Laryssa Lima Basílio
Nesse mês, que é tão significativo para mim como MULHER NEGRA COTISTA, justamente por ser o mês em que comemoramos o Dia da Consciência Negra, faz exatamente um ano que adquiri meus primeiros bottons na UnB. Talvez, para muitos, essa simples demonstração de aquisição possa parecer uma banalidade. No entanto, para mim, a representatividade desses símbolos é muito importante. Levando em consideração minhas origens, eu nunca imaginei chegar tão longe através dos estudos. Sou filha de instituições públicas a minha vida inteira, sou uma mulher negra, com origem econômica na classe baixa (C/D), filha de uma mãe parda que trabalhou como doméstica na casa de famílias da classe alta, e de um pai negro que estudou apenas até a quarta série e não conheceu outra oportunidade na vida que não fosse o trabalho físico, passando por profissões, como açougueiro, cafezeiro e, por fim, se aventurando em seu próprio negócio.
Tive dois grandes exemplos que sempre buscaram me fazer entender a importância dos estudos em busca de uma vida melhor, mesmo sem terem tido a oportunidade de estudar. Nesse sentido, a representatividade desses bottons se faz presente nas minhas origens; sou filha de duas pessoas que me mostraram que, através da educação, eu poderia transcender o inimaginável. Hoje, estou cursando um doutorado em uma das dez melhores universidades públicas do país, na minha área de formação: Educação Física. Esse espaço não foi criado para pessoas como eu, com a minha história de vida, mas pessoas como eu têm chegado a esses lugares, transpondo muros e barreiras que foram veladamente colocadas pelo sistema que diz nos "representar" na sociedade.
Meu doutorado mal começou, mas carrego comigo uma responsabilidade que vai além de mim e dos meus: uma responsabilidade para com outres. É a responsabilidade de mostrar que é possível alcançar sonhos maiores através dos estudos, que é possível transpor classes econômicas, dar visibilidade aos invisibilizados e voz àqueles que nunca tiveram a oportunidade de se expressar. É ser EU e outres presentes nessa sociedade tão desigual, que, pelos interesses de poucos, continuariam nessa mesma configuração.
Por fim, é existir, resistir e persistir. Afinal, parafraseando Gilberto Freyre "a casa grande surta quando a senzala aprende a ler."
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