CONTRA O BLOQUEIO

Parlamentares de diversas legendas destacaram a importância estratégica da instituição. Em discurso, reitora defendeu liberdade de cátedra e autonomia universitária

 

Deputados da bancada federal do Distrito Federal promoveram, na última sexta-feira (7), uma sessão solene em homenagem à Universidade de Brasília e ao Instituto Federal de Brasília (IFB). No evento, realizado no Plenário da Câmara, parlamentares de diversas legendas reafirmaram a importância da educação técnica e superior pública e pediram a reversão do bloqueio orçamentário imposto pelo Ministério da Educação às instituições.

"Contingenciar, reduzir, bloquear, não importa o verbo, é um sinal de retrocesso civilizatório, que nos coloca na contramão do que vem sendo feito em outros países", observou a deputada Flávia Arruda (PR), que classificou a sessão como um momento de desagravo. Para o deputado Professor Israel Batista (PV), "a universidade nunca foi tão necessária e há de resistir; primeiro, é claro, reconhecendo as críticas e verificando como pode melhorar".

A sessão foi requerida pelos deputados Celina Leão (PP), Erika Kokay (PT), Flávia Arruda (PR), Paula Belmonte (PPS), Paulo Pimenta (PT) e Professor Israel Batista (PV). Erika, que presidiu a atividade, destacou a "construção coletiva" do evento. "Vivenciamos, no país, não apenas uma crise fiscal e econômica, mas uma intenção ideológica que se expressa de várias maneiras e faz com que as escolas e universidades se tornem espaços de vigilância e silenciamento da liberdade de opinião", argumentou.

Paula Belmonte (PPS) brincou com o slogan da campanha institucional da UnB deste ano. "UnB, sua linda, é uma honra ter você em Brasília", disse. Ela – uma das responsáveis por intermediar a reunião da reitora Márcia Abrahão com o ministro da Educação, Abraham Weintraub, no mês passado – disse estar à disposição para auxiliar na interlocução com o Ministério.

Weintraub disse, por ocasião da reunião, que poderia rever contratos de prestação de serviços mantidos pela UnB, como forma de buscar a redução de despesas. "Acho importante saber se esse compromisso dele está sendo cumprido", afirmou a deputada.

DEFESA – Embora a sessão tenha sido organizada pelos deputados, foi aberta a outros integrantes do parlamento. O senador José Reguffe (sem partido) fez sua crítica aos bloqueios orçamentários. "Eu defendo a responsabilidade fiscal e que os governos não podem gastar mais do que arrecadam. Mas não é na educação, que representa o futuro do país, onde o corte deve ser feito", disse.

Fora da cidade, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, teve seu discurso lido por Erika Kokay. "A UnB se tornou uma das principais referências nacionais em educação superior. Apareceu como a oitava melhor do país no ano passado, três colocações acima do que estava em 2017", destacou. Maia também registrou as ações de um grupo de trabalho criado na Câmara, com a participação de ex-reitores de universidades federais, para avaliar o ensino superior brasileiro.

"Tive a oportunidade de vir ao GT criado pelo presidente da Câmara nesta Casa e vi o trabalho sério desenvolvido por este parlamento no assunto", comentou a reitora, que participou, na semana passada, de uma das reuniões do grupo, representando a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

AUTONOMIA Em sua fala, a reitora fez também um retrospecto das contribuições da Universidade para o DF e o Brasil. Lembrou da boa colocação da instituição em rankings nacionais e internacionais, dos efeitos da expansão para além do Plano Piloto – hoje, mais da metade dos estudantes vêm de Taguatinga, Ceilândia e Samambaia – e das contribuições para a inovação.

A reitora mencionou os ajustes feitos em contratos de prestação de serviços nos últimos dois anos e os avanços realizados em termos de modernização e sustentabilidade. Ao final, fez uma defesa enfática da liberdade de cátedra, pensamento e expressão, aspectos "inegociáveis para nossas comunidades". "Outro ponto importante é a nomeação de reitores. É preciso cumprir o que diz a Constituição; não podemos ficar à mercê de governos para isso."

COMUNIDADE – A atividade contou com a presença de diversos integrantes da comunidade acadêmica, entre decanos, dirigentes de unidades acadêmicas e administrativas, professores, técnicos e estudantes. Edmilson Lima, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), falou sobre a importância da UnB para além do DF. "Temos um compromisso gigante com o futuro da nossa juventude e não podemos sofrer ataques deste e de qualquer outro governo", afirmou.

Representante da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), Cláudio Garcia Lorenzo ressaltou a pluralidade de pensamento entre a categoria e a resistência aos cortes. "A resistência pelo fim da educação pública e gratuita vai ser forte. A sociedade brasileira nos dá a mão nessa luta e sempre saímos vitoriosos."

Clarice Machado Menin, coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães, criticou a lógica de financiamento das universidades federais, limitada ao teto orçamentário, lembrando que a UnB tem arrecadação própria. "As universidades não são incentivadas a buscar arrecadação e estão reféns de canetadas."

O ex-reitor da UnB Antônio Ibañez Ruiz chamou a atenção para as características da atual crise, de disputa de narrativas, e para os riscos da ameaça à Universidade. "A UnB é fruto do trabalho e sacrifício de professores, gestores, técnicos, estudantes. Ajudou a construir a potência que é o Brasil, do ponto de vista científico, de capacidade industrial. E tudo isso pode ser perdido", lamentou.

No próximo dia 17 de junho, está programado o lançamento de um fórum de defesa da UnB e do IFB, com participação de parlamentares e de representantes da sociedade civil. Há a expectativa de que o fórum reúna, além de Ibañez, outros ex-reitores da Universidade.

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