Cota não é esmola, Lei Maria da Penha, Maria da Vila Matilde e o Bom Crioulo. Todos esses conteúdos com forte engajamento na defesa de direitos humanos e diversidade possuem outro ponto em comum: integram a lista dos novos títulos que passarão a ser usados na 2ª etapa do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da UnB, para os subprogramas 2018, 2019 e 2020.
As obras musicais, textuais e visuais divulgadas pelo Decanato de Ensino de Graduação (DEG) foram escolhidas entre centenas de sugestões recebidas por meio de chamada pública. A maioria das cerca de 600 recomendações veio de estudantes, que acabam sendo a parte mais impactada pela reflexão provocada pelas obras.
"Nossa preocupação foi escolher, entre o que foi sugerido em um processo democrático, trabalhos que possibilitem o desenvolvimento e a avaliação de competências e habilidades que possam ser devolvidos à sociedade”, afirma o decano de Ensino de Graduação, Sérgio de Freitas, sobre os critérios utilizados pela comissão na seleção dos materiais. O grupo inclui membros internos e externos à Universidade, representantes das redes pública e privada de ensino e do Governo do Distrito Federal (GDF).
O incentivo à capacidade crítica dos candidatos a ingresso na UnB pelo PAS é um objetivo presente nas escolhas. Tanto na canção de Elza Soares, quanto na de Bia Ferreira, mulheres são protagonistas. Em Maria da Vila Matilde, de Elza, o tema da resistência contra a violência de gênero domina. Já em Cota não é esmola, de Bia Ferreira, as dificuldades de desenvolvimento de uma jovem negra e periférica em meio à sociedade são pano de fundo para o pensamento crítico.
Itens como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a música Tribunal do Feicebuqui, de Tom Zé, já faziam parte do rol de conteúdos abordados no PAS e foram mantidos. Um dos pré-requisitos para que as obras sugeridas pelo público pudessem ser acolhidas era o acesso público, por isso, a lista final traz links e indicações de onde encontrar as referências. Os endereços listados contêm a versão oficial que será considerada pelo Cespe na confecção da prova.
Além de obras com o viés da garantia de direitos, estão na lista divulgada pelo DEG reportagem sobre o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2018, artigo científico sobre os impactos socioambientais do rompimento da barragem de Mariana, em 2015, entrevista sobre inovações da ciência para a indústria, vídeo de um youtuber indígena sobre a diversidade de etnias no país, entre outros.
DINÂMICA DE ESCOLHA – Apesar da predominância do público estudantil, participaram da chamada pública professores e representantes da comunidade em geral. A partir de uma listagem pré-definida, o participante pôde votar pela manutenção, exclusão ou alteração das obras utilizadas, distribuídas em cinco grupos: artes cênicas, artes visuais, audiovisual, música e textos.
A proposta é que as obras possibilitem uso interdisciplinar, que é avaliado pela relação que estabelecem com o maior número de áreas de conhecimento. O grupo de trabalho de revisão de obras – composto por professores das 11 áreas específicas abrangidas pelo PAS – analisa os resultados, verifica o cumprimento dos critérios e encaminha as sugestões de alteração para a comissão.
Depois da escolha, as obras são utilizadas por escolas e cursos como referências na preparação de alunos para a prova. A próxima consulta pública para revisão e atualização de obras do PAS ainda não tem data prevista, mas deve ter foco nos conteúdos utilizados na terceira etapa, já que os da primeira foram discutidos há menos tempo.