INTERNACIONAL

Na terceira sessão pública da Comissão UnB.Futuro, historiador francês analisa as transformações por que passou o ensino superior ao longo dos últimos 30 anos

Foto: Isa Lima/UnB Agência

 

A Comissão UnB.Futuro realizou, na última sexta-feira (12), a terceira Sessão Pública de 2015, com o historiador francês Christophe Charle.

 

Com o tema A crise das universidades no modelo neoliberal, o conferencista apresentou análises dos modelos de financiamento das universidades e as principais tendências de transformação do ensino superior internacional desde 1980.

 

À mesa com Charle, estiveram o reitor Ivan Camargo, o decano de Pesquisa e Pós-Graduação da UnB, Jaime Santana, os docentes Carlos Benedito – do Instituto de Ciências Sociais – e Fernando Oliveira Paulino – da Faculdade de Comunicação –, além do professor emérito Isaac Roitman.

 

O evento foi realizado por uma parceria entre Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação, n-Futuros/CEAM e Embaixada da França em Brasília.

 

Ao abrir a sessão diante de um auditório lotado, o reitor Ivan Camargo frisou a importância do debate, tendo em vista o cenário atual das finanças da educação superior no Brasil. No início do ano, o Governo Federal anunciou um corte de 30% no orçamento das Instituições Federais do Ensino Superior.

O docente francês agradeceu o convite e afirmou que, para ele, a UnB é "uma universidade moderna e original, não somente em sua arquitetura".

Foto: Gabriela Studart/UnB Agência

 

Charle destacou dois processos de massificação do ensino ocorridos no século XX. O primeiro, ocorrido na década de 1960, emergiu exclusivamente nas universidades europeias, economias já consolidadas e que apresentaram uma taxa de desenvolvimento “sólida, porém não exponencial”, conforme Charle.

 

Já o segundo processo foi global, ocorrendo somente em 1980 – mas a uma taxa expressiva – nos países em desenvolvimento. De acordo com Charle, esse movimento foi mais intenso, pois serviu para compensar os atrasos dos países periféricos.

 

Com o aumento do número de estudantes, cresceu também o orçamento das universidades. Assim, as instituições de ensino tiveram de buscar recursos em diversas fontes para manter seu pleno funcionamento e consideraram como opção o setor privado.

 

Grande parte dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) adota o modelo de financiamento público, no qual o governo arca com a maior parte dos gastos com a educação.

 

ESCOLHAS POLÍTICAS – Charle disse ainda que, ao longo dos últimos 30 anos, em países onde o modelo de financiamento privado é adotado, os gastos universitários foram os que mais aumentaram, quando comparados com outros gastos como saúde, alimentação ou habitação.

O docente francês agradeceu o convite e afirmou que, para ele, a UnB é "uma universidade moderna e original, não somente em sua arquitetura".

Foto: Gabriela Studart/UnB Agência

 

No “modelo anglo-saxônico”, por exemplo, o financiamento público girava em torno de 74,5% em 1978 e 20 anos mais tarde correspondia a 55,6% do total das finanças.

 

Enquanto o aporte financeiro público diminuía, a quantia cobrada dos estudantes apenas aumentava. Entre 1981 e 1998, o aumento das taxas de admissão nos países que adotaram este modelo foi da ordem de 224%.

 

O historiador defendeu que “é preciso tirar lições do fracasso do sistema neoliberal” e que tal modelo não é universal. Charle afirmou que no Brasil a experiência é mista, entre financiamentos público e privado.

 

Ele criticou também a forma como os governos determinam quanto de seus recursos públicos serão destinados à Educação e concluiu: “Os estudos são um custo para a filosofia neoliberal. Para mim, a Educação não deve ser considerada como tal, mas sim um investimento”.

 

O reitor Ivan Camargo finalizou a Sessão Pública e destacou que o debate veio em boa hora. O reitor lembrou ainda a recente publicação de um ranking internacional de universidades da América Latina que apresentava notável ascensão da UnB. “quando temos um resultado bom como este, parece que estamos indo na direção certa”, finalizou.

 

Perguntado sobre o que a UnB tem feito para se reinventar nos tempos atuais, o decano Jaime Santana afirmou que “os projetos de pesquisa não podem parar. Entretanto, o Estado não pode financiar tudo. Temos de buscar uma harmonização entre os modelos neoliberal e público. Assim, o Estado também mantém as suas responsabilidades”.

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