Angélica Peixoto de Paiva Freitas
Necessária, sim. Acessível também. Assim deve ser a Universidade.
Numa Terra em transe, para muito além da crítica cinematográfica de Glauber Rocha, a humanidade clama por caminhos consolidados a partir da educação e da ciência. Guerras, fome, mudanças climáticas, pandemias, desinformação, fragilidades nas representações políticas e quantas outras crises poderíamos enumerar? Identificar e tratar demandas tão complexas mobilizam o rigor científico e o desdobramento de pesquisas em campos multidisciplinares de estudo.
E, assim como o dinamismo das relações altera cenários globais ininterruptamente, as estruturas universitárias também precisam se adequar às necessidades de humanização do nosso tempo, como defendia Darcy Ribeiro em A Universidade Necessária (1969). Evolução essa que deve se desenrolar cotidianamente e sempre pautada pelo compromisso com o interesse público.
Ora, do que adiantariam tantas oportunidades e produções acadêmicas fechadas em si mesmas? É a capacidade de a Universidade construir e manter pontes de diálogo com a sociedade que justifica sua razão de ser. Estamos falando de conteúdo, mas, principalmente, de forma. Porque além de vencer todas as etapas de validação científica de determinado objeto de estudo, ainda é preciso disponibilizar tal conhecimento de maneira que texto, estrutura e design estejam tão claros que os leitores a que se destinam consigam, com facilidade, encontrar o que precisam, entender o que encontram e utilizar essa informação. De acordo com a Federação Internacional de Linguagem Simples, essa é a definição do movimento e da causa social pelo direito de entender.
Falar de Linguagem Simples pode parecer contraditório ao ambiente acadêmico que, por natureza, fomenta o conhecimento baseado em formalismos. Entretanto, disponibilizar informações para o exercício da cidadania em Linguagem Simples nada tem a ver com simplismos ou falta de critérios técnicos. Pelo contrário. O esforço e a capacidade de adaptação acabam sendo até maiores. É a velha lógica de que escrever difícil é fácil; mas escrever fácil é que é difícil. E, entre outras razões, é difícil porque requer de quem escreve despir-se de si mesmo, com práticas de empatia e de humildade a cada palavra. Numa dinâmica de encadear pensamentos que democratizem o acesso à informação e ao conhecimento. Como uma mãe que compartilha com o mundo o fruto daquilo que gestou, com gentileza e afeto, primeiro para si.
Diferentes instâncias públicas e privadas, no Brasil e no mundo, vêm despertando para a emergência da simplificação de suas linguagens. Seja pela imposição de normativos e de recomendações; seja porque transparência agrega em credibilidade e reputação; seja porque textos fornecidos ao público a partir de Linguagem Simples evitam gastos e retrabalhos com incompreensões e mal-entendidos. Nessa matemática, todos os envolvidos saem ganhando.
Neste 13 de outubro, em que se comemora o Dia Internacional da Linguagem Simples, a Universidade de Brasília ainda tem desafios imperativos a serem superados individual e coletivamente. A mudança estrutural rumo à simplificação passa pelas particularidades das produções acadêmicas, e também pela desburocratização administrativa de editais, processos e fluxos operacionais da máquina pública. Se estamos “juntos pra fazer a diferença”, como anuncia a campanha institucional da UnB, eis o convite, a hora e a oportunidade para agir. É agora. É já.