sociedade, diferentemente da privada, que é para os mantenedores.

 

Assista ao vídeo da UnBTV em comemoração aos 56 anos da Universidade de Brasília:

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