OPINIÃO

Kleber Aparecido da Silva é professor do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas e do Programa de Pós-Graduação em Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Estudos Críticos e Avançados em Linguagens (GECAL) e o Laboratório de Estudos Afrocentrados em Relações Internacionais da UnB (LACRI). É bolsista de produtividade em pesquisa pelo CNPq – 2A.  kleberunicamp@yahoo.com.br | kleberaparecidodasilva@gmail.com

Kleber Aparecido da Silva

 

Desde a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para as etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, em 2017, e do Ensino Médio, em 2018, há um movimento das secretarias de educação dos estados e municípios brasileiros para a construção de propostas e orientações curriculares referenciadas no documento oficial, tendo como principal premissa assegurar o que é essencial aprender nas escolas nos diferentes componentes curriculares.


Para o componente ‘Língua Inglesa’, os diversos currículos das redes estaduais e municipais de ensino apresentam quadros organizadores com os objetos de conhecimento e as habilidades para o Ensino Fundamental II e/ou Ensino Médio, buscando alinhar-se com o que preconiza a BNCC. Além disso, trazem conceitos de língua/linguagem e aprendizagem como referenciais, de modo que os professores possam colocar em prática as propostas da BNCC.


Com base nesses currículos, as unidades escolares adequam os seus projetos pedagógicos na perspectiva de sua realidade local e orientam os professores na direção de um planejamento de ensino voltado para situações de aprendizagem que atendam às competências específicas do componente curricular, as habilidades e os objetos de conhecimento. Desse modo, cada professor imprime a sua própria metodologia de ensino nas situações de aprendizagem que promove em suas turmas. E é essa perspectiva, a de sala de aula, que esta coletânea de artigos busca enfatizar em diálogo com os princípios teóricos gerais defendidos na BNCC. A intenção não é propor práticas de ensino para as habilidades ou os objetos de conhecimento definidos no documento para o componente ‘Língua Inglesa’, embora algumas propostas de atividades possam estar atreladas, deliberadamente ou não, a certas habilidades, competências, eixos organizadores e objetos de conhecimento.


O objetivo deste livro intitulado “BNCC em ação teoria e prática para o componente Língua Inglesa”, coorganizado com a minha querida colega Rosely Perez Xavier, da UFSC, e publicado pela Editora Mercado de Letras, é oferecer aos professores de inglês, em exercício e em formação inicial, um material de estudo, reflexão e aprofundamento de conceitos teóricos defendidos na BNCC e de como eles podem ser materializados na prática docente por meio de atividades de ensino-aprendizagem. As propostas pedagógicas podem ser aplicadas, adaptadas e avaliadas com o senso crítico do professor. Da mesma forma, este livro pode ser um recurso útil em espaços de discussão pedagógica em reuniões com colegas de área ou em cursos de formação inicial e continuada de língua inglesa. O livro é composto de oito artigos de formadores de professores de diferentes universidades e regiões brasileiras, alguns em parceria com colegas da escola básica, todos com distintas trajetórias teóricas e experiências práticas com a escola básica, mas que partem da mesma concepção de língua defendida no documento oficial, isto é, a língua como construção social (Brasil, 2018, p. 242).


Os artigos abordam os principais pontos teóricos defendidos na BNCC, como a visão de língua em seu contexto de uso, a função social e política da língua inglesa, o inglês como língua franca, a interculturalidade, os multiletramentos, o estímulo à aplicação do conhecimento na vida real, as tecnologias digitais de informação e comunicação e o pensamento crítico. As teorias discutidas nos textos são seguidas de sugestões de atividades práticas para a sala de aula, planejadas para tratar de temas significativos para a vida dos estudantes, como liberdade de expressão (Xavier, Gesser e Krieser), cidadania: anúncios de utilidade pública (Pontara, Miquelante e Cristovão), meio ambiente (Siqueira), cotidiano (Araújo), mídias sociais (Vivan, Nunes e Silva), questões étnico-raciais (Nascimento e Façanha) e diversidade humana, linguística e cultural (Alencar e Maia; Lima e Cardoso). As atividades são apresentadas conforme a perspectiva de ensino e aprendizagem dos autores, podendo ser adaptadas e complementadas conforme o interesse e os objetivos do professor para as turmas com as quais trabalha.


Além da teoria e da prática, os artigos propõem relacionar as atividades sugeridas (a prática) com os princípios teóricos previamente discutidos no texto (a teoria), de modo a promover uma teorização da prática para transformá-la em conhecimento ao invés de considerá-la uma simples ação “praticista” (Novoa, 2009). Assim, quando unimos teoria e prática, criamos um mecanismo de retroalimentação do conhecimento em que a prática se abastece da teoria que, por sua vez, se alimenta do contexto para o qual está sendo produzida. Embora a teoria e a prática tenham propósitos distintos, essa parceria, no âmbito da educação, ajuda os professores a refletir sobre o que está subentendido nas escolhas metodológicas. Nessa perspectiva, todos os artigos seguem a mesma estrutura textual, composta por cinco seções: “Início de conversa”, “A teoria”, “A prática”, “Articulando a prática e a teoria” e “Considerações finais”.


Convidamos você a conhecer esses diálogos e as práticas pedagógicas propostas, buscando também reler a sua própria prática em um processo de “ler, se lendo” (Menezes de Souza, 2011, p. 296). Assim, o conhecimento teórico-pedagógico se amplia e se (re)constrói com as visões plurais em contato com a sua própria visão de praxiologias possíveis de serem colocadas em ação para dialogar com os pressupostos teóricos ensejados na BNCC para o componente Língua Inglesa, e particularmente para atender as competências gerais que se espera dos alunos da Educação Básica, como, por exemplo, (a) “fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”; (b) desenvolver “posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta” e (c) “exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação”, compreendendo-os como elementos necessários para o acolhimento e a valorização das diversidades, do respeito a si, aos outros e aos direitos humanos” (Brasil, 2018, pp. 9-10).

 

https://www.mercado-de-letras.com.br/livro-mway.php?codid=939

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