A tradicional Mostra de Extensão da UnB cresceu e traz ideias que mostram o quanto a academia está comprometida em se aproximar da comunidade fora de seus campi com ações de impacto. Até esta sexta-feira (28), o público externo e interno pode conferir diversas apresentações no Pavilhão Anísio Teixeira (PAT), campus Darcy Ribeiro. Mais de 200 projetos vinculados ao Decanato de Extensão (DEX) terão sido apresentados ao fim dos três dias da mostra.
Dedicada à saúde, a quarta-feira (26) trouxe trabalhos voltados para aplicação social. Gabriela Mendes, estudante do quinto semestre de Terapia Ocupacional na FCE, e Rayane Dias, do terceiro semestre de Enfermagem no Darcy, apresentaram projetos ligados à gerontologia.
As ações desenvolvidas por Gabriela no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Pibex) são voltadas a cuidadores de idosos com demência, em sua maioria, pacientes com Alzheimer. A doença neuro-degenerativa provoca perda de memória recente e mudança de comportamento e personalidade, reduzindo a capacidade de interações sociais.
“Na maioria das vezes, esses idosos têm como cuidadores os familiares. Nem sempre eles entendem que a grosseria é consequência da doença. Também ignoram a importância de estar bem para cuidar de alguém”, conta Gabriela. Um dos objetivos do curso semestral oferecido pelo projeto é entender o processo de envelhecimento e suas decorrências para o paciente e aquele que é seu apoio. “Os cuidadores muitas vezes não percebem o desgaste físico e emocional pelo qual passam”, acrescenta Rayane.
Uma das novidades da Mostra Pibex em 2018 é a avaliação dos trabalhos. Até a última edição, havia apenas controle de frequência dos expositores. “Neste ano, há uma equipe de avaliação formada pelo corpo docente e técnico da Universidade”, diz o servidor do DEX Eder Santos, coordenador de avaliação da atividade de extensão.
“A qualidade dos trabalhos está muito boa. É possível ver que os alunos gostam daquilo que apresentam e têm muito potencial para expandir e ficar ainda melhores do que já estão”, opina Carolina Moura, doutoranda da Medicina Tropical e uma das avaliadoras. Gosto pelo trabalho, aliás, é o que têm em comum Danillo Vieira e Luísa Marques, alunos do quinto e quarto anos da Medicina.
Luísa levou ao público o Hospital do Ursinho, que tenta combater o medo de hospital e médicos entre crianças. Danillo é extensionista no projeto Saúde Integral em Famílias Carentes do Distrito Federal, que leva atendimento multidisciplinar para o lar de famílias em quatro localidades do DF. “Sinto que a extensão me trouxe um novo olhar. Nossa ação é integrada, assim como o ser humano. Em um hospital não tenho a visão que tenho conhecendo a casa e a família toda”, compartilha.
Os dois eram vizinhos de pôster na Mostra Pibex e estavam bem inteirados sobre os projetos um do outro. “Todo munda gosta do Hospital do Ursinho”, brinca Danillo. O projeto apresenta em escolas um hospital dividido em quatro estações, onde a criança é o médico e o ursinho, o paciente. Os alunos de primeiro e segundo ano do ensino infantil escolhem o nome do paciente ursinho e o problema de saúde que ele apresenta, que pode ser qualquer coisa, desde um coração partido a uma perna quebrada.
Primeiro é preciso passar pela triagem, na qual o médico, orientado pelo guia do projeto, irá pedir exames, em uma rotina muito semelhante à do acolhimento hospitalar. “Quando o ursinho precisa de uma injeção ou vacina, frisamos que dói, sim, um pouquinho, mas que aquilo é pelo bem dele. Algo interessante é que a criança reflete muito o que é sentido pelo paciente”, conta Luísa.
No projeto, não importa qual seja o problema de saúde apresentado, os ursinhos sempre passam por uma operação, para que a criança tenha a experiência de um centro cirúrgico. “Imagine o quanto deve ser assustador para ela precisar entrar em um, como algo que nunca viveu antes”, explica a estudante.
Depois do tratamento, os pequenos médicos retomam o diagnóstico inicial feito no ursinho pela escala de dor facial – geralmente utilizada em bebês, por não terem como dizer o que sentem. Em quase 100% dos quadros, ele sai de triste, ou com raiva, para feliz.
RIR É O MELHOR REMÉDIO – A Liga do Riso, do Departamento de Enfermagem, leva o riso acolhedor e terapêutico a pacientes e seus acompanhantes no Hospital Universitário (HUB). “Muitas pessoas pensam que não tem base científica no que fazemos, mas nossa experiência reflete o que está descrito na literatura”, conta Francyelle Lopes, aluna do oitavo semestre de Farmácia, que participa do projeto há três anos.
Os integrantes da Liga têm levado o projeto a congressos e eventos da área. Na Espanha, por exemplo, a recepção foi muito boa. “Somos um Projeto de Extensão de Ação Contínua (Peac). Buscamos produzir conhecimento e também participar de eventos técnico-científicos. Rir é o melhor remédio, mas onde está a ciência disso?", provoca a professora Beatriz Vieira, do Departamento de Enfermagem. Orientado pela docente, o projeto reúne alunos de diversos cursos.
Miguel Costa, estudante do quarto semestre de Letras – Português é um deles. Ele estava na organização da jornada científica promovida pelo grupo em maio deste ano. No evento, os mestres de cerimônia estavam vestidos de palhaço. “O resultado foi positivo e é importante porque resulta em ainda mais humanização”, conta. “Quero ser um profissional humanizado”, afirma Miguel.
“Atendemos no HUB e parte considerável do público vem de outras localidades, fica muito tempo em um ambiente diferente, completamente estranho. Esse ser humano deixa de ser parte da sociedade”, relata Francyelle Lopes. Além de levar histórias, músicas, abraços, jogos e pintura, o grupo também orienta os pacientes e seus acompanhantes quanto aos direitos que possuem. Afinal, como um bom projeto de extensão universitária, o grupo está lá para fazer a diferença.