Izabel Zaneti

Os resíduos têm sido um dos maiores problemas da sociedade de consumo, que crescem sistematicamente, em quantidade e complexidade, o que representa um grande desafio para a sua gestão. Em recente visita à CENTCOOP-DF, em março de 2025, observei a péssima qualidade da coleta seletiva. Absurdos como fraldas infantis e pães misturados com os resíduos secos corriam nas esteiras onde as catadoras faziam a triagem da coleta seletiva. Aquilo me chamou atenção e fiquei abismada com o desleixo da população em relação ao seu descarte em plena capital federal. E fica a indagação: o que a universidade pode fazer?

A universidade tem um papel muito importante na produção e na difusão de conhecimentos e nas ações capazes de dar respostas a estes problemas socioambientais. Ao longo destes anos, a reitoria da UnB, a PRC e o Decanato de Extensão têm desenvolvido um trabalho interdisciplinar, com diversos departamentos, faculdades e centros na gestão de resíduos na universidade desde a implantação da Agenda 21 (1996), Agenda Ambiental (2010), Núcleo da Sustentabilidade (2014) com a participação dos 4 campi, seguida pela criação da SeMA (2019). Participei como coordenadora da Agenda Ambiental, do Núcleo da Sustentabilidade e do Projeto Coleta Seletiva Solidária/CDS, DEX, onde produzimos uma série de materiais didáticos como vídeos e cartilhas com tradução em braile.

Falar da coleta seletiva nos remete a uma discussão interdisciplinar, pois, além dos diferentes olhares da equipe, debatemos temas que se relacionam com os resíduos sólidos, com os objetivos do Lixo Zero, dos ODS, com a educação ambiental, a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade. O movimento Lixo Zero vem agregar à UnB, uma cultura já existente e resistente. Prevê uma escolha radical, em escala global e colaborativa, a partir de ações das cidades, para zerar o descarte de resíduos. A união desses dois conceitos pode viabilizar uma nova forma de gerir resíduos em grandes, médias e pequenas cidades. Para a Zero Waste International Alliance – ZWIA¹, lixo zero é uma “meta ética, econômica, eficiente e visionária para orientar pessoas a mudar seus estilos de vida e práticas para emular ciclos naturais sustentáveis, onde cada material descartado seja projetado para tornar-se recurso para outros usos.

Lixo Zero significa desenhar e gerir produtos e processos para sistematicamente evitar e eliminar o volume e toxicidade de lixo e materiais, conservar e recuperar todos recursos naturais, e não os incinerar ou aterrar”. (SABATINI E WANDERLEY, 2021)². O objetivo de uma cidade ao implementar o conceito Lixo Zero é eliminar todos os descartes na terra, nas águas ou na atmosfera que podem ser prejudiciais à saúde humana, animal e vegetal, abolindo a perspectiva linear de deposição final. Um produto que não pode ser reutilizado, reparado, reconstruído, restaurado, refinado, revendido, reciclado ou compostado, provavelmente não deveria existir.

Esse conceito evidencia a urgência de mudança na abordagem e no tratamento do lixo e dos resíduos sólidos, adotando 4 princípios básicos:

· Converter desperdício em gerenciamento de recursos;

· Redesenhar produtos e métodos de produção para eliminar resíduos;

· Evitar a incineração e o aterro sanitário;

· Criar um modelo colaborativo das sociedades em todo o mundo, com foco no compartilhamento de ideias relativas ao conceito lixo zero. (zwia.org)

Todos os projetos acima citados, as ações do Lixo Zero, contribuem para que a universidade cumpra o seu papel de educar, conscientizar e orientar a comunidade acadêmica e a sociedade frente aos problemas socioambientais. A Extensão da universidade leva em conta que os ensinamentos motivam, os exemplos arrastam. 30 de março comemorou-se o Dia Internacional do Lixo Zero e penso que é um dia para a reflexão sobre as nossas atitudes, postura e como podemos melhorar a coleta seletiva e analisar a nossa relação com os resíduos.

Referências

1. Zero Waste International Alliance – ZWIA é a Aliança Internacional para o lixo zero, uma organização multidisciplinar, formada por professores, cientistas e estudiosos do conceito “lixo zero” que conduzem debates sobre o tema em todo o mundo, desde 2002, oferecendo treinamento e suporte de conteúdo para governos e sociedade civil para implementação do modelo lixo zero. No Brasil, aliança tem uma ramificação: o Instituto Lixo Zero.

2. SABATINI, R.; WANDERLEY, T. Cidades Lixo Zero. Florianópolis: Instituto Lixo Zero Brasil, 2021.