A Faculdade UnB Gama (FGA) inaugurou, na quarta-feira (2), seu primeiro Laboratório de Inteligência Artificial, o AI-LAB. A estrutura foi concretizada graças a parceria entre a Universidade de Brasília e o Supremo Tribunal Federal (STF) por meio do projeto Victor, que é destinado a soluções de inteligência artificial para trâmites processuais no Poder Judiciário.
O AI-LAB tem cerca de 85 metros quadrados e dispõe de 28 estações de trabalho, sala de reunião, sala de projetos, espaço de convivência e sala de servidores de processamento paralelo de dados. A estrutura é feita de contêiner, com aplicação de materiais para isolamento termoacústico e climatização em todos os ambientes. O laboratório localiza-se em espaço da FGA que já soma outros laboratórios abrigados em contêineres.
“Com a inauguração do laboratório passamos a ter recursos de infraestrutura e tecnologia para fazer tratamento de big data e aplicação de ciência de dados, além de espaço físico adequado para alunos e professores trabalharem e exercitarem o conhecimento adquirido”, destaca Nilton Silva, o docente da FGA e coordenador do Grupo de Pesquisa em Aprendizado de Máquina (GPAM), que abarca o projeto Victor.
O AI-LAB foi integralmente fomentado pelo STF, por meio de descentralização de recursos para o projeto Victor. O laboratório passa a abrigar integrantes do GPAM, além de pesquisadores de outras unidades vinculadas à pesquisa em inteligência artificial.
O VICTOR – Iniciado em 2018, o projeto Victor é a maior e mais complexa iniciativa de inteligência artificial voltada ao Poder Judiciário brasileiro. O projeto envolve estudantes e docentes da Ciência da Computação, Direito e Engenharia de Software da UnB, em parceria com o Tribunal. A primeira etapa das atividades durou 12 meses e resultou na entrega da ferramenta que já está em operação no ambiente digital do STF.
“Temos muito orgulho dessa ferramenta tão inovadora, 100% desenvolvida por alunos, docentes e pesquisadores da Universidade de Brasília. É a concretização de uma experiência multidisciplinar exitosa, dedicada a resolver problemas concretos da realidade brasileira”, comemora o professor Fabiano Hartmann, coordenador geral do Victor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UnB.
Segundo o secretário de Tecnologia da Informação do STF, Edmundo Santos, a ferramenta tem capacidade para solucionar demandas atualmente operadas por aproximadamente 30 servidores. “Hoje, quando um processo chega ao Tribunal, a equipe tem que ler o documento e identificar de qual tema aquele processo trata, comparando-o a um banco de dados com aproximadamente mil temas. O Victor faz essa mesma tarefa, liberando a equipe para atuar em atividades mais complexas.”
A versão atual do Victor já foi ensinada a reconhecer 29 temas entre os cerca de mil existentes no banco de dados. “Esse 29 temas correspondem a 40% do volume de processos que são devolvidos pelo Tribunal. Então, apesar parecer um número pequeno quando comparado ao tamanho do banco de dados, tem grande impacto em termos de volume processual”, garante Edmundo Santos.
Ele acrescenta que a ferramenta resolve outras demandas. “Um processo judicial é dividido em diferentes documentos, que são as peças. O Victor consegue identificá-las. Isso ajuda o ser humano que depois vai atuar no processo, já que ele não precisa vasculhar o processo inteiro para achar o documento do qual necessita”, detalha o secretário de TI.
Outra tarefa é o reconhecimento ótico de caracteres, convertendo documentos que são imagem para o formato de texto pesquisável. “Isso permite que apenas com a busca textual no computador a pessoa encontre a informação que procura, sem ter que ler processos inteiros quando está executando uma demanda específica”, comenta o servidor do Tribunal Federal.
UnB e STF estimam que, com um ano de operação, o resultado da ferramenta pague todos os custos do projeto, que ficou em torno de dois milhões de reais. Os recursos foram destinados a bolsas de pesquisa para alunos e docente e à criação do AI-LAB. “Nosso objetivo é preparar a ferramenta para estender seu uso a todos os tribunais do país. Se dentro do STF o benefício é enorme, esse resultado cresce exponencialmente com a expansão”, vislumbra Edmundo Santos.
MARCO – O AI-LAB foi inaugurado durante cerimônia que reuniu pesquisadores e representantes da UnB e do STF no auditório da Faculdade do Gama. Mestranda em Direito, Roberta Zumblick participa do Victor desde o início da pesquisa.
“O projeto foi um divisor de águas na minha vida acadêmica. Pude aprender na prática sobre essa área, que é tão nova no Direito e assusta tanto as pessoas. O contato com pesquisadores de outras áreas abriu minha cabeça”, conta a acadêmica do PPGD. “Nosso compromisso agora é levar esse conhecimento para o mundo jurídico e desvendar mitos em torno da área”, completa.
Estudante do oitavo semestre de Engenharia de Software, Felipe Borges confessa que jamais imaginou que "teria uma oportunidade assim durante a graduação”. Junto com outros colegas, ele contribuiu no desenvolvimento do software, da inteligência artificial em si e do processamento de dados. “Atualmente o que se tem de cursos nesse campo está muito focado em como se modela a inteligência artificial e como se faz o computador aprender. Colocar essa solução num produto e fazê-lo rodar é um diferencial acadêmico e profissional enorme”, compartilha o universitário.
Para o vice-reitor Enrique Huelva, “propor soluções de modernização da governança na administração pública” é um dos desafios da instituição, dada sua localização na capital do país. "O projeto Victor é uma referência por reunir a colaboração multi e interdisciplinar dentro da instituição e efetivar a construção conjunta com um parceiro externo desde o início do projeto, e não apenas quando se tem a solução pronta”, avaliou Huelva.
Augusto César Brasil, diretor da UnB Gama, lembrou que a faculdade tem como marca “um grande desenvolvimento em pesquisa e inovação, avançando mais rápido do que é possível consolidar em termos de estrutura física”. Para o gestor, a inauguração do AI-LAB celebra um trabalho de ponta feito na Universidade. “Não temos dúvidas de nossa extrema capacidade em continuar gerando conhecimento e novos processos. Queremos evoluir propondo soluções para a sociedade.”
Para o diretor a Faculdade de Direito, professor Mamede Said Maia Filho, “a Universidade está atenta a questões candentes da sociedade, já que os dados do congestionamento e da morosidade na área judiciária mais que impõem a necessidade de utilizar novas tecnologias para prestação de serviços”. Ele destacou o potencial do impacto do Victor em benefícios para os cidadãos.
O docente Nilton Silva expressou o "agradecimento da UnB ao STF e também à Finatec, que é a gestora do projeto e parceira fundamental em todo o processo". Segundo ele, todo o equipamento e mobiliário do AI-LAB está previsto para chegar até o fim de outubro, incluindo servidor de ponta para processamento paralelo de dados. "Inauguramos uma nova fase para as engenharias do Gama e para toda a UnB em termos de desenvolvimento de projetos de inteligência artificial", crê.