SAÚDE

País registrou no ano, ao menos, 1.016 mortes pela doença. Conheça medidas de combate ao vetor em casa e na Universidade

UnB está mobilizada no combate ao mosquito causador da dengue. Em 2022, o projeto ArboControl instalou armadilhas (acima) pelo ICC para capturar exemplares do vetor, monitorar os focos no prédio e testar um inseticida natural. Foto: Beto Monteiro/Ascom UnB

 

Em 2022, o Brasil bateu o recorde de mortes por dengue. De acordo com os dados divulgados este ano no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), foram 1.016 ocorrências – maior número desde 2015 – e, pela primeira vez, estados do Sul do país registraram um número alto de mortes pela doença. O quantitativo cresceu em 400% em relação a 2021. Juntas, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste concentraram 80,7% dos óbitos.

 

Brasília foi a cidade com o maior número de casos prováveis de dengue: foram 70.672. O Distrito Federal também registrou aumento de mais de 500% nos casos de janeiro a abril de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021. Especialistas da UnB analisam o crescimento das infecções e dos óbitos no Brasil e orientam a comunidade no combate ao mosquito transmissor Aedes aegypti, em casa e na Universidade.

 

O virologista e professor do Departamento de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (IB) Bergmann Ribeiro sugere que, além do afrouxamento das medidas para evitar a reprodução do vetor, a ampla retomada das atividades entre a população, em 2022, após a fase mais crítica da pandemia de covid-19, pode estar entre as razões para a elevação de mortes em decorrência da dengue. Isso porque a transmissão da dengue está relacionada não somente aos focos do mosquito vetor, mas também à circulação de pessoas que, quando infectadas, potencialmente podem espalhar o vírus ao serem picadas pelo Aedes aegypti.

O professor do IB Bergmann Ribeiro associa o espalhamento de casos de dengue em 2022 à retomada da ampla circulação de pessoas no ambiente urbano com o arrefecimento da pandemia de covid-19. Foto: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

 

O docente do IB cita um artigo produzido sobre as infecções por dengue antes e depois da pandemia de covid-19, até 2022, em países asiáticos e da América Latina. O estudo constatou uma diminuição nos casos de dengue durante o fechamento de escolas e do comércio. Em 2019, por exemplo, houve mais de 4 milhões de casos de dengue nesses locais, enquanto em 2020, durante a pandemia, foram notificados 2,28 milhões, uma redução de 44,1%. Os pesquisadores relacionam a diminuição do número de casos com a redução da circulação de pessoas, o que tem se invertido a partir de 2022, período em que o vírus da dengue voltou a se espalhar intensamente.

 

“Isso indica que a transmissão da dengue geralmente está associada à convivência de pessoas nesses lugares”, disse Bergmann. “Quanto mais pessoas são infectadas, a probabilidade de transmissão da dengue para uma pessoa suscetível, que tenha algum problema imunológico de defesa contra a infecção, por exemplo, aumenta, assim como a probabilidade de termos mais pessoas com ocorrências graves”, afirma o professor.

 

Segundo Bergmann, ainda não há estudos suficientes que certifiquem a maior suscetibilidade de pessoas acometidas pela covid-19 ao vírus da dengue, com consequência de morte.

 

Outra possibilidade para a disparada dos óbitos é o aumento de reinfecções pela dengue em algumas regiões, o que eleva as chances de agravamento da doença. "Isso pode ter influenciado também essas regiões com a dengue já endêmica e com várias pessoas que tiveram dengue pelo menos uma vez e que pegaram um outro sorotipo. Você pode ter uma doença mais severa e isso pode causar a morte", salienta.

 

Já em relação à região Sul, Bergmann observa uma tendência de mudanças climáticas que podem ter relação com a maior incidência da dengue. "O Sul do Brasil era uma região que tinha poucos casos de dengue, mas com as mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global – até existem trabalhos dizendo que o Sul do país está se tornando mais quente, como outras partes do mundo – e o mosquito se adaptando [a esse clima], ele está invadindo essa região e levando também a doença junto."

Em 2022, Wildo Navegantes deu uma entrevista à UnBTV, na qual comentou o aumento do número de casos da doença no DF e no Brasil. Imagem: Reprodução/UnBTV

 

Professor de Epidemiologia da Faculdade UnB Ceilândia (FCE), Wildo Navegantes também tem algumas hipóteses para o maior número de óbitos no país: “A população não está valorizando o quadro clínico inicial da doença e não está se preocupando em buscar oportunamente o sistema de saúde; possível maior frequência de casos de dengue pelo novo subtipo chamado Cosmopolitan, que precisa ser melhor pesquisado no Brasil; frágil atenção à saúde, principalmente na atenção primária, no acolhimento e na observação dos usuários do SUS [Sistema Único de Saúde] com quadros suspeitos ou confirmados de dengue; ou, ainda, um número tão alto de casos que ultrapasse a capacidade de atendimento do sistema de saúde”.

 

O grau de urbanização desorganizada das grandes cidades e o processo de adaptação climática e urbana do mosquito são também fatores a serem observados. No DF, o agravamento da presença da dengue em algumas localidades pode estar relacionado com a infraestrutura da cidade. "Essas regiões administrativas são aquelas onde temos uma estrutura social com mais casas, quintais e condições que viabilizam a manutenção do mosquito. Se a sociedade não entrar nesse jogo da contenção da doença, não tem forma de controlar", observa em entrevista concedida à UnBTV.

 

Wildo Navegantes afirma que os cuidados com a dengue não mudaram e que “passam por evitar deixar recipientes que permitam o acúmulo de água, impedindo que as fêmeas do Aedes aegypti coloquem seus ovos e, consequentemente, fazendo com que tenhamos menos infestação de mosquitos”.

 

“Vale a pena lembrar que os cuidados devem ser feitos em casa, como também no ambiente de trabalho ou escola”, reforça o professor da FCE.

 

MEDIDAS INSTITUCIONAIS – O prefeito da UnB, Valdeci Reis, afirma que a Universidade tem intensificado as ações para impedir o avanço da dengue nos ambientes do campus Darcy Ribeiro. “Em dezembro, a PRC [Prefeitura da UnB] e a Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria de Saúde do GDF realizaram uma inspeção nas unidades do campus Darcy Ribeiro e na Colina, com o intuito de identificar fatores de risco ambiental em vista ao controle vetorial, mais especificamente do Aedes aegypti", menciona.

 

Valdeci explica que durante a inspeção foi realizado o tratamento de depósitos considerados potenciais criadouros de mosquitos, com o uso de um produto natural para o controle de larvas do Aedes aegypti (Natular DT Espinosade). “Destacamos que é essencial, para o efetivo controle de pragas, a ação integrada e apoio das unidades, dando pleno acesso aos locais. Só assim iremos garantir uma vistoria integral dos ambientes da Universidade”, afirma o prefeito.

 

A Universidade de Brasília também tem atuado na proposição de inovações para apoiar o combate à dengue. Uma delas é um aplicativo, desenvolvido pela Sala de Situação (SDS) da Faculdade de Ciências da Saúde, que aumenta o alcance e facilita o trabalho dos agentes de saúde. O SisVetor monitora as taxas de transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti e otimiza a apuração dos dados, sendo capaz de funcionar até mesmo em locais onde não há acesso à internet.

 

O software faz parte do Projeto ArboControl, que tem como objetivo controlar o vetor das chamadas arboviroses (dengue, zika e chikungunya). A iniciativa tem ações em pesquisa; desenvolvimento de tecnologias em saúde; educação, comunicação e informação; além de formação e capacitação profissional. O ArboControl desenvolveu, em 2022, um inseticida natural, testado na Universidade, para eliminar o Aedes aegypti em diferentes estágios de vida, desde o ovo até a pupa.

 

Wildo Navegantes orienta sobre medidas que podem reduzir a disseminação da dengue:

 

 

*estagiário em Jornalismo na Secom/UnB.

 

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