EXCELÊNCIA

Foram duas obras finalistas e três semifinalistas na segunda edição da premiação, promovida pela Câmara Brasileira do Livro

 

O livro A cientista colecionadora de dados - Claudia Maria Bauzer Medeiros, com participação de Aletéia de Araújo (em azul e verde), concorreu na final do Prêmio Jabuti 2025, em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal

 

A UnB foi destaque na segunda edição do Prêmio Jabuti Acadêmico com cinco obras. Os livros finalistas foram Abjeção: a construção histórica do racismo, de Berenice Bento (SOL), e A cientista colecionadora de dados - Claudia Maria Bauzer Medeiros, com Aletéia de Araújo (CIC) como uma das autoras.

 

A obra de Araújo concorreu na categoria de Ciência da Computação e contou a história da primeira mulher presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), a cientista Claudia Medeiros. O livro faz parte de uma série literária cujo objetivo é homenagear figuras femininas vivas importantes para a área. “Marcamos uma entrevista com elas, fazemos uma série de perguntas para fazer essa pesquisa da vida delas, depois a gente parte para escrever e compartilhar isso com elas”, explica, sobre o processo.

 

O livro ilustrado buscou trazer o conteúdo de cientistas para o público infantil. Segundo a ex-coordenadora do Meninas.comp (@meninas.comp), projeto de extensão da UnB, “no ensino médio é muito tarde. Elas já chegam no ensino médio com aquele falso estereótipo de que computação é pro meu irmão. ‘Olha, meu pai disse que é o meu irmão que gosta de videogame. É ele que tem que fazer computação’”.

 

Para Araújo, a indicação foi uma surpresa: “Nosso livro era o único que não era puramente técnico. Isto é uma quebra de paradigma mesmo, porque se você pega o livro, nós trazemos de forma muito superficial e foi proposital isso, trazer conceitos lá da computação como conceito de dados”.

 

Na categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais, o livro de Berenice Bento retrata paralelos da escravidão com a atualidade. “Era uma proposta de lei que discutia o que estava sendo incidido sobre um corpo específico, um corpo reprodutivo, o corpo da mulher. Comecei a perceber e me questionar se a categoria de gênero mulher alcançava esses corpos dessas mulheres escravizadas.”

 

A autora trouxe a reflexão de empatia feminina com a comparação do Conto da Aia — livro de Margaret Atwood que retrata uma sociedade patriarcal onde a única função das mulheres é a reprodução forçada pela e para a elite.  

 

“Aquela cena do estupro que tem no Conto da Aia é a nossa própria história, que está no nosso DNA biológico inclusive. Essa é uma pesquisa sobre DNA brasileiro, onde 70% da população é mestiça, tem sangue negro. De onde que vem essa mestiçagem? Dos estupros autorizados consentidos. E se produz uma grande comoção e identificação tremenda com o romance, quando a realidade é muito mais terrível”, explica Berenice.

 

SEMIFINALISTAS — Pela Editora UnB foram indicados dois livros: Matronas Afro-pacíficas: tramas da resistência na fronteira Colômbia-Equador, de Paula de Melo e Solos: uma introdução, de Tairone Leão (FAV). Além disso, a obra O Mundo das Eriocaulaceae: Sempre-vivas, Chuveirinhos e Capim-dourado, de Caroline Andrino (BOT), foi indicada na categoria Divulgação Científica

 

Também na categoria de Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais, o livro de Paula de Melo resultou da tese de doutorado em Antropologia na UnB, feita em intercâmbio com universidade colombiana, a respeito das matronas, matriarcas que ficam na fronteira entre o Equador e Colômbia em território ancestral desde 1553. 

 

O lançamento do livro foi feito durante a programação #8M2025 da Universidade – ação no mês de março para celebrar o dia das mulheres. “É uma luta por equidade de gênero, então tem uma pegada muito forte ligada aos movimentos de mulheres, aos processos de emancipação de empoderamento feminino. Entendemos que lançar durante o 8M era expressivo."

 

A obra de Tairone Leão, indicada à categoria de Geografia e Geociências, surgiu após o docente notar a falta de material didático específico a respeito da temática. “Viemos combinando as notas de aulas há um tempo. Um pouco antes da pandemia, tive essa ideia de juntar tudo", detalha. O livro abordou 13 ordens taxonômicas – forma de classificação da ciência dos seres vivos – do solo. 

 

"Hoje trabalhamos com muito pouco reconhecimento em certas áreas acadêmicas. A academia se voltou para poder valorizar coisas que talvez não são as coisas que deveriam ser valorizadas. Você paga um dinheiro absurdo para publicar artigos que são irrelevantes e só o quantitativo conta. Então, ter um reconhecimento de um livro que é um trabalho quase de um artesão, quase de uma construção artística, me deixa muito satisfeito", compartilha.

 

A pesquisa científica de Caroline Andrino, em parceria com Fabiane Nepomuceno da Costa (UFVJM), tratou da família Eriocaulaceae, o chuveirinho do Cerrado. “É um livro que traz uma visão nova sobre um tema que falamos pouco. Existe o conceito da intercepção botânica, que diz que somos mais suscetíveis a apreciar a fauna do que a flora", contextualiza. Ela enxerga a indicação ao Prêmio Jabuti Acadêmico como um incentivo para pesquisadores que trabalham com ciência fundamental.

 

A cerimônia da premiação derivada do tradicional Prêmio Jabuti para obras literárias, instituído em 1959 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), aconteceu em São Paulo, no mês de agosto.

 

*Estagiária de Jornalismo na Secom/UnB

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