OPINIÃO

Júlio Barêa Pastore é professor de Paisagismo da FAV/UnB e coordenador de Parques e Jardins da PRC/UnB. Agrônomo pela Universidade Federal de Goiás. Mestre em Paisagismo pela Università degli Studi di Firenze, Itália. Doutor em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo. 

Júlio Barêa Pastore

 

O Jardim de Sequeiro integrará a exposição do Pavilhão Brasileiro da Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia, 2025, sob curadoria de Luciana Saboia (arquiteta, professora da FAU/UnB), Eder Alencar e Matheus Seco, ambos formados pela FAU/UnB. Os três arquitetos acumulam prêmios nacionais e internacionais e, importante frisar, o histórico desta cooperação é indicativo da qualidade que pode advir do nosso ambiente acadêmico.

 

Com o título de (Re)invenção, a curadoria pretende “estabelecer um elo entre tradição e invenção, utilizando elementos que dialogam com o meio ambiente e propõem um ciclo sustentável de construção e reúso”, moldando, em última análise, os territórios e as dinâmicas urbanas. Neste contexto foi incluído, entre casos brasileiros ancestrais e contemporâneos, o Jardim de Sequeiro, tomado em conjunto com o Instituto Central de Ciências, de Oscar Niemeyer e Lelé, sob o tema Plataforma Jardim, assim apresentada pela curadoria:

 

O jardim naturalista de flores, capins e plantas savânicas nasce, cresce, floresce e seca acompanhando a sazonalidade do bioma do Planalto Central em uma grande plataforma existente de estrutura pré-moldada em concreto protendido. Seguindo essa lógica, outras estratégias são expostas como ações projetuais inventivas que se apropriam do existente, criam identidades e fazem do espaço construído uma oportunidade para se reinventar como realidade.

 

É um reconhecimento significativo, que capta a essência do Jardim de Sequeiro como proposta paisagística que busca estabelecer um diálogo coerente com a arquitetura de enorme expressividade do edifício e sua dimensão histórica, assim como responder às demandas e desafios objetivos da Universidade, e ainda inovar no campo conceitual, compositivo e técnico de cultivo.

 

O Projeto Jardim de Sequeiro é recente. Concebido durante a pandemia de covid, plantado pela primeira vez em novembro de 2020, encerra agora seu quinto ciclo. É a principal vitrine da integração entre as frentes de ensino, pesquisa, extensão e gestão das áreas verdes da Universidade, tornada possível pela parceria entre a Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV) e a Prefeitura da UnB (PRC), em ato desde 2016 e formalizada em 2022, com o nome de Viveiro-escola da PRC.

 

Tal parceria tem contribuído para o trabalho realizado pela Coordenação de Paisagismo da PRC e pelo Laboratório de Paisagismo da FAV. A inclusão do Jardim de Sequeiro na exposição brasileira da Bienal de Veneza, assim como o prêmio recebido na V Bienal de Paisagismo da América Latina no México, em 2022, são as mais relevantes mostras dos resultados obtidos, mas de modo algum as únicas.

 

Ainda que o contexto das universidades públicas dos últimos anos tenha sido desafiador, com cortes no orçamento, pessoal reduzido e ataques políticos, os resultados deste esforço, que integra docentes, técnicos, trabalhadores terceirizados, estudantes, parceiros externos e voluntários, começam a permear nossos espaços na Universidade, visíveis no cuidado com a gestão do verde e nas estratégias para uma atuação mais econômica e sustentável.

 

Dentro deste processo, foram fundamentais a estruturação de corpo técnico em paisagismo na PRC e qualificação do viveiro, principal centro experimental e abrigo da coleção de matrizes que, recentemente, ganhou uma expansão denominada Viveiro Seco, onde estão sendo testados jardins perenes e que não demandam irrigação.

 

Este contexto favorece ações integradas de ensino, pesquisa, oficinas e eventos de extensão, ampliando academicamente o tema do paisagismo, envolvendo mais setores da universidade e possibilitando maior eficiência na gestão dos espaços verdes. Essas ações, por sua vez, se correlacionam e estão inseridas numa rede mais ampla de iniciativas relevantes em nossa Universidade, capitaneadas por especialistas de diferentes campos cujo trabalho abrange paisagem, paisagismo e temas afins. Dentre elas, destacamos o Jardim Louise Ribeiro, no Instituto de Ciências Biológicas, o LAB Paisagem, sediado na FAU, o Horto da FCTS, o recente processo de criação do Museu de História Natural da UnB e o trabalho da equipe multidisciplinar sobre o tema no Plano Diretor do Campus Darcy Ribeiro. E muitas outras iniciativas poderiam ainda ser mencionadas.

 

Enfim, por que é importante remontar, ainda que brevemente, todo este contexto aqui, onde se responde à pergunta formulada sobre “o impacto de termos o Jardim de Sequeiro como uma das estratégias sustentáveis expostas na Bienal de Arquitetura de Veneza”?

 

Justamente porque, como o Jardim de Sequeiro nos mostra ano após ano, o principal resultado da florada de cada estação não é seu impacto imediato, mas o fato de que a beleza destes eventos o alimenta enquanto projeto e, em última análise, permite que ele permaneça vivo, ano após ano. Permite, isto é, que continue contribuindo para fortalecer a produção acadêmica e a estrutura de gestão das áreas verdes, assim como incentivando o envolvimento e comprometimento das pessoas, em diversas frentes, que tornam possível o contexto mais amplo que sustenta o jardim. Contexto, aliás, cuja construção demanda tempo e tem a ver com o crescimento das plantas, pois guarda algo de acumulativo e algo de cíclico.

 

Portanto, este enorme reconhecimento recebido pelo projeto agora contribui para divulgar os trabalhos da nossa Universidade para o Brasil e, de fato, para o mundo. E, tão importante quanto, contribui para a própria permanência do Jardim de Sequeiro e do contexto de pesquisa e inovação em paisagismo do qual ele advém e é mostra. Em suma, tal reconhecimento nos dá força para continuar.

 

A Bienal de Arquitetura de Veneza é, sem dúvida, uma das principais mostras internacionais, e a participação brasileira vem recebendo ampla cobertura da mídia. Para quem estiver acompanhando, antes mesmo da abertura, a nossa universidade já vem tomando espaço nos principais veículos no Brasil e no exterior. A abertura da exposição, prevista para 10 de maio, vai nos permitir conhecer integralmente o trabalho da curadoria. Mal podemos esperar!

 

 

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