EXTENSÃO

Com sessões na Asa Norte e em Planaltina, evento nesta quinta (21) reúne personalidades que se destacam em atuações políticas, acadêmicas e sociais

 

Com o objetivo de propagar e promover reflexão sobre ações e relatos de experiências de mulheres que transformam a sociedade por meio de sua atuação acadêmica, social e política, acontece nesta quinta-feira (21), às 10h, no anfiteatro 9 do ICC, campus Darcy Ribeiro, o evento Mulheres que transformam.

 

 

Participam Ana Flávia Magalhães Pinto, professora da UnB, Gina Vieira, criadora do projeto Mulheres Inspiradoras, Lola Aronovich, do blog Escreva Lola Escreva, e Sabrina Fernandes, do canal no Youtube Tese Onze.

Com um trabalho sobre despolitização e fragmentação da esquerda no Brasil, Sabrina ganhou o prêmio de Tese Destaque da Associação Canadense de Estudos Latino-Americanos e do Caribe (ACELAC) em 2018.

Em seu canal na internet, ela compartilha informações e análises sobre política e sociologia com uma abordagem acessível. Na entrevista a seguir, Sabrina conta sobre o processo para a criação do canal e aponta o que necessário para que o feminismo prospere.

O que te motivou a levar discussões mais profundas a públicos mais amplos?
Já é muito comum estender discussões teóricas e análises da realidade para as redes sociais. No geral, são comentários de acadêmicos e lideranças em suas redes pessoais e em blogs. Às vezes esses comentários são bastante aprofundados e acompanham sugestões de literatura e bibliografias, mas o alcance nem sempre é garantido. Isso fica mais evidente quando consideramos o textão do Facebook. Eu era uma dessas pessoas que buscava intervir nos debates através das minhas redes, especialmente trazendo elementos da minha pesquisa. Mas o alcance deixava a desejar e vez ou outra havia ruído no debate. Meu irmão sugeriu que eu criasse um canal no YouTube, já que eu sabia gravar e editar vídeos. No começo, minha proposta era mais focada em divulgar a pesquisa, sem muitas pretensões. Com o tempo, realmente entendi o potencial de ser uma comunicadora política e científica e passei a ver o Youtube, o Instagram, o Twitter e podcasts como meios bastante produtivos para fomentar o debate.

A presença nas redes é difícil para você? Como lida com os haters?
Pode parecer que não, mas eu sou uma pessoa privada. Antes de me aventurar como comunicadora, eu era uma pessoa com redes privadas, somente para amigos próximos. Tive que me adaptar bastante a estar rodeada de estranhos nas redes, alguns com boas intenções e outros com péssimas. No começo foi bastante doloroso, especialmente para compreender a maldade e intenção destrutiva de pessoas do meu próprio campo político. Hoje eu não diria que estou vacinada, mas estou acostumada. Aprendemos a equilibrar positivo e negativo. O contato diário com pessoas construtivas também ajuda a compensar qualquer outro desgaste, desde xingamentos a ameaças.

Por que você costuma criticar o feminismo liberal, que tem um apelo mais abrangente?
Além de focar na teoria marxista como socióloga, sou adepta e militante do feminismo marxista. No feminismo marxista, entendemos que a opressão das mulheres não parte apenas de expressões de machismo ou de uma estrutura isolada chamada patriarcado. Ao contrário, vemos o patriarcado como uma estrutura que se apropria dos corpos e da existência de mulheres através da propriedade, posse, exploração econômica, e a partir da subjugação das mulheres nas esferas privada e pública. Apesar das mulheres serem oprimidas desde antes do capitalismo, a lógica dessa opressão é similar à do capitalismo e hoje elas estão completamente entrelaçadas. Não considero possível libertar as mulheres como um todo sem também combater o capitalismo. Por outro lado, o feminismo liberal individualiza pautas, torna o tema uma questão de rever e negociar privilégios, e é demasiadamente elogioso do empoderamento econômico de umas, sem considerar o que ocorre com todas. É algo para se ficar alerta. O empoderamento precisa ser uma ferramenta para se tomar o poder, e não para fragmentar o poder individualmente dentro das mesmas estruturas.

Você considera que a luta pela igualdade de gênero avançou nos últimos anos?
Podemos argumentar, com base em diversas estatísticas, que tivemos avanços em termos de acesso a educação, a mercado de trabalho, e algumas garantias de direitos. Todavia, mudanças estruturais ainda não foram implementadas. Isso se reflete na luta diária por reconhecimento, por integridade física e por controle dos nossos próprios corpos. O movimento feminista precisa reconhecer a necessidade de se organizar de forma revolucionária, especialmente ao considerar que quando falamos de igualdade, não basta uma igualdade mediana dentro de um capitalismo que nos divide. É preciso ousar e sonhar igualdade de gênero numa sociedade mais livre e mais plena.

Mulheres que transformam é promovido pelo Decanato de Extensão (DEX) e faz parte da programação do Mês das Mulheres da UnB, iniciativa da Diretoria da Diversidade (DIV/DAC). O evento é aberto ao público em geral. Não é necessária inscrição prévia. À tarde, às 16h30, uma nova sessão acontece na Faculdade UnB Planaltina, com as presenças de Lola Aronovich e Elisabeth Andreoli, docente da USP que atua como professora colaboradora na UnB.

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