Esta semana, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), emitiu avisos de precaução devido ao clima severo em todo o país. No Distrito Federal (DF), foi emitido o Alerta Laranja, com expectativas de temperatura 5ºC acima da normalidade para a época. Dados do monitoramento do clima do DF apontam mudanças significativas: em seis décadas, a temperatura média aumentou 1,85ºC; a temperatura máxima subiu 2,10ºC; e o número de dias com umidade abaixo de 30% no ano aumentou de 24 para 50 dias. Já a amplitude térmica, caracterizada pela diferença entre a temperatura máxima e mínima registradas em um período (o que, no DF, às vezes, significa dias quentes e noites agradáveis), apresentou redução.
O Laboratório de Sustentabilidade aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo (LaSUS/FAU/UnB) investiga, por meio de metodologias diversas e mais precisas de monitoramento, as relações entre o uso do solo e o microclima em diversas regiões do Distrito Federal. “O local escolhido para ser Brasília foi definido pelo clima. Era ameno, e nós mudamos isso em pouco tempo. A previsão para 2070 é ainda mais preocupante, com um aumento de 6ºC”, explica Marta Romero, professora aposentada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UnB). Para ela, são necessárias medidas de mitigação e uma política de adaptação às mudanças climáticas. “Não é algo que seja fácil, mas isso tem que começar, tem que ser política de Estado”, ressalta.
No LaSUS, os primeiros passos já foram dados. Pesquisadores de diferentes áreas, como Arquitetura e Urbanismo, Geologia e Física, se uniram para investigar as interações entre o uso do solo e o microclima. Desde 2018, monitoramentos são realizados em diversas regiões administrativas do Distrito Federal, e foram detectadas variações de temperaturas em locais como o Paranoá e o Itapoã.
O acompanhamento feito pela UnB utiliza três métodos distintos para o monitoramento: análise das imagens de satélite que geram dados de grandes áreas; espalhamento de equipamentos em pontos fixos, por certo período de tempo, para coleta de informações; e o uso de um dispositivo (transecto) móvel, que pode ser colocado no carro ou em uma mochila para observação.
“No ponto em que o dispositivo vai passando, vai tendo acesso aos valores de temperatura, umidade e da pressão daquele local e esses dados são coletados”, detalha Erondina Lima, professora do Instituto de Física (IF). “É um material que foi ideia da FAU, surgida da necessidade de monitorar espaços pequenos e ter uma tecnologia que suporte esse objetivo. Quando eu espalho mais equipamentos de análise, consigo coletar de vários pontos, e, assim, fazer um detalhamento do microclima daquele local”, completa.
A construção civil em constante crescimento no DF é tida como uma das causas da variação de temperatura. “Tem uma diferença enorme entre um meio natural e o meio construído. O segundo concentra o calor, que tem dificuldades em se dissipar devido ao grande número de estruturas, como as de concreto”, esclarece Marta Romero. Ela explica que o calor fica retido em uma espécie de redoma e se cria um microclima naquela região, conhecido como ilha de calor. Esse fenômeno acaba causando outros problemas além da mudança do clima local, como a retenção de poluição na área e aumento de algumas doenças.
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*Com informações da UnBTV.